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Crônica tema 'Minha mãe e eu' – Manoel Peres Sobrinho

Crônica tema ‘Minha mãe e eu’ – Manoel Peres Sobrinho

‘Minha mãe é uma só’

 

Na África do Sul uma mulher da tribo Masuto protegeu com o corpo sua criança percebendo a aproximação de um tufão – A. D.

 

Passados 23 anos da sua morte, ainda, minha memória olfativa, acusa inequivocamente a presença do seu suave perfume a exalar em nossa casa. É como um abençoado lembrete, de que alguém muito especial, existiu nestes tempos, viveu fugazmente entre nós, fez parte de nossas vidas, transformou-nos consideravelmente e, ainda, faz parte do que fomos, do que somos, e do que seremos um dia, pois, jamais deixará de nos pertencer. Numa simbiose perfeita de corpo, mente e espírito, somos o que ela foi e jamais deixaremos de pertencer-lhe.

Não me canso de olhar para as coisas que ela gostava, nas quais nutria uma singular atividade, cuidando sempre com muito carinho e personalidade. O que ela fazia e da maneira que ela fazia, ali desenhava sua assinatura pessoal, seu toque de maestrina cunhando entre nós um respeito que ia muito além de uma observação casual ou fortuita. Assim foi a sua vida, marcando-nos com seus conselhos, moldando-nos com suas atitudes, sempre com a devida compreensão da grandeza da sua tarefa, que não estava sendo cumprida como uma modorra faina, mas empenhava-se de todo o coração, para sempre nos fazer o melhor.

Hoje, com 66 anos, fico pensando o quanto ela foi incompreendida, esquecida em seu valor pessoal, mas o quanto exigimos dela mais e mais, quando ela, por si mesma, e com tanto amor e afeto já havia dado tudo o que podia. Um ser incansável, que qual vela, era consumida pela própria chama que ardia no seu coração.

Hoje, um pouco mais velho, um pouco cansado, e mais maduro, fico pensando, se por acaso ela não haveria chorado por suas frustrações, e nós nunca soubemos; se, por ventura, algumas vezes, não se viu solitária, mesmo no meio de tanta gente, e com tanta coisa por fazer, e quem sabe, nenhuma mão para ajudá-la. Quem sabe, se, em algum momento, ela não chegou a pensar até mesmo em desistir, pelo enorme volume de ocupação, mas que o sentido maior do dever, do amor e da fidelidade aos seus compromissos, não fizeram com que ela permanecesse. O fato é que nunca o saberemos; mas é bem possível que o seu amor tenha sido regado com lágrimas e desesperação.

Por mais que eu diga, por mais que eu me esforce, não consigo exaurir todo o sentimento que nutro por esse ser tão especial que fez parte de minha vida. Que por sua vida, tenho a minha agora.

Poderia contemplá-la em toda a sua singularidade? Poderia compreendê-la em toda a sua importância? Poderia agradecê-la por todo o bem que a mim devotou? Talvez o silêncio respeitoso e contemplativo, como se uma oração fosse, seja a melhor resposta para estas questões.

Já não posso mais dizer coisa alguma que ela possa ouvir. Nem, abraçando-a, dizer o quanto eu sinto por não lhe ser solidário, e nem oferecer ajuda em suas aflições. Não posso mais exprimir minha afeição ao dirigir-lhe uma palavra de carinho e consideração, por tanto bem que já me fez.

O tempo passou, inexoravelmente, e consigo, levou todas as oportunidades que tive, mas que desgraçadamente negligenciei desrespeitando a solenidade e importância do momento.

Porém, fica em mim, outra grande certeza, a de que ela mesma, por uma atitude de sua grandeza pessoal, deve ter unilateralmente me perdoado por tantas falhas em meu relacionamento.

E nessa atitude, há algo de divino, que acentua ainda mais a sua grandeza e exercício de sua maternidade, pois “o amor cobre uma multidão pecados”.

 

(*O Autor é Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie).

 

Sergio Diniz da Costa
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