Marcelo Augusto Paiva Pereira: ‘ARQUITETURA ORGÂNICA: A FLUIDEZ DO DESENHO’
A arquitetura orgânica como a conhecemos foi desenvolvida pelo arquiteto norte-americano Frank Lloyd Wright (1867–1959), que criou o arcabouço principiológico dessa vertente arquitetônica. O presente texto abordará, mesmo superficialmente, as características da referida, como abaixo segue.
Do conceito de orgânico
A palavra “orgânico” é utilizada há muito tempo na arquitetura. Michelangelo, no século XV, afirmou que não se compreenderá a arquitetura quem não conhecer profundamente a anatomia humana. Giorgio Vasari, em obra de 1568, fazia menção expressa da arquitetura orgânica, que para ele deveria aparecer como um corpo humano para comunicar os essenciais valores espirituais. Carlos Lodoly, no século XVIII, afirmava ser todo tipo de decoração interior, com origem nas formas da natureza.
A ideia de arquitetura orgânica esteve vinculada às formas da natureza e humanas, destas dependendo as medidas e as relações de proporção entre os componentes (cabeça, tronco e membros). Frank Lloyd Wright acolheu, mesmo parcialmente, esta ideia.
Da arquitetura orgânica de Frank Lloyd Wright
A arquitetura orgânica por ele desenvolvida teve origem no período (1887) em que trabalhou no escritório dos arquitetos Adler e Sullivan, na cidade de Chicago. Ao lado de Sullivan ele conheceu os princípios de engenharia que faziam uso do aço e do concreto (novos materiais de construção).
Instruído com as novas técnicas construtivas da época, Frank Lloyd Wright montou seu escritório em “Oak Park”, subúrbio de Chicago, e lá permaneceu até 1909. Foi para Berlim (Alemanha), mas retornou aos Estados Unidos e se instalou com a mulher e os filhos na casa onde nasceu. Ele a ampliou e a batizou com o nome galês de “Taliesin” (cume brilhante).
No início da carreira ele criou o estilo pradaria (“prairie style”), com o qual suprimiu a ideia de “caixa” na arquitetura. Ao projetar seu escritório em “Oak Park”, elaborou-o com espaços fluidos entre o vestíbulo e as salas de estar e jantar, que eram espaços distintos, mas agrupados. Também criou um efeito de luzes artificiais batizado de “moonlight”, que iluminava a casa à noite.
Após reformar a casa onde nasceu (“Taliesin”), dela fez residência, estúdio e fazenda e a transformou num lugar voltado para a arquitetura, arte e agricultura. Do envoltório natural (área rural) fez total partido em cada estação do ano.
Ao longo da atividade profissional, criou o arcabouço principiológico da arquitetura orgânica, constituído por sete princípios, os quais abaixo seguem:
- Continuidade: é a fluidez do espaço e dos materiais. Há dois tipos de continuidade: a espacial e a formal. Pela primeira, ocorre a “Destruction of the Box” (destruição da caixa), em que são eliminadas diversas paredes entre os ambientes internos e entre estes e o exterior do edifício; o efeito é a confusão entre os limites do espaço construído e a paisagem ao redor da obra. Pela segunda, os elementos estruturais e estéticos do edifício devem formar uma unidade indivisível, íntegra;
- Escala (ou Proporção): princípio intrínseco ao da Continuidade Espacial, propõe uma nova relação de escala com a paisagem, em que nova proporção e simetria devem servir à destruição da caixa (“Destruction of the Box”), dissolvendo os limites entre o edifício e o entorno;
- Integridade (ou da Unidade): especificação do Princípio da Continuidade Física, as partes que formam o edifício devem se integrar em uma unidade indivisível. Caracteriza-se pelo uso do módulo na relação estrutural e espacial entre os elementos do edifício e pela relação espacial com o entorno (paisagem). O módulo serve de sistema de proporções para atribuir a unidade indivisível à estrutura do edifício com os espaços internos e a ele externos;
- Plasticidade: é a percepção que se tem da continuidade física (ou da integridade) do edifício. Relaciona-se com a fluidez do espaço e dos materiais;
- Natureza dos Materiais: a natureza (ou origem) indica as propriedades (características) dos materiais e suas qualidades; cada material tem a própria fluidez (propriedades) e esta resulta em um comportamento (material frágil ou dúctil, por exemplo);
- Gramática dos Materiais: é o conjunto de regras definidoras do projeto, com as quais torna homogêneo o discurso estrutural e estético do projeto e do edifício;
- Simplicidade: este determina que não deve haver elementos estranhos às regras definidoras do projeto. Deverão estar ausentes os elementos que não as compuser.
Da Conclusão
A arquitetura orgânica criada por Frank Lloyd Wright vincula-se à ideia de fluidez dos espaços em continuidade entre os do edifício e os externos a ele. A modulação que faz dos espaços não tem relação com as proporções humanas (como no período renascentista, por exemplo), mas com proporções dimensionadas para atribuir continuidade e integridade aos espaços e à plasticidade com que os percebemos. Essa modulação (ou sistema de proporções) depende da natureza e gramática dos materiais e da simplicidade do projeto.
Em suma, a arquitetura orgânica é a fluidez do desenho porque ela orienta o projeto no sentido de continuar os espaços internos em direção aos externos, integrando-os sem que as pessoas façam a distinção entre o interno e o externo. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira
(o autor é aluno de graduação da FAUUSP)
Fontes de Pesquisa
WWW.FAU.USP.BR. Disponível em: http://www.fau.usp.br/cursos/graduacao/arq_urbanismo/disciplinas/auh0313/Zevi_1945.pdf. Acessado aos 30.01.2016.
WWW.IAU.USP.BR. Disponível em: http://www.iau.usp.br/pesquisa/grupos/nelac/wp-content/uploads/2015/01/ARTIGO-2.pdf. Acessado aos 29.01.2016.
WWW.PORTALARQUITETONICO.COM.BR. Disponível em: http://portalarquitetonico.com.br/frank-lloyd-wright/. Acessado aos 28.01.2016.
WWW.AU.PINI.COM.BR. Disponível em: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/168/artigo73554-2.aspx. Acessado aos 28.01.2016.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.