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Neusa Bernado Coelho: 'Nação Guarani – Mbya'

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Neusa Bernado Coelho

Nação Guarani – Mbya

Arquivo Neusa – Pintura Rute Cardoso

No passado, o limite territorial indígena era definido e respeitado entre as diferentes etnias existentes no Brasil. Com a chegada dos europeus, teve início o processo de colonização e domínio desses povos que foram perdendo espaço.

O tronco tupi-guarani é constituído de numerosa família linguística, sendo o Mbya, ou embiá, um dialeto da etnia guarani . Inicialmente denominados carijós, foram um dos primeiros povos das terras brasileiras a habitar a costa atlântica, desde a Barra da Cananeia até o Rio Grande do Sul. Concentrados preferencialmente na Mata Atlântica, se estabeleceram entre rios e montanhas, em terras férteis próprias para o plantio.

Símbolo nacional, tema de óperas e poesias, o Guarani carrega consigo a imagem de índio integrado, que fala o português e usa vestes ocidentais. Essa adaptação se deve ao fato de que o Mbyá, integrado à civilização, se viu obrigado a incorporar alguns aspectos alheios a sua cultura milenar.

Superadas as questões de escravização pelas bandeiras de apresamento no século XVI e as doenças que reduziram suas populações, resistiram com estratégias de luta por direitos. Suas vozes ecoaram no Congresso Nacional, e em todos os cantos do País quando as terras conquistadas foram ameaçadas por projetos considerados de risco à sua sobrevivência.

Protegidos por legislações no decorrer das últimas décadas, acompanhados pelo Serviço de Proteção ao Índio e depois pela FUNAI – Fundação Nacional do Índio, foi a Constituição de 1988 que garantiu terra, saúde, educação, costume, língua, crença, tradição, organização social e política aos povos originários. Muitos desses direitos não foram alcançados na plenitude, deixando-os na condição de ‘sem-terra’. A grande conquista, entretanto, é que o povo guarani, ainda mantém a identidade tradicional da sua cultura, resistindo aos desafios sociais, políticos e conflitos econômicos, desde os primórdios da colonização.

Aspectos culturais Guarani

Os Mbya, conhecidos como índios da floresta, se organizam em núcleos familiares de numerosas pessoas. A arte, cultura, educação e espiritualidade, são transmitidas de geração em geração pelos mais velhos, sábios, avós e pais. Uma peculiaridade da família é ensinar aos filhos bondade, viver em harmonia, dividir qualquer coisa com seus pares e com outras famílias. Esses hábitos ancestrais representam a permanência da cultura guarani há 500 anos, embora adaptada aos novos tempos. Os cerimoniais acompanham o desenvolvimento da criança desde o batismo, celebrado pelo curandeiro, que lhe dá o nome. A festividade geralmente ocorre no Ano Novo, comemorado em agosto, época em que acontece a festa do milho, da água e da erva-mate. Outra tradição mantida na aldeia está relacionada às meninas, quando ocorre a primeira menstruação; seus cabelos são cortados, e sob a observação da mãe, fica isolada por dois meses, segundo a lenda, para não ser possuída por espíritos maléficos.

Toda aldeia tem a ‘Casa de Reza’ desempenhando há séculos papel fundamental na cultura guarani. É local de oração, meditação, dança e canto, e onde as crianças aprendem desde cedo a respeitar a natureza, as aves, as plantas medicinais. Nas cerimônias, o cachimbo fumado por homens e mulheres é instrumento de elevação espiritual num ritual para obter paz, coragem, saúde, cura e força para viver bem e feliz, seguido pelo karaí, um canto durante o qual todas as pessoas ficam em pé e dançam juntamente. A dança do txondaro é praticada por protetores e guerreiros, ao som de instrumentos musicais. A colheita e a divindade celestial é celebrada com a dança chamada (djerodjy).

Os hábitos alimentares são baseados na caça, pesca, coleta de mel, frutas, palmito, raízes e sementes da natureza. Outros, são plantados: mandioca, batata, moranga, abóbora, melancia, pepino. O milho é considerado sagrado pelo guarani; dele fazem farofa, pamonha, mingau, bolo ralado na cinza e bebida. O rio tem importância na vida dos povos originários; além do lazer, servem para pescar.

A cultura milenar do artesanato é praticada para uso próprio ou para venda. Na confecção dos cestos, arcos e flechas utilizam madeira e taquara; balaios com desenhos significam amor, e os que não têm significam paz. O colar representa o fortalecimento do espírito. As encantadoras pinturas corporais os distinguem entre as tribos e as famílias, são utilizadas no dia a dia; são diferenciados em rituais comemorativos ou de combate.

Em Santa Catarina, as aldeias Guarani estão presentes em vários municípios. Na região do Massiambu e Morro dos Cavalos, em Palhoça/SC, a primeira presença é documentada em 1576. Atualmente, vivem próximos da sede do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, sobrevivem nas ruas da cidade esmolando ou vendendo seus artesanatos aos turistas. Reclamam da falta do Tekoa, espaço de terras férteis para plantar, rios e florestas para a coleta, pesca e caça.

 

Neusa Bernado Coelho

farmaciadobetinho@yahoo.com

 

Fontes consultadas:

Revista de História da Biblioteca Nacional-Clarice Cohn p.18-21. N.91 de 2013

Revista de História Catarina p.72-82.

Revista-História/SC-Aldo Litaiff, p. 76-78-ed. 46-2012.

Mbya Reko (Vida Guarani). Projeto Microbacias 2, 2006.

 

Neusa Maria Bernado Coelho
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