Aquelas palavras caíram sobre seu pai como um raio e destroçou o seu coração.
– Ah, meu querido você conversa com ele novamente; mas tenha calma e quem sabe ele muda de ideia.
E os dias foram passando e entraram semanas e meses e aquela conversa já estava ficando cansativa e pesarosa.
Um dia pela manhã, ao notar a ausência do Arthur na mesa do café, seus pais resolveram ir ao seu quarto e tinha apenas um bilhete na cama:
– Cansei das conversas e resolvi me mudar e vou morar na cidade com mais quatro amigos e vou curtir a minha vida, usando as minhas economias, mas não se preocupem, pois quando der eu virei visitá-los.
Foi um choque para os seus pais e, principalmente, para sua mãe, porque ela sabia que as suas economias não eram muitas e que, logo, logo ele precisaria de um socorro.
Mas do outro lado lá estava Arthur todo feliz, juntamente com Fred, o Paulo Ted e o Cacau.
– Enfim livre! Poderei fazer tudo o que quiser e sem cobranças.
Mas seus amigos nem imaginavam que a preguiça era companheira do Arthur.
Ao levantarem pela manhã, todos arrumavam suas camas e preparavam os cafés, faziam o almoço e o Arthur continuava dormindo e quando o chamavam a frase que ouvia repetidamente era mesma:
Até que um dia resolveram fazer uma reunião.
– Artur, qual é a sua?
– Você não faz nada dentro de casa e todo mundo aqui faz tudo e para que não fique nada sujo, ainda precisamos fazer a sua parte também e , agora, arrumamos emprego e como é que vai ficar?
– Relaxa, Fred, e você também Paul, pois o pior eu faço que é dar a maior parte do dinheiro para as despesas. Acorda mais cedo deixem tudo pronto.
– Mas não é por isso que você vai explorar a gente!
– Até você, Cacau!
– Eu tenho uma ideia para vocês :
-A partir de hoje vocês fazem tudo e eu arco com as despesas e o que vocês receberem é só para as suas farras.
E assim Fez o Arthur e o tempo foi passando e ele só gastando, gastando e não fazia nada.
Até o prato da mesa ele não retirava e dizia que quando desse ele iria lavar.
Na fazenda, seus pais ficavam preocupados porque ele não dava notícias e nem adiantava esperar por ele no Dia das Mães, Dia dos Pais e tampouco no Natal, no Ano Novo e no Dia de Ação de Graças, porque ele dizia a mesma frase:
-Quando der eu vou.
E o Arthur estava na gandaia.
Então, seus pais tiveram que tomar certas providências porque, afinal, os negócios da fazenda não podiam parar e havia entre todos os trabalhadores, um jovem muito esforçado que passava horas e horas pesquisando a respeito das terras e tudo que ele achava de interessante para a produção mostrava ao pai do Arthur e muitas das ideias dele seu pai colocava em prática.
Um dia, o senhor Alfredo perdeu o sono e começou a pensar naquele jovem estudioso e promissor e pela manhã conversando com a Dona Aurora, disse:
– Querida, a nossa realidade é uma só: o nosso filho não quer nada com a nossa fazenda, os nossos negócios e só pensa em gastar. Eu sei até que você manda dinheiro escondido para ele e isso não é bom. Eu venho observando um jovem na fazenda e você acredita que todas as ideias que ele me tenho posto em prática e isto tem trazido um bom lucro para nós e estou pensando em prepará-lo para cuidar dos nossos negócios?
-Querido, você sabe o que é melhor para nós e a sua decisão eu vou acatar.
Ao cair da tarde, o jovem Francisco ao chegar perto do seu patrão teve a grande notícia de que iria estudar a fim de aprender novas técnicas que beneficiassem a fazenda.
O jovem Francisco agradeceu e partiu muito feliz para os estudos e todos os finais de semana ele vinha até a fazenda e deixava a todo o organograma a ser aplicado durante a semana inteira e esta foi a forma que ele encontrou para que o seu esforço não parasse no meio do caminho e que a fazenda pudesse continuar no rumo em que estava.
Com o passar do tempo formou-se voltou à fazenda, efetivamente, como Engenheiro Agrônomo.
Enquanto isto, Arthur continuava na sua vidinha de sempre, porém mais velho e agora sozinho, pois até os seus amigos não aguentaram sua companhia e humilhação.
Arhur era um verdadeiro encosto.
Só pensava em si mesmo
Sua vida virou uma mesmice.
Arthur não tinha namorada porque elas se afastavam dele quando sabiam como ele era.
Enquanto isto, o Francisco assumiu os negócios da Fazenda e ia de vento em polpa e tinha seu salário de Engenheiro Agrônomo, melhorando ,com isto, a vida de seus velhos pais e de suas três irmãs.
Um dia..
Surgiu uma pandemia e o Sr. Alfredo e Sra. Aurora ficaram muito doentes e escreveram a Arthur e ao receber ele pensou consigo que poderia ser uma simples gripe e não passava de mais um fricote de seus pais e os ignorou, como sempre, enviando-lhes um bilhete, apenas, dizendo: – Quando der eu vou.
E a doença dos seus pais se agravava a cada dia mais e mais e eles mandaram chamar um tabelião e redigiram um testamento.
Algumas semanas depois, ambos faleceram, praticamente, no mesmo dia e o próprio cartório procurou pelo Arthur para que o testamento fosse aberto.
Arthur levou um choque ao tomar conhecimento do falecimento de seus pais, pois sentiu-se culpado, mas, por outro lado, sabia que ali seus problemas, enfim, teriam terminado porque ele iria vender a fazenda e ficar com todo dinheiro para fazer o que bem entendesse e não via a hora do testamento ser lido.
No dia designado pelo cartório, para sua surpresa, ao entrar na sala onde o testamento seria lido, lá estava um jovem que Arthur desconhecia e, então, cheio de si, logo perguntou ao tabelião :
– Não deveria ser, apenas, eu a estar nesta sala, juntamente com o Senhor? O que faz esse estranho aqui no meio de nós?
Aquele senhor de semblante fechado, óculos pesado de leitura, olhou para ele por baixo dos óculos e falou:
– Apenas, sente-se, meu rapaz, e logo saberá, pois daremos início à leitura do testamento.
“Eu, Alfredo Quintanilha e minha esposa Aurora Quintanilla, em perfeitas sanidades mentais, sabedores de que a nossa hora se aproxima resolvemos fazer esse testamento, desautorizando que haja recursos pela parte não beneficiada, onde reza que todos os nossos bens móveis e imóveis sejam entregues ao Jovem Fabrício Lemes, pois ele fez por nós tudo o que um filho deveria fazer para seus pais, estudando, formando-se em Engenheiro Agrônomo, custeado por nós e vem, incansavelmente, cuidando de nossa fazenda e de nossos negócios, dando-nos grandes alegrias e lucros e, ainda, como pais abandonados declaramos destituído de filho legítimo e de todos os nossos bens o Sr. Arthur Quintanilha o qual nos dizia apenas a frase “Quando der eu vou”.
E aquele Senhor do semblante fechado deu por encerrada a sessão.
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Autora:Poetisa Sandra Albuquerque
Rio de Janeiro,19 de março de 2021.
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