O canto do bem-te-vi
Todos os dias me encanta, bem próximo a minha janela. Antes mesmo de abri-la, escuto o canto insistente de um bem-te-vi; bem-te-vi, bem-te-vi cantar para mim. E assim amanheço, com o coração em apreço ao canto do bem-te-vi.
Já notei que durante as minhas orações o bem-te-vi não canta. Talvez saiba que rezo por todos nós, humanos ou não humanos, animais em geral. Até mesmo por ti, meu querido bem-te-vi.
Em minhas preces peço paz; peço a Deus por meus filhos, meus irmãos, e até por meus pais, que já não estão neste plano físico, nesta Terra assolada por tantos temores e terrores. A luz do dia vai batendo na janela, que pede para ser escancarada, seja Sol ou seja névoa do inverno. Ao abrir a janela o bem-te-vi já adivinhou que estou lhe ouvindo.; e do outro lado, bem longe, outro bem-te-vi, que responde ao canto do primeiro. Assim, passam as horas, o bem-te-vi se vai; talvez cantar para outro que o ouça, e que se comova com seu cantar.
Eu amo a vida, amo estar viva e ter ouvidos para escutar a sinfonia matinal do bem-te-vi. O dia passa, e outros sons invadem o dia; sons de outros pássaros, de crianças apressadas, de carros ou de alguém a buzinar, ferindo o canto dos passarinhos.
Sou apenas humana, não tenho o dom de cantar; apenas sei ouvir a doce melodia do vento, o bater de asas dos pombos, que vêm ao meu quintal à procura de alimentos; e eu os alimento, jogo farelos de milho; eles comem e partem em revoada.
Existem árvores ao redor de casa; por muitas vezes vi um grande número de periquitos; deveria haver uma centena deles. Pousaram em uma árvore ao lado do muro de casa; ali, aos pares, faziam chilreado barulhento; são lindos os casais colorindo os ramos da frondosa árvore.
No verde-escuro, enfeitam com suas penas verde-água e amarelo; alguns têm no pescoço penas cores de laranja e avermelhadas. Gosto de vê-los, mas não se comparam aos bem-te-vis das manhãs. Meu coração responde silenciosamente: bem-te-vi, te agradeço por cantar para mim. E sei que ao acordar e fazer minhas orações, vou continuar pedindo a Deus que proteja a natureza, os animais e que façam os humanos amanhecerem agradecidos por terem olhos para ver os pássaros colorindo o Céu e ouvidos para ouvir a doce canção de outros bem-te-vis.
Ivete Rosa de Souza
iveterosad@gmail.com
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Natural de Santo André (SP) e ex-policial militar, é uma devoradora de livros. Por ser leitora voraz, para ela, escrever é um ato natural, tendo desenvolvido o hábito da escrita desde menina, uma vez que a família a incentivava e os livros eram o seu presente preferido. Leu, praticamente, todos os autores clássicos brasileiros. Na escola, incentivada por professores, participou de vários concursos, sendo premiada – com todos os volumes de Enciclopédia Barsa – por poesias sobre a Independência do Brasil e a Apollo 11. E chegou, inclusive, a participar de peças escolares ajudando na construção de textos. Na fase adulta, seus primeiros trabalhos foram participações em antologias de contos, pela Editora Constelação. Posteriormente, começou a escrever na plataforma online Sweek a qual promovia concursos de mini contos com temas variados, sendo que em alguns deles ficou entre os dez melhores selecionados, o que a levou à publicação do primeiro livro, Coração Adormecido (poesias), pela Editora Alarde (SP). Em 2022, lançou Ainda dá Tempo, o segundo livro de poesias, pela mesma editora.