A história de minha avó
Minha avó Maria veio do Nordeste muito jovem. Naquela época as mulheres casavam muito cedo e muitas vezes com uniões arranjadas pela família. Minha mãe contou-me que minha avó Maria nem pôde se despedir dos seus pais, porque seu marido, Antônio, não deixou. Estava muito apressado para embarcar na viagem que o traria ao Acre. Ele, o marido, sonhava em ganhar muito dinheiro como seringueiro, pois havia muita propaganda do governo brasileiro, sobre esse fato. Minha avó trouxe com ela apenas seus dois filhos pequenos e algumas roupas na bagagem.
Na viagem de navio, antes de chegar nas terras do Acre, seus dois filhos morreram de doença desconhecida e minha avó viveu a triste tragédia de ver seus corpinhos jogados na água, sendo esse o ‘enterro’ de seus rebentos amados. Assim, chegou desnorteada e chorando às terras acreanas.
Meu avô foi trabalhar de seringueiro, uma aventura pelas matas, conhecendo feras e as belezas naturais. Seu grande sonho de ficar rico com a extração da borracha e voltar para o nordeste não aconteceu. Ele e minha avó tiveram muitos filhos, mas não vingavam, morriam antes de nascer. Meu pai foi o grande sortudo que conseguiu nascer vivo, após uma promessa de minha avó Maria Coleta a São Raimundo. O nome do seu terceiro filho, Raimundo, foi em homenagem ao santo milagreiro. Meu avô Antônio não durou muito e sucumbiu diante da malária recorrente que contraiu, que é uma febre mortal muito comum da mata amazônica; acontecimento fatídico que deixou minha avó sozinha, com o pequenino Raimundo para sustentar.
Mas, uma mulher nova e viúva não ficava muito tempo solteira por essas bandas naquela época. Logo minha avó casou com outro seringueiro, também viúvo e com três filhos ainda pequenos. Ela achou que teria uma nova chance de ser feliz. Porém, seu novo marido não foi tão bom para o seu filho que, com quatorze anos, saiu de casa por não suportar sua vida naquela nova família. Minha avó ficou novamente muito triste com o ocorrido.
Raimundo jurou que venceria na vida e buscaria sua mãe para morar com ele. Ele não ficou rico, mas depois de alguns anos casou-se e cumpriu sua promessa. Trouxe minha avó, Maria Coleta, para morar com ele. E assim Maria pôde ter alguns anos de vida tranquila nas colônias do Acre trabalhando e mimando a única neta que conheceu, eu. Ela brincava comigo, me contava histórias e mais histórias e dizia-me que estava feliz!
Maze Oliver
mazeoliver1@gmail.com
- O mito de Narciso - 6 de novembro de 2024
- Alma febril - 7 de outubro de 2024
- Soneto para Beethoven - 21 de julho de 2024
Maze Oliver é escritora, blogueira e ativista cultural. Acreana de Rio Branco – Acre. Orientadora Educacional pós graduada pela Universidade Federal do Acre (UFAC). Psicanalista Clínica (CEHIFE). Primeira Presidente e Padroeira da Sociedade Literária Acreana (SLA), membra da Academia Nauta de Letras (ANL), Academia Internacional da União Cultural, Academia Acreana de Letras (AAL), Academia de Letras de São Pedro da Aldeia (ALSPA). Membra de outras associações, academias e vários grupos literários. Doutora H.C. em Literatura pela FEBACLA e Dama Comendadora na Soberana Ordem da COROA DE GOTLAND, entre outros títulos. Possui sete livros publicados, todos no Clube de Autores, na internet. É colaboradora do Internet Jornal e Jornal Cultural ROL, moderadora da Revista Virtual / Blog da SLA. Mais detalhes biográficos em sua página pessoal na Web – Blog da Maze.