maio 20, 2024
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A porta

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Sergio Diniz da Costa: Conto ‘A porta’

(Contos da adolescência)

Sergio Diniz
Sergio Diniz
Uma porta misteriosa, semiaberta
Uma porta misteriosa, semiaberta
Microsoft Bing – Imagem criada pelo Designer

Todos corriam em direção à porta semiaberta. Dia e noite era sempre a mesma coisa, a mesma correria frenética, incontrolável.

Era gente que perguntava, gritava, implorava para ter sua passagem livre àquele lugar de procura, de angústia e de incerteza.

O que haveria atrás dela? Ninguém sabia, mas todos a procuravam. E a cada dia, mais pessoas chegavam àquela passagem enigmática.

Loucas correrias. Pessoas que caiam e não mais se levantavam. Os mais fortes subjugavam os mais fracos; os mais ricos esmagavam os mais pobres. E tudo, para ter o privilégio de ser o primeiro a transpor o enigma indecifrável. Diante desses fatos, os fracos e os pobres ficavam sempre por último.

Uma multidão acabou se prostrando diante da porta. Em seus rostos via-se o estigma deixado pelo supremo esforço. Rostos encarquilhados, faces emaciadas pela energia gasta na terrível batalha competitiva.

Alguém, do meio da turba, reunindo suas últimas forças, sobressaiu-se e, caminhando em direção à porta, abriu-a. A multidão, arrefecida pelo cansaço, adquiriu novo alento e arremessou-se pelo portal adentro.

Todos cometeram, porém, o mesmo engano: na pressa, ninguém se lembrou de levar alguma coisa consigo, e no interior da porta não havia luz, somente o silêncio de um sepulcro violado.

O terror começou tomar conta daquela gente. Um frio seco se infiltrou no sangue de todos, que passaram a procurar agasalhos e, como nesse local não os havia, os mais fortes atacaram os mais fracos e os mais ricos compraram dos mais pobres.

Ao fim de algum tempo, os mais fracos e os mais pobres pereceram. O frio, no entanto, continuava intenso. E manifestou-se a fome. E não havia alimentos.

Pressionados pela fome, os que restaram começaram a negociar. Entretanto, por mais soluções que tentaram encontrar, nada apagou a lembrança do alimento. Desta forma, como por um acordo tácito, os sobreviventes começaram a se devorar. E, no final, não restou ninguém, pois o último homem se autodevorou.


Sergio Diniz da Costa


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Sergio Diniz da Costa
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