Élcio Mário Pinto:
‘A VIDA NA TELA’
Os três meninos entraram, acompanhados pela mãe. Calculei as idades: 7, 6 e 4 anos. Enquanto o menor brincava, corria e movimentava-se muito, os outros dois se interessavam por outra coisa: o celular. Graças à insistência do caçula, aquele de 6 anos cedeu e começaram a brincar de esconde-esconde. Mas, desde que a mãe entregou-lhe o aparelho, o menino de 7 anos nada mais fez. Sequer olhou para onde pisava enquanto caminhava para dentro do prédio. Lá, também não se importou com mais nada! Os outros dois correram, passaram pelo detector de metais e voltaram com a brincadeira do esconde-esconde. Percebi que sorriam muito e eu entendi que estavam felizes com o que faziam. Mas, o menino maior, sequer olhava para qualquer lado. Nada, absolutamente nada no mundo interessava a ele mais do que os joguinhos apresentados na tela do celular.
Então é assim, eu pensei. É assim que se faz para que alguém, com tão poucas experiências e convivências tenha um só interesse, não se importando com mais nada e com mais ninguém?
Para o menino de 7 anos, a brincadeira não interessava. Também não interessava o que os mais novos faziam. Deviam ser irmãos, foi o meu outro pensamento. E daí? Daí, nada! Isso também não era motivo suficiente para deixar o celular e brincar.
Acompanhei aqueles meninos, do momento que desceram do carro, foram ao prédio, ficaram um tempo lá e voltaram. O menor, muito criativo, já se imaginava abrindo a porta do carro ao lado dizendo que era da polícia. Talvez as cores preta e amarela e aquele desenho que parecia um distintivo, fossem o suficiente para convencê-lo.
Finalmente, pensei que no menino de 4 anos ainda havia a criatividade que sonha, tão necessária a uma criança saudável, cheia de imaginação e que gosta de criar para viver intensamente, muito mais do que o cotidiano oferece. Talvez, seja esta a melhor definição de ser escritor: sua intensidade criadora só se satisfaz com muitas vidas, ainda que imaginadas. Quem sabe em seu interior, todas estejam, sempre, acontecendo vibrantemente!
Bem, a família partiu e eu fiquei pensando nos três meninos e no que as crianças são transformadas quando os recursos tecnológicos separam, segregam, dividem e matam a inventividade de quem deveria brincar, conhecer a Natureza, conviver com as pessoas e ser feliz com as coisas, não com as imagens das coisas. Será que voltamos aos ensinamentos do velho filósofo grego Platão? Dizia o mestre que tudo o que vemos é só um reflexo da Realidade verdadeira e absoluta. Parece-me que invertendo este ensinamento, com a tecnologia das telas pode-se dizer, que a educação das crianças está transformando o virtual em algo absoluto, sem o qual não se pode viver.
Mas, digo agora: a vida, definitivamente, não acontece na tela. Ela acontece na Natureza!
ÉLCIO MÁRIO PINTO
08/07/2017
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024