Sergio Diniz da Costa: Conto ‘A porta’
(Contos da adolescência)
Todos corriam em direção à porta semiaberta. Dia e noite era sempre a mesma coisa, a mesma correria frenética, incontrolável.
Era gente que perguntava, gritava, implorava para ter sua passagem livre àquele lugar de procura, de angústia e de incerteza.
O que haveria atrás dela? Ninguém sabia, mas todos a procuravam. E a cada dia, mais pessoas chegavam àquela passagem enigmática.
Loucas correrias. Pessoas que caiam e não mais se levantavam. Os mais fortes subjugavam os mais fracos; os mais ricos esmagavam os mais pobres. E tudo, para ter o privilégio de ser o primeiro a transpor o enigma indecifrável. Diante desses fatos, os fracos e os pobres ficavam sempre por último.
Uma multidão acabou se prostrando diante da porta. Em seus rostos via-se o estigma deixado pelo supremo esforço. Rostos encarquilhados, faces emaciadas pela energia gasta na terrível batalha competitiva.
Alguém, do meio da turba, reunindo suas últimas forças, sobressaiu-se e, caminhando em direção à porta, abriu-a. A multidão, arrefecida pelo cansaço, adquiriu novo alento e arremessou-se pelo portal adentro.
Todos cometeram, porém, o mesmo engano: na pressa, ninguém se lembrou de levar alguma coisa consigo, e no interior da porta não havia luz, somente o silêncio de um sepulcro violado.
O terror começou tomar conta daquela gente. Um frio seco se infiltrou no sangue de todos, que passaram a procurar agasalhos e, como nesse local não os havia, os mais fortes atacaram os mais fracos e os mais ricos compraram dos mais pobres.
Ao fim de algum tempo, os mais fracos e os mais pobres pereceram. O frio, no entanto, continuava intenso. E manifestou-se a fome. E não havia alimentos.
Pressionados pela fome, os que restaram começaram a negociar. Entretanto, por mais soluções que tentaram encontrar, nada apagou a lembrança do alimento. Desta forma, como por um acordo tácito, os sobreviventes começaram a se devorar. E, no final, não restou ninguém, pois o último homem se autodevorou.
Sergio Diniz da Costa
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024