O ano era 1979
Percorria seu novo aparelho celular, escolhendo um toque para as ligações, quando passou pelo som clássico das chamadas telefônicas dos aparelhos fixos dos anos 70 e 80. Aqueles de discar, presos à parede por um fio enrolado, que só servia para enroscar cada vez mais em si próprio. Aqueles, divididos por toda a família, que tinham destaque na sala (sem nenhuma privacidade para os interlocutores, portanto), com uma mesinha só para eles, muitas vezes acompanhada de uma cadeira ou banquinho ao lado. Ah… Pedro Henrique fizera uma longa viagem agora… Fora até o ano de 1979, quando seus pais tiveram o sonho realizado de ver uma linha telefônica instalada em casa! Como custava caro uma linha! Era símbolo de riqueza e integrava o patrimônio de seu proprietário, que passava a ser, também, dono de ações da empresa de telefonia. Aliás, foi nesse dia que ele perguntou a seu pai o que eram ´ações` e (quase) nada entendeu da resposta.
Pedro Henrique voltou suas lembranças para aquele dia! Sua mãe estava felicíssima, pois poderia manter contato com os parentes e amigos, próximos ou distantes. Seu pai, igualmente contente, pegava o gancho do aparelho e simulava a ligação com alguém muito importante e, sua irmã mais nova, disputava aquele gancho para fazer ´caras e bocas`, já ensaiando a pose do próximo aniversário. Ah… porque era assim: tirar fotografias só no aniversário ou em algum evento muito especial. Afinal, o mais difícil nem era tanto poder adquirir a famosa máquina fotográfica, mas conseguir comprar os filmes e fazer a revelação das fotos. Era sempre algo a ser negociado, diante do alto custo. Pedro Henrique queria filmes de trinta e seis poses, pois sabia que quase metade das fotografias, ao ser revelada, mostrava-se imprestável. Sua mãe, todavia, preferia o de vinte e quatro poses, para fazer economia. E, assim, suas festinhas de aniversário eram sempre registradas com filmes de duas dúzias de poses, mas só se aproveitavam, em regra, cerca de quinze fotografias.
E, pensando nisso, lembrou-se que, às vezes, as fotografias chegavam através das cartas, tão aguardadas! Tinham cores, cheiros, selos coloridos, cola grudenta e traziam muitas novidades em seu interior! As ligações telefônicas eram caras e muitos familiares ainda não tinham linha telefônica em casa. Então, para saber de tudo, tudo mesmo, só escrevendo naquele papel fino, pautado, com caneta esferográfica, que ia dobrado em três partes, dentro do envelope mais econômico, aquele branquinho, quase transparente, com detalhes da cor do país. Ah… como aquela espera pela correspondência era ansiada! Isto porque, não se sabia quando uma carta viria e se ela viria! Tudo era envolto em suspense. Como nas ligações: ninguém tinha noção de quem poderia estar ligando, naquele dia, àquela hora… Havia muito charme nisso tudo, pensou, quando foi ´fisgado` de volta para o ano de 2022, por uma ligação de videoconferência que seu chefe fazia, através do computador.
Patrícia Alvarenga
patydany@hotmail.com
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Natural do Rio de Janeiro/RJ, é escritora e poeta. Trabalha como Analista (área processual) do Ministério Público do estado do Rio de Janeiro. É Bacharel em Letras (UFRJ) e Direito (Uerj), pós-graduada em Educação (UFRJ). Dra.h.c. e Pesquisadora em Literatura. É autora do livro de poemas ‘Tatuagens da Alma – Entre Versos e Reflexões’, editora AIL, publicado neste ano, que foi escolhido como semifinalista do concurso ‘Livro do Ano 2021’, pela Literarte (o resultado do certame ainda não foi divulgado até a presente data). Participou do projeto ‘Parede dos Imortais’, na Casa dos Poetas, em Petrópolis-RJ, através da Associação Internacional de Escritores e Artistas. É coautora de, aproximadamente, 25 coletâneas. Detentora de prêmios literários, títulos e comendas, é também Embaixadora da Paz da Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos – OMDDH.
Membra vitalícia de seis academias literárias: ACILBRAS, FEBACLA, AIML, AIL, ALSPA (fundadora) e AILAP (fundadora). É ativista cultural nas redes sociais e participa de inúmeros saraus literários. Redes sociais:
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