Pedro Israel Novaes de Almeida – MORRER SEM MISTÉRIO
Morrer é complicado.
A maioria das pessoas não teme a morte, mas teme a maneira de morrer. É sonho universal morrer dormindo, sem sofrimentos.
No Brasil, milhões de órgãos deixam de ser transplantados, diariamente. Existem mais doadores que doações, pois não raro a família nega a vontade do cidadão, e são poucas as estruturas públicas disponíveis.
Doadores nem sempre manifestam a vontade de doar todos os órgãos. Dependendo do órgão, o cidadão teme que, além de falecer, acabe mal falado.
Viúvas e agregadas evitam anuir ao transplante daquele órgão, pelo temor de continuarem traídas, mesmo após o passamento. Por ser personalíssimo, tal transplante raramente é praticado.
Finados e familiares apresentam crescente interesse e simpatia por cremações. É comum aos finados, em vida, a vontade de ser cremado, junto com seus credores e desafetos.
As cremações estão presentes em poucos municípios, e padarias costumam não fazer tal serviço. A cremação é tendência mundial, e vem sendo cada vez mais praticada.
Deve ser horrível, ao quase finado, imaginar que a família ficará refém do monopólio exercido por funerária, na esmagadora maioria dos municípios brasileiros. Até vivos com baixo risco de morte ficam indignados com a vedação de concorrência, no setor.
Existem finados que prescrevem, em vida, o roteiro dos velórios e enterros. A maioria prefere a cerimônia familiar, sem discursos e regabofe.
Já são raras as carpideiras, portadoras de escandalosos choros e chiliques, regiamente remunerados. Os velórios ainda constituem palco de fechamento de negócios, e início das cobranças à viúva, por dívidas havidas ou inventadas.
Em boa hora, os velórios deixaram os domicílios e são, hoje, realizados em estruturas especializadas, públicas ou privadas. Nos velórios em casa, fica a impressão, na vizinhança, de que o finado parte mas o espírito permanece, preso, na sala.
O lado triste da morte surge quando causada por acidentes, crimes ou hábitos nefastos. A morte natural, por idade ou doença incurável, é mais aceita, quando filhos enterram pais, ordem natural da ocorrência.
O correto seria nascermos com 90 anos, já lentos e alquebrados, e seguirmos vida afora rejuvenescendo, até perdermos a noção de tudo. O difícil vai ser perder a aposentadoria, aos 65 anos !
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.