Memórias afetivas
Minhas memórias têm sabor de café,
o tom melódico dos clássicos,
o fascínio por sebos e livros antigos
e o perfume inebriante dos novos.
Ao dormir, minha mãe contava histórias,
e minha imaginação aguçava;
As horrendas botas ortopédicas
ao menos a chatice dos meus pés, repararam.
A tabuada e os questionários decorados,
mas tanta coisa fiquei sem entender…
os passeios à beira-mar, o cheiro da maresia
e os deliciosos mergulhos de piscina.
Os meus banhos regados a vinis,
canções que apenas eu apreciava;
refugiava-me em ilusões platônicas
que até hoje me perseguem.
Das bonecas na estante, estáticas,
e eu preferindo as joaninhas e latas;
o varandão com brinquedos espalhados,
e eu ali, no meu mundo de faz de conta.
Aquela antiga máquina de escrever
que eu adorava teclar;
memórias afetivas, retratos
de pessoas que ficaram para trás.
O verde gramado, o canto do bem-te-vi;
cada gostar e paixões; amor e desamores.
Palavras ouvidas, alegres ou doridas;
e tudo o mais que marcou a minha vida.
Minhas memórias, ímpares, sem rima.
Claudia Lundgren
tiaclaudia05@hotmail.com
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