Editorial:
‘O DESPEJO DAS LETRAS!’
É do escritor Monteiro Lobato a célebre frase: “O Brasil se faz com homens e livros”.
E de livros, as Academias de Letras entendem muito bem, obrigado!
Em 2015, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organização internacional, composta por 34 países e com sede em Paris que tem por objetivo promover políticas que visem o desenvolvimento econômico e o bem-estar social de pessoas por todo o mundo, avaliou 76 países, por meio do desempenho de alunos de 15 anos em testes de Ciências e Matemática. E o Brasil ficou na 60.ª posição no ranking mundial de educação
O relatório da OCDE ressalta o grande número de estudantes que abandonam a escola e chama a atenção para a qualidade do ensino ofertado. “Apesar de praticamente todas as crianças entre 7 e 14 anos de idade ingressarem nas escolas no começo do ano, nem todos continuam até o final. Eles abandonam porque o currículo escolar não é atrativo, porque precisam trabalhar ou por ter dificuldade em acompanhar as aulas.”
Se o Poder Público no Brasil não consegue ofertar aos jovens um currículo escolar atrativo, que alternativas lhes restam para amealhar conhecimentos? E de forma prazerosa?
Uma das alternativas é representada pelas Academias de Letras, ou de Letras e Artes.
Em Sorocaba, há 38 anos, foi fundada a Academia Sorocabana de Letras – ASL. E, nesse período, tem realizado múltiplos saraus lítero-musicais, como, por exemplo, os 110 anos de Carlos Drummond de Andrade e Sérgio Buarque de Hollanda, os 100 anos de Nelson Rodrigues e Jorge Amado; além do centenário de Luiz Gonzaga e show de música popular, com o apoio do Conjunto Entre Amigos, cursos de cinema – ministrados pelo Prof. Dr. Paulo Schettino, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte -, lançamentos de livros, além das palestras realizadas durante suas reuniões, sempre abertas a todos os interessados.
A ASL, desde 2011, vem ocupando a Casa 52 do Jardim Maylasky (em frente à antiga Estação Ferroviária), cedida à Academia – que ali instalou seu espaço cultural – por um protocolo de intenções assinado pelo então Prefeito Vitor Lippi.
Entretanto, essa Floração Cultural Acadêmica está em via de receber uma poda drástica e sem razão de ser.
No dia 27 de junho, atendendo solicitação do Secretário do Gabinete Central da Prefeitura, Hudson Zuliani, o atual presidente da ASL, o historiador e jornalista Geraldo Bonadio, e alguns acadêmicos, estiveram na Prefeitura, quando, então, recebidos por Zuliani ele e pelo Secretário de Assuntos Jurídicos, Eric Vieira, foram informados que a Prefeitura vai retomar a Casa 52, sede da Academia.
Segundo os Secretários, a medida estaria ligada, supostamente, ao programa da atual Administração de reduzir os gastos do Município com aluguel de prédios destinados a suas repartições.
De acordo com o presidente Bonadio, no entanto, “o argumento é dos mais pífios. Antiga moradia de pequeno porte, a Casa 52 não tem condições mínimas de tamanho e acessibilidade para abrigar qualquer dependência administrativa da Prefeitura, mesmo de pequeno porte. Ademais, se o protocolo de intenções não deu origem a uma cessão em comodato tal não ocorreu por inércia da Academia, como já destacado acima.
O comodato não se efetivou simplesmente porque a Prefeitura não tem o domínio do imóvel, que continua a pertencer a União, uma vez que não foi incluído no documento que cedeu à Prefeitura o patrimônio da antiga Estrada de Ferro Sorocabana.”
Ainda segundo Bonadio, “A fim de dourar a pílula, Zuliani e Vieira propuseram que a Academia aceitasse transferir sua sede para um imóvel do Município, nos fundos da Alberflex, no Jardim Saira, que deveríamos compartilhar com a Associação Sorocabana de Imprensa – que também vai perder sua sede, na Avenida Antonio Carlos Comitre, Parque Campolim.
Para Bonadio, essa proposta representa uma eutanásia, uma vez que, “naquele prédio, situado num ponto isolado, de difícil acesso e sem segurança, não teríamos condição de atuar nem de sobreviver.”
Bonadio ainda ressalta que “O que a administração do Prefeito José Crespo está fazendo nada mais é do que dar sequência aos desastrosos gestos dos ex-Secretários da Cultura do governo anterior, que tudo fizeram, pessoalmente e através de subordinados seus, para retirar aquele imóvel, antes usado como depósito, de uma instituição que, a despeito de seus modestos recursos, vem desenvolvendo programas culturais nas áreas das letras, artes e ciências humanas, sem qualquer ônus para o Município. Exemplo disso é a manifestação, inserida no processo relativo ao protocolo de intenções, pela funcionária Claudia Ribeiro Tavares, atual Chefe da Divisão de Patrimônio da Secretaria da Cultura, que, num momento em que as atividades na Casa 52 eram particularmente intensas, nele lançou a informação de que o local era subutilizado.
O ritmo de atividades então desenvolvido sofreu, como toda a sociedade brasileira, o impacto do momento sombrio em que estamos vivendo, em que as possibilidades de apoio da iniciativa privada – que, entre outras coisas, nos permitiu dar condições utilização ao velho imóvel que recebemos da Prefeitura – se reduziram notavelmente.
Obviamente, isso em nada reduz a infelicidade da iniciativa do atual governo municipal, provavelmente o único no Brasil a despojar uma academia de letras que funciona há quase 40 anos, de um espaço vital para o desenvolvimento de sua política de, sem ônus para o poder público, viabilizar o acesso dos cidadãos à produção cultural no campo das letras, artes e ciências humanas.”
Esperamos que a Prefeitura, ciente da importância de apoiar as atividades culturais de Sorocaba, reveja sua posição e reafirme seu apoio à Academia Sorocabana de Letras, demonstrando, assim, seu interesse em manter bons relacionamentos com a imprensa e as entidades culturais de Sorocaba e Região.
É do escritor Monteiro Lobato a célebre frase: “O Brasil se faz com homens e livros”. E de livros, as Academias de Letras entendem muito bem, obrigado!
Sergio Diniz da Costa e Helio Rubens de Arruda e Miranda – Editores
Frente da Casa 52
Momentos do lançamento do livro do prof. Dr. Paulo Schettino
Ao microfone, o presidente da ASL, Geraldo Bonadio
O Prof. Dr. Paulo Schettino
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.