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Pietro Costa: 'Engane-me se for capaz'

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Pietro Costa

Engane-me se for capaz

Pra aperceber a contento as nuances, sutilezas e artimanhas de uma mente psicopática, é mister dispor de uma sanidade mental ímpar e um fôlego emocional olímpico, com o fito de, se não possível transpor, ao menos conseguir um pequeno vislumbre do horizonte simbólico além do abismo gnoseológico e axiológico.

O reconhecimento da ideia central que ordena e coordena o processo cognoscitivo da mentalidade em questão, portanto, pressupõe a leitura de seus referenciais explícitos e, sobretudo, dos inconfessáveis (implícitos), podendo ser sintetizada em uma frase:

Acuse peremptoriamente os seus adversários daquilo que corresponde ao que você ordinariamente faz, isto é, MINTA.

Como desdobramento prático inafastável dessa concepção filosófica que enaltece a mentira, é licito distorcer fatos, dizimar reputações e biografias, e assim impressionar as pessoas de turva visão crítica, que a causa por você defendida é tão eticamente intocável, sublime e socialmente superior que é mais do que meramente justa, sendo, na percepção do olhar incauto, autojustificante, autorreferente, não podendo sequer afigurar objeto de indagação.

Como metodologia, tem-se o manejo de recursos erísticos como espetaculosa encenação teatral; simulação de falso entendimento; fingimento e cinismo histéricos de que você é o oprimido, que encarna a maior vítima das mais atrozes injustiças e sabotagens.

A mentira tem lábios repulsivos, seduzindo e atraindo apenas a puberdade do saber e sentir.

A rigor, a mentira grassa em todo o reino natural.

Algumas plantas possuem flores similares a vespas fêmeas para atrair os machos e, pois, a polinização. Os primatas ostentam o hábito de enganar os companheiros para auferir vantagens.

Já o ser humano pode vir a mentir para angariar lucro, poder, dinheiro, conquistas amorosas, etc.

A mentira, nessa ordem de raciocínio, pode ser fisiológica ou patológica, conforme a psicologia e psiquiatria. Nessa segunda categoria se subsumem as situações em que o mentiroso visa a obter benefícios em detrimento de alguém, prejudicando pessoas.

Charles Dike, psiquiatra forense e professor de psiquiatria da Yale University School, assevera que o mentiroso patológico pode se tornar um prisioneiro de suas mentiras, e a personalidade desejada do mentiroso patológico pode sobrepujar a sua verdadeira personalidade.

Via de regra, o mentiroso patológico estabelece interações superficiais, desvinculando-se das pessoas que não mais servem aos seus propósitos, ou seja, que deixam de lhes ser úteis.

Segundo Catalán, 2006, o hábito arraigado de mentir fantasticamente pode refletir um Transtorno de Personalidade que alguns autores chamam de “pseudologia fantástica”, que seria marcado por uma compulsão a fantasiar uma vida fictícia para causar grande mobilização e perplexidade em outras pessoas, outros autores denominam de Síndrome de Munchhausen.

Diz Ballone, em Sobre a Mentira (www.psiqweb.med.br), que a inclinação impulsiva para a mentira traduz uma expressiva vontade de ser admirado, de ser dignitário de apreço e amor pelos demais, de modo a pressupor expressiva insatisfação com a real e medíocre condição existencial.

Ademais, a mentira também perfaz uma das características verificadas no Transtorno Social da Personalidade (Personalidade Psicopática). Ballone afirma que é neste transtorno que a mentira é empregada de forma mais aprofundada pelo seu emissor, e nem sempre ela é possível ser identificada pelos destinatários. Há consciência da mentira e uma ausência total de senso de proporções, do que resulta enganar as pessoas e até simular sensações e situações, como arrependimento, tristeza e até o ato de chorar, segundo a conveniência.

Por fim, há a mentira obsessiva compulsiva, também denominada mitomania, caracterizando a intenção de encobrir verdades dolorosas que infligem sensação de vergonha. Um bom exemplo é o personagem interpretado por di Caprio no filme “Prenda-me se for capaz.” O filme é inspirado na trajetória de Frank Abagnale Jr., que enganou uma companhia aérea, fingindo ser um piloto profissional, e logrou se passar por médico e advogado.

Psicopatas e mitômanos, infelizmente, ocupam diversos espaços na política. No exercício do cargo, na articulação com as instituições e instâncias da sociedade, o uso das suas prerrogativas se move pelas razões inconfessáveis de fomentar a violência, o radicalismo, a cisão social, para dar guarida a ambições individuais e narcísicas, bem alheias a uma desejável postura republicana de razoavelmente representar os lídimos anseios sociais.

São os artífices do engano, das grades que encerram e cercam as ilusões dos adeptos de sua causa. Aprisionam sonhos e possibilidades. São que se vangloriam de pretensos atributos e feitos próprios de personalidades excepcionais, de inexcedível grandeza, enquanto, na verdade, seduzem corações pueris da irrefletida multidão por meio de uma enganosa aparência de virtude e de falsa condição de vítima.

São os que estrepitosamente irão clamar por socorro e reparação urgentes até que TODA a divergência seja permanentemente repreendida, punida, silenciada e sepultada.

O debate político nacional carece de mais sobriedade e sensatez, porque falta conhecimento e avultam a ignorância, a mediocridade, a mentira, a agressividade forjada como discurso politizado e a fofoca delineada por contornos de verdade e informação confiável. Que a verdade passe a alcançar os “trending topics” e que o senso crítico viralize em “hashtags”.

É o conhecimento que tem o dom de libertar o ser humano das mentiras e enganos, das ciladas e engodos, próprios e alheios. Torne-se capaz de não se render, de súbito, açodadamente, à suposta coerência e veracidade de tudo que lhe é dito, prometido, argumentado. Conteste, comprove, certifique-se da validez e credibilidade dos referenciais do discurso, antes de corroborá-lo.

 

Pietro Costa

pietro_costa22@hotmail.com

 

 

 

 

 

Pietro Costa
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