Letícia Mariana:
“O perigo da ‘machosfera’: estamos regredindo?”
Copa do Mundo Feminina, filme da boneca Barbie nos cinemas, protagonismo da mulher em alta nas redes sociais e reais. Cada vez mais nós, mulheres, temos o nosso devido espaço. Entretanto, uma parte da sociedade não vê nossas conquistas com bons olhos – e faz questão de demonstrar e divulgar com orgulho essa opinião.
Eu falo da machosfera: um movimento iniciado nos EUA que prega a superioridade masculina. Casos no Brasil foram parar na polícia, como o do Thiago Schutz, por exemplo.
O movimento começou nos Estados Unidos para combater o crescimento do feminismo no início dos anos 1980. A internet aumentou a proporção desses homens que, muitas vezes, atacam mulheres de forma desumana.
A filosofia dos red pills diz que homens são superiores às mulheres e que o feminismo deve ser combatido, pois ele traz sérios riscos à sociedade e oprime a classe masculina. Segundo o site BBC, “alguns membros do movimento só estão interessados em dicas de como seduzir mulheres”. Entretanto, muitas dessas dicas são abusivas, possessivas e manipuladoras, trazendo um futuro relacionamento tóxico para ambos.
“Red pill” é associado à direita alternativa que esteve em foco nas eleições de Donald Trump em 2016. Esse modo de viver cresceu e está presente em vários locais do mundo, inclusive aqui no Brasil.
Um membro anônimo diz que eles não aceitam o “shaming” das mulheres, que significa criticar alguém em público ou na internet. Algo contraditório, pois é o que a machosfera faz em tempo integral. De qualquer forma, isso seria uma resposta ao MeToo, campanha utilizada pelo movimento feminista para incentivar mulheres a denunciarem violências domésticas, psicológicas, patrimoniais, sexuais ou morais.
Segundo os red pills, os homens de hoje em dia não querem ser cavalheiros ou pagar contas, e as mulheres não querem perder o que eles chamam de “benesses”. Outra contradição, afinal, o feminismo sempre incentivou mulheres a conquistarem sua independência. Numa relação romântica, obviamente a parceira gosta de ser tratada com educação, carinho e gentileza, valores que deveriam ultrapassar gerações. Pagar ou não as contas, quando há uma parceria saudável, cada casal toma a decisão em relação a isso. O que é preciso parar é esse mito de que toda mulher é interesseira, concepção criada numa época onde as mulheres bem-sucedidas não eram bem vistas ou, muitas vezes, nem sequer conseguiam chegar ao mesmo patamar de seu cônjuge.
“Homem que é homem, saudável, ele é perigoso. Porque a masculinidade, por essência, deve ser perigosa.” afirma um coach de masculinidade popular nas redes sociais.
“O masculino foi feito para liderar. Ou você é líder, ou você é liderado. Ou você é dominante, ou você é submisso”, diz outro influenciador.
Não é preciso votar em x ou y para perceber o perigo desse movimento, perigo esse que os mesmos reconhecem e acham natural. Até quando o mundo tratará mulheres como objetos descartáveis e sem valor? Até quando os homens vão defender uns aos outros nos erros criminosos? Principalmente: quando a humanidade fará jus ao nome e será, enfim, humana?
BBC: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cy90kg5l955o
Letícia Mariana
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Letícia Mariana é escritora com 5 livros publicados, palestrante, criadora de conteúdo, estudante e jornalista em formação. Diagnosticada com autismo nível 1 de suporte e ativista na causa autista. Já debateu em rádios cariocas e participou de encontros virtuais internacionais.