O ‘PAU NO TEMER!’ SERÁ INÓCUO ENQUANTO NÃO EXTRAIRMOS AS LIÇÕES DA DERROTA E CORRIGIRMOS OS ERROS QUE A CAUSARAM
A reação furibunda contra o novo governo, insuflada pelas mesmas pessoas que tiveram participação decisiva no desastre que foi o segundo mandato de Dilma Rousseff, tende a produzir o mesmo resultado do não vai ter golpe: mais derrota.
Basta uma leitura dos jornalões para percebermos o porquê. Nem mesmo eles morrem de amores pelo Ministério de Michel Temer, mas dão um voto de confiança à nova equipe econômica, elogiando seus integrantes e suas propostas.
Ou seja, evidentemente o poder econômico – aquele que quem não cabulou as aulas de Marx sabe ser o realmente decisivo numa democracia burguesa – está aplaudindo e dará ao Temer o apoio necessário para que a situação da economia já não esteja tão deteriorada no último trimestre, quando o Senado decidirá se Dima deve ser reempossada ou afastada em definitivo.
O desafogo no bolso muda imediatamente o humor dos brasileiros, como se viu na última ditadura: estavam amedrontados em 1969, mas era nítida sua insatisfação com um período de vacas magras que parecia não ter fim e com os que considerava responsáveis por tal penúria.
Bastou uma injeção cavalar de investimentos estadunidenses criar uma efêmera melhora da situação econômica em 1970 para todo mundo sair cantando “eu te amo, meu Brasil, eu te amo!” e exibindo adesivos de “Brasil, ame-o ou deixe-o!” em seus fusquinhas recém comprados a prestação.
Se o povo estiver sentindo-se aliviado depois de tanto miserê, haverá alguma chance de um Senado como esse que está aí votar em sentido contrário quando estiver julgando Dilma? Nem a pau, Juvenal.
Então, em termos práticos, de que servirão todos esses resmungos virtuais contra o novo governo? De muito pouco, evidentemente. Terão sido palavras que o vento leva, desabafos que fazem seus autores sentirem-se melhor mas não alteram a essência dos acontecimentos políticos.
Daí eu considerar que a prioridade real neste momento não é o pau no Temer!, mas sim o vamos forjar uma esquerda de verdade!.
Pois a tradição esquerdista é de, quando sofremos derrotas acachapantes como esta última, irmos fundo nas críticas e autocríticas, até chegarmos às conclusões que se impõem sobre os erros cometidos e as correções de rumo necessárias para que eles não se repitam adiante. Como dizia Einstein, “insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.
Não adiantará nada tentarmos travar batalhas contra o novo governo enquanto nosso exército estiver esfacelado, os altos oficiais forem inconfiáveis e as estratégias e táticas não houverem sido reavaliadas à luz do seu fracasso recente. Temos é de nos preparar bem melhor, se não quisermos perder mais uma vez, e outra, e outra…
Então, a quem me criticou por não estar combatendo a direita quando ela está tão forte, respondo: pior mesmo é estarmos tão fracos e não termos chance nenhuma de a deter neste momento.
Conseguirmos que seja mudado um ou outro nome do Ministério, que tal ou qual Pasta permaneça como tal ao invés de ser incorporada a outra, faz parte do teatro da política, das escaramuças que preenchem o noticiário mas, verdadeiramente, não passam de tempestades de som e fúria significando nada, como diria o bardo. Não se constituem, nem de longe, no fator determinante do fracasso ou sucesso dos governos.
Temos de nos tornar fortes por dentro, antes de sermos capazes de fazer valer nossa força lá fora.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.