O historiador Carlos Carvalho Cavalheiro discorreu sobre a vida de João de Camargo e, em especial, sobre o processo criminal de 1913, descrevendo detalhes da atuação tanto do promotor público quanto do advogado de defesa
Magistrados e servidores participaram ontem (22), da visita telepresencial ‘Memória TJSP’ – desta vez em homenagem à 10ª Região Administrativa Judiciária (10ª RAJ) do Tribunal de Justiça de São Paulo, com sede em Sorocaba. Lançada no mês passado, a visita ‘Memória TJSP’ percorrerá virtualmente as 10 RAJs do estado com o objetivo de levar cultura e rememorar os acontecimentos que marcaram a história do TJSP.
O juiz diretor da 10ª Região Administrativa Judiciária, Hugo Leandro Maranzano, apresentou ao público a RAJ homenageada do mês. “Sorocaba é 10ª RAJ, sede da 19ª Circunscrição Judiciária, mas a região integra ao todo quatro circunscrições. Temos 27 comarcas, 35 cidades e 55 prédios; são 88 magistrados atuando na região, 1.981 funcionários e 1.171.879 processos. Estes números expressivos ressaltam o gigantismo do nosso Tribunal, algo absolutamente inegável. Por isso, será uma riqueza conhecermos a história do interior de São Paulo assim como conhecemos a da Capital”.
Depois foram apresentados dois depoimentos especiais. No primeiro, o desembargador Roque Antonio Mesquita de Oliveira abordou a trajetória – vida e obra – do ministro Piza e Almeida, que dá nome ao fórum de Sorocaba. Em seguida, o professor e historiador Carlos Carvalho Cavalheiro falou sobre João de Camargo, nascido escravizado, liberto após a Lei Áurea e criador da Igreja do Bom Jesus do Bonfim da Água Vermelha, considerado um dos mais importantes personagens da história do município.
João de Camargo foi um curandeiro negro que viveu em Sorocaba. Em 1913 ele foi processado por curandeirismo, sendo absolvido pelo Júri de Sorocaba. Esse processo foi amplamente estudado por diversos pesquisadores. João de Camargo ajudou a criar um território em que as manifestações culturais e religiosas negras e caipiras puderam sobreviver longe da perseguição policial e do preconceito que perdurava naquela época.
O historiador Carlos Carvalho Cavalheiro discorreu sobre a vida de João de Camargo e, em especial, sobre o processo criminal de 1913, descrevendo detalhes da atuação tanto do promotor público quanto do advogado de defesa. Cavalheiro lembrou, ainda, o contexto em que o processo se originou, momento em que havia uma certa suspeição sobre movimentos religiosos que poderiam se converter em rebeliões messiânicas a exemplo de Canudos (1897) e Contestado (1912 a 1916).
Carlos Carvalho Cavalheiro é Mestre em Educação pela UFSCar, Licenciado em História pela UNISO, professor de História da rede pública municipal de Porto Feliz. É colaborador dos jornais ROL (Região On Line) e Tribuna das Monções, além do Portal Marimba Selutu, de Angola. É acadêmico correspondente da FEBACLA (Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes).
Para encerrar a visita, a desembargadora Luciana Almeida Prado Bresciani coordenadora do Museu do TJSP, comemorou a realização do evento. “Emocionei-me assistindo aos vídeos produzidos para este evento, portanto agradeço a cada um dos expositores e todos que se comprometem com a preservação e divulgação de nossa história”. O desembargador Antonio Rigolin também prestigiou o tour virtual e fez uma saudação final a todos. “É uma grande emoção fazer parte deste momento, pois me sinto parte dessa história e sinto orgulho de fazer parte dela. Muito gratificante ver, com saudades, muitos nomes de pessoas queridas em fotos e placas apresentadas nos vídeos. Expresso aqui minha imensa honra e gratidão por poder viver esse momento”, declarou o magistrado.
Participaram ainda do evento os juízes Adriana Tayano Fanton Furukawa, Alexandre Dartanhan de Mello Guerra, Ana Crisitna Paz Neri Vignola, Andrea Leme Luchini, Andrea Ribeiro Borges, Camila Mota Giorgetti, Carla Carlini Catuzzo, Carlos Alberto Maluf, César Luís de Souza Pereira, Daiane Valiati Ballottin Ronsani, Daniela Bortoliero Ventrice, Douglas Augusto do Santos, Emerson Tadeu Pires de Camargo, Francisca Cristina Muller de Abreu Dall’Aglio, Glaucia Cyrillo Pereira, Graziela Gomes dos Santos Biazzim, Helio Villaca Furukawa, Heloísa Helena Franchi Nogueira Lucas, Hugo Leandro Maranzano, José Carlos Metroviche, José Elias Themer, Karla Peregrio Sotilo, Ligia Crisitna Berardi Possas, Luiz Fernando Angiolucci, Margarete Pellizari, Tamar Oliva de Souza Totaro e Tatiane Bataglin Vendramini; além de advogados, servidores e público geral.
Próximas visitas ‘Memória TJSP’
Veja o cronograma de visitas, que ocorrerão sempre às 11 horas. As inscrições poderão ser feitas pelo agendamento virtual.
26/11/21 – Convidada 9ª RAJ – São José dos Campos
25/03/22 – Convidada 8ª RAJ – São José do Rio Preto
29/04/22 – Convidada 7ª RAJ – Santos
27/05/22 – Convidada 6ª RAJ – Ribeirão Preto
24/06/22 – Convidada 5ª RAJ – Presidente Prudente
26/08/22 – Convidada 4ª RAJ – Campinas
30/09/22 – Convidada 3ª RAJ – Bauru
21/10/22 – Convidada 2ª RAJ – Araçatuba
25/11/22 – Convidada 1ª RAJ – Grande São Paulo
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Natural de São Paulo (SP, atualmente reside em Sorocaba. É professor de História da rede pública municipal de Porto Feliz (SP). Licenciado em História e em Pedagogia, Bacharel em Teologia e Mestre em Educação (UFSCar, campus Sorocaba). Historiador, escritor, poeta, documentarista e pesquisador de cultura popular paulista. Autor de mais de duas dezenas de livros, dentre os quais se destacam: ‘Folclore em Sorocaba’, ‘Salvadora!’, ‘Scenas da Escravidão, ‘Memória Operária’, ‘André no Céu’, ‘Entre o Sereno e os Teares’ e ‘Vadios e Imorais’. Em fevereiro de 2019, recebeu as seguintes honrarias: Título de Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça e Medalha Notório Saber Cultural, outorgados pela FEBACLA – Federação dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes e o Título Defensor Perpétuo do Patrimônio e da Memória de Sorocaba, outorgado pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos. É idealizador e organizador da FLAUS – Feira do Livro dos Autores Sorocabanos