José Ngola Carlos traz para o Jornal Cultural ROL as jovens e cálidas letras da literatura angolana!
José Ngola Carlos, 30, natural de Luanda (Angola) e morando atualmente em Malanje (Angola), mais conhecido no meio literário como Kamuenho Ngululia, é Mestre em Educação na especialidade de Gestão de Centros Educacionais pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanidades da Universidade Europeia do Atlântico, licenciado em Língua e Literaturas em Língua Inglesa pela Faculdade de Humanidades da Universidade Agostinho Neto (FHUAN) e 2020 e professor de Língua Inglesa.
José Ngola inicia a sua trajetória literária ROLiana com o texto ‘Necroprofilia – Professores, uma classe que ama a morte!, uma reflexão crítica sobre a educação, centrada na figura do professor.
Necroprofilia – Professores, uma classe que ama a morte!
O que é que as práticas educativas e letivas dos professores e professoras revelam sobre o seu ideal didático-pedagógico? Um olhar atento e feito de perto revela que, como um todo, a classe de professores é uma que ama a morte.
A morte, de forma geral, é a designação que damos às coisas sem vida ou que não desenvolvem, não crescem, não produzem etc. Conforme é possível observar, pelos modos operandos dos fazedores da educação, é somente normal afirmar, e isto sem qualquer exagero, que o modo como se faz educação está para aquilo que é contrário à vida, contrário ao desenvolvimento, contrário ao crescimento, contrário à produção etc. A educação é concebida sob os moldes da reprodução e da imitação.
Esta atitude mental dos professores e professoras, que aqui designamos como o seu ideal pedagógico, torna estes agentes, indubitavelmente, ´necroprófilos´. A palavra necroprófilo advém da palavra necrofilia, esta, por sua vez, provém do Grego. Tendo em consideração a sua etimologia, a palavra necrofilia pode ser entendida como contendo dois (2) elementos constituintes, que são: ´necro´ e ´filia´. O primeiro elemento significa morto ou cadáver e o segundo elemento, amor. Neste sentido, necrofilia corresponde ao amor por aquilo que é morto.
Tendo como base a definição apresentada para necrofilia, traça-se dali, um meio caminho para a compreensão da palavra ´necroprófilo´. Esta, diferente da primeira, é composta de três (3) elementos que obedecem ao processo de formação de palavras por aglutinação. Os elementos são: ´necro´, ´professor´ e ´filia´. Pelo que, o ´necroprófilo´é a designação que descreve o professor e, quando mudado o gênero da palavra, a professora que, intencional ou não intencionalmente, mostra-se, pelo seu proceder, amante daquilo que é morto.
Uma prática didático-pedagógica que está a serviço da morte apresenta as seguintes características: ela é unilateral, não permite a interação, é monocentrada, fundamentalmente reprodutora e reprova a livre iniciativa, reprova a criatividade, desestimula a inovação e irrita-se com a crítica.
A classe de professores, como um todo, é uma classe de necrófilos porque, considerada a sua concepção de educação, amam mais a morte do que a vida, são pela reprodução e não pela produção, amam o conformismo e não o reinventar ou reinventar-se e são mais pelo monólogo e não pelo diálogo quando se considera o seu fazer didático-pedagógico.
Então, desrespeitamos a classe de professores quando assim os criticamos? Só o necrófilo pensaria desta forma porque vê na crítica um ato destrutivo e não construtivo!
Kamuenho Ngululia
Malanje, 1.º de outubro de 2024
Contatos com o autor
- Ser criança - 12 de outubro de 2024
- Poema de despedida - 11 de outubro de 2024
- Irene Rocha lança o livro de poemas Lirismo D’alma - 10 de outubro de 2024
Muito obrigado pela calorosa acolhida ao JORNAL CULTURAL ROL!
A respeito da necropofilia:
É uma reflexão producente, especialmente para o contexto angolano. Pois o que se tem verificado é isso mesmo: requerer que o aluno/estudante reproduza o que previamente se seleccionou como conteúdo.
Entretanto, dizer que a “morte, de forma geral, é a designação que damos às coisas sem vida ou que não desenvolvem, não crescem, não produzem”, estaríamos a roubar a definição das coisas mortas, e não da morte em si.