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Rafael Venancio: 'Por um Yoga da Psicanálise'

Rafael Verancio

Por um Yoga da Psicanálise

Nas redes sociais, não é difícil encontrar uma plêiade de encontros de saberes. Dois deles, inclusive, são do meu particular interesse, estudo, prática e trabalho: o Yoga e a Psicanálise. E vejo que não sou apenas eu que me coloco na busca desses dois campos.

No entanto, uma coisa me chamou atenção, mais de uma vez inclusive. Não só por colegas falando, mas até mesmo por perguntas diretamente direcionadas a mim. O que seria isso? A ideia de uma busca de uma comparação convergente ou divergente entre as duas práticas.

Da última vez, vi alguém falando sobre uma Psicanálise do Yoga. Ora, não sou contra uma psicanálise ou uma análise psicodinâmica que leve em conta saberes védicos, tais como o Vedanta e a Sámkhya. Pelo contrário, é algo do meu estudo atual!

Porém, falar de uma Psicanálise do Yoga me parece contraproducente. O ideal seria falar de um Yoga da Psicanálise. E é isso que vou ventilar nestas breves linhas.

Vamos começar pela definição das duas práticas.

Yoga, na definição sintética de Patanjali em seu Yoga Sutras, é “o recolhimento das atividades da mente”. A palavra em sânscrito, em si, significa ‘união’.

Psicanálise, na definição sintética de Freud no final de sua autobiografia, é um método terapêutico e uma investigação psíquica do inconsciente.

Com algo grau de síntese, podemos dizer que o Yoga é um dos seis darshanas (escolas filosóficas) tradicionais da sabedoria védica e do Hinduísmo que busca, através de oito práticas, a desconexão com o caos do mundo exterior para a conexão com uma verdade interior. O caminho desse processo seria apaziguar a mente para florir uma atividade intelectual mais superior. As oito práticas que levam a isso são: os yamas e niyamas (abstenções e observações de cunho ético); asanas e pranayamas (posturas e processos de fluxo corporal); pratyahara, dharana e dhyana (atividades meditativas) e samadhi (o resultado final buscado pela prática das sete anteriores).

Já a Psicanálise, com igual grau de síntese, é um método terapêutico interpretativo calcado na associação livre e nas relações de transferência e contratransferência entre analista e analisando. Ela, para seu funcionamento, pressupõe um modelo mental chamado psique que, a grosso modo, é dividido em três setores (consciente, pré-consciente e inconsciente) e em três estruturas de personalidade (ego, superego e id).

Quando estamos falando de Psicanálise do Yoga estamos pegando um modelo e enquadrando essa prática milenar. Com isso, muitos psicanalistas acabam tratando o Yoga como uma religião ou como apenas uma atividade corporal (especialmente por causa da grande ênfase que o Ocidente deu aos asanas como ‘malabarismos fitness’), desvinculando seu trabalho mental ou tratando apenas como elemento do processo psíquico particular ou de um grupo.

Na minha opinião, a situação muda de figura quando falamos de um Yoga da Psicanálise. O nosso foco se torna em entender como a Psicanálise – seja seu método terapêutico, seja sua investigação do inconsciente – se relaciona com as atividades da mente que precisam ser recolhidas, tal como nos diz Patanjali.

Na Psicanálise do Yoga, não há união das duas, apenas superposição que pode ser vista como associativa ou dissociativa. Em Yoga da Psicanálise, há sim uma importante parceria. Há uma união de fato, ecoando o significado da palavra em sânscrito.

Por isso que aquele que veste demais a camisa do psicanalista não consegue ver a importância do yogi. No entanto, o yogi entende a função do psicanalista em um quadro mais amplo.

Quando falamos em ‘recolhimento das atividades da mente’, estamos dizendo que o Yoga não só nos ajuda a focar na nossa verdade interior, nos dissociando dos objetos dos sentidos que nos puxam para longe de quem somos; estamos falando que ele nos ajuda a entender como irmos, de fato, para um caminho do autoconhecimento, de como nossa mente se movimenta.

O Yoga da Psicanálise, assim, entende o quanto dessas atividades da mente são de origem inconsciente e pode recolhê-los e não apenas substituir objetos dos sentidos (tal como muitos psicanalistas propõem). Não é um paliativo, é a busca pelo mais profundo.

Essa proposta da Psicanálise como autoconhecimento é defendida por muitos seguidores de Freud, especialmente Bruno Bettelheim. Foi ele que nos disse que a Psicanálise só nasceu porque Freud desejou se autoconhecer ao analisar os próprios sonhos e atos falhos. Eu, humildemente, trabalho a minha Psicanálise como analista neste sentido, apesar de, no Brasil, sermos minoria.

E eu, como um estudioso da Filosofia da Psicanálise, acredito que o Yoga como Filosofia Védica, pode nos ajudar para um salto mais amplo e efetivo para o autoconhecimento psicanalítico. A própria história me dá razões e certezas que esse movimento é correto.

Afinal, tal como muitos se esquecem, Freud é tributário de Schopenhauer; Schopenhauer, por sua vez, é tributário de um outro darshana védico, a Sámkhya; e esta, por fim, é, para muitos, a base do darshana védico do Yoga.

Isso tudo é assunto para muitos e muitos textos e palestras. Por agora, quero que fique essa sementinha na mente de vocês. Não pensem em uma Psicanálise das coisas, uma Psicanálise do Yoga, mas sim um Yoga da Psicanálise. Busquem o caminho da união com a verdade interior que habita o inconsciente, não o caminho do medo ou de cientificismos vazios e inteligíveis em relação a ele.

 

Rafael Venancio

rdovenancio@gmail.com

 

 

 

 

 

Sergio Diniz da Costa
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