José Ngola Carlos: ‘Bajular desprestigia o bajulador!’


“A bajulação só ganha vida na incompetência. Quem é competente não bajula, corre é o risco de ser considerado bajulador por quem é irresponsável, descompromissado e inábil.”
Em retrospectiva ao período em que vivi e trabalhei em Luanda, um período de cerca de 20 anos, lembro-me, com inegável claridade, de apenas uma vez ter ouvido falar em bajulação. Qual foi o meu espanto?! A palavra foi usada por um colega professor em relação a mim, num ar de suspeita inquisitiva, sobre uma frase interessante do Presidente do Conselho Administrativo (PCA) do Aurora Complexo Escolar Internacional, lugar em que trabalhava, e cuja frase eu havia publicado em rede social. Num aproximar sorrateiro e falsamente despretensioso, o colega se aproxima a mim e diz:
– Prof. Ngola, vi a sua publicação no Facebook. Você gostou mesmo da frase ou é apenas bajulação?!
Eu, ainda inocente da pretensão indecorosa, simplesmente disse que não era bajulação. Afinal, por que eu quereria bajular mediante a publicação de uma frase no Facebook? Afinal, publicar frases é, de há muito tempo, uma pratica minha em relação aos autores que leio e às pessoas que escuto. Não obstante a isso, o PCA nem veria a publicação. Era pelo valor axiológico e epistémico que eu havia publicado a frase no desejo sincero de querer contribuir para a aprendizagem de meus amigos e seguidores naquela rede social e não pelo PCA. Perguntava-me também, se ele podia acompanhar as minhas atividades no Facebook, por que em nenhum momento procurou-me para dizer que eu estivesse a bajular mediante a publicação das frases de Osho, Paulo Freire, Sócrates, etc.?! Sem ter tido relevado, releguei ao esquecimento.
Em 2024, mediante concurso público, chego em Malanje com a família em missão de serviço. Qual foi o meu espanto desta vez?! Aqui, a palavra ‘bajular’, ‘bajulação’ e ‘bajulador’ é uma daquelas palavras que você ouve de manhã, de tarde e de noite, no trabalho, no mercado e na via pública, de professor, de bancário e de sapateiro. Temo que seja recorrente também no seio religioso.
Nas vezes em que ouvi em Malanje, felizmente, estas palavras não eram dirigidas a mim, mas a um colega de trabalho, o que não é menos preocupante. Então, foi com base em observação, recolha empírica de dados, análise e ponderação que cheguei à seguinte conclusão:
A bajulação só ganha vida na incompetência. Quem é competente não bajula, corre é o risco de ser considerado bajulador por quem é irresponsável, descompromissado e inábil.
A palavra ‘bajulação’ provém do Latim e deriva do verbo ‘bajular’ que etimologicamente significa “carregar um fardo” ou “levar algo aos ombros”. Pelo que, em analogia com quem carrega uma pessoa ou coisa, quem bajula é alguém que apoia e promove os valores, as ideias ou as práticas de alguém, porém, de modo exagerado e falso com a intenção de obter favores ou benefícios.
Como se pode perceber pelo exposto acima, não é o mero apoio e promoção de valores, ideias ou práticas que tornam alguém bajulador, é o exagero, a falsidade e a intenção de querer obter benesses mediante o apoio e a promoção de valores, ideias ou práticas de um superior hierárquico. Assim, um trabalho feito com criatividade, inovação e competência não é bajulação, é, antes uma chapada sem mão na cara de quem é incompetente e acha que fazer bem o trabalho é bajular.
Que não se corra o risco de pensar que eu seja a favor da bajulação, não. Bajular é um ato irreverente, antiético e irresponsável que mina o bom convívio e desprestigia o bajulador. A minha voz e escrita é, contudo, contra o olhar e observações mal intencionadas que se pretendam em fazer confundir o bom trabalho com a bajulação.
José Ngola Carlos
Malanje, 24 de setembro de 2025
Como citar este artigo:
Carlos, J. N. (2025:9). Bajular Desprestigia o Bajulador! Brasil: Jornal Cultural ROL.
- Cooperar é melhor que competir! - 5 de dezembro de 2025
- A mania de sermos todos doutores! - 24 de outubro de 2025
- Bajular desprestigia o bajulador - 24 de setembro de 2025
Natural de Luanda (Angola) e morando atualmente em Malanje (Angola), mais conhecido no meio literário como Kamuenho Ngululia, é Doutorando em Educação na especialidade de Avaliação de Centros e Professores pela Universidade Internacional Ibero-americana (UNINI), Mestre em Educação na especialidade de Organização e Gestão de Centros Educacionais pela Universidade Europeia do Atlântico (UNEATLÂNTICO), Licenciado em Língua e Literaturas em Língua Inglesa pela Universidade António Agostinho Neto (UAN) e Professor de Língua Inglesa no Liceu 42 – 4 de Janeiro, Malanje.


Realmente, a incompetência de muitos de nós faz-nos taxar os que trabalham de verdade como bajuladores.
Penso, porém, que o mais correcto seria refletirmos profundamente naquilo que temos feito no cumprimento das nossas actividades. Com isso, talvez venhamos a descobrir que sejamos nós a mudar de proceder. Pois que, às vezes, chamar os outros de bajuladores, chega a ser um indício de que talvez tenhamos ciúmes, ou, inveja do bom trabalho dos outros.
Outras vezes, porém, chega a ser um alerta para os bajuladores mudarem de proceder.
Mas, mesmo nesses casos, o correcto, julgo eu, talvez seja chamar à razão da pessoa suspeita desse acto ignóbil de modo a alertá-lo dos riscos de se comportar assim. Pois que, só o facto de dizer ao outro que é bajulador já revela que és grosseiro e pobre em educação e vocabulário.
Mandou bem, ilustre colega. 👏🏾👏🏾👏🏾