Medo de sapos
Não sei se é normal ter medo de sapos. Mas eu tenho verdadeiro pavor.
Trabalhava como estagiária em um centro de ajuda a pessoas carentes; uma certa tarde, tive uma indisposição e a minha chefe achou por bem me mandar ao médico; fui e estava com problemas gástricos; me dispensou por três dias.
Jovem e irresponsável, ao invés de ir direto para casa, resolvi ir à casa de uma tia; ela tinha um lindo jardim na parte lateral da casa. Eu, muito abelhuda, me curvei para cheirar uma das flores, que eram da cor violeta – lindas por sinal – e eu, curiosa, me abaixei ainda mais um pouco na intenção de colher uma delas. E para minha surpresa, apareceu sei lá de onde, um sapo preto enorme que pulou em minha direção e…Pá! Deu de encontro a minha testa! Foi uma pancada extraordinária; Mas o medo foi maior, ali mesmo eu desmaiei.
Devo ter gritado ou feito estardalhaço, porque acordei com meus primos e minha tia segurando um pano molhado na minha testa. Quando meus primos moleques brincalhões e desordeiros souberam o que tinha acontecido, correram para o quintal para pegar o Zé. Quem diria! O sapo era um animal de estimação da casa; havia aparecido em um dia de chuva e se abrigado no jardim. Minha tia gritou para os filhos que não trouxessem o Zé para dentro de casa; eles obedeceram, mas continuaram a zombar de mim. Não sei se outras pessoas passaram por situação parecida, mas eu tenho medo realmente. Já passei por psicólogos, fiz terapia e o medo, o pavor, me causa enjoo e até dor de cabeça. Um mal-estar que dura dias. Já passei a casa dos sessenta como dizem, mas o medo continua o mesmo.
Em outra ocasião, já casada, em uma viagem, acampávamos em várias cidades ao longo da estrada. Estivemos em Blumenau e chegamos a um camping. Era tarde para conseguir montar barraca, então aceitamos ficar em um chalé. A primeira coisa que eu vi foram vários sapos amontoados na varanda que dava entrada ao chalé. Congelei! Meu esposo riu e me pegou ao colo, empurrou a porta e me colocou sobre a cama; ali eu estaria segura; e foi lá fora espantar a reunião de sapos.
Estava com vontade de fazer xixi. Criei coragem olhando para todos os lados e fui ao banheiro; e o que estava na frente da privada me deixou desesperada, gritei o mais alto que pude, corri para fora do quarto. Meu marido, todo sem graça, correu atrás de mim pedindo que eu parasse, e eu parei dentro do carro. Dali ninguém ousou me tirar. Passamos a noite dentro do carro. E no dia seguinte pegamos a estrada para outro destino.
Ivete Rosa de Souza
iveterosad@gmail.com
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Natural de Santo André (SP) e ex-policial militar, é uma devoradora de livros. Por ser leitora voraz, para ela, escrever é um ato natural, tendo desenvolvido o hábito da escrita desde menina, uma vez que a família a incentivava e os livros eram o seu presente preferido. Leu, praticamente, todos os autores clássicos brasileiros. Na escola, incentivada por professores, participou de vários concursos, sendo premiada – com todos os volumes de Enciclopédia Barsa – por poesias sobre a Independência do Brasil e a Apollo 11. E chegou, inclusive, a participar de peças escolares ajudando na construção de textos. Na fase adulta, seus primeiros trabalhos foram participações em antologias de contos, pela Editora Constelação. Posteriormente, começou a escrever na plataforma online Sweek a qual promovia concursos de mini contos com temas variados, sendo que em alguns deles ficou entre os dez melhores selecionados, o que a levou à publicação do primeiro livro, Coração Adormecido (poesias), pela Editora Alarde (SP). Em 2022, lançou Ainda dá Tempo, o segundo livro de poesias, pela mesma editora.