Pedro Israel Novaes de Almeida – DIVERSIDADE E RESPEITO
Uma mostra de arte, promovida por um banco, em Porto Alegre, foi fulminada pela reação indignada de internautas, nas redes sociais.
Obras que insinuavam cenas de pedofilia, zoofilia e desrespeito a símbolos religiosos provocaram reações indignadas. Os defensores da mostra denunciaram a ocorrência de censura, conservadorismo e intolerância com a diversidade.
Faltou, à mostra, prévia informação quanto ao conteúdo de algumas obras, vistas até por crianças. Sobrou, à mostra, o absurdo de haver sido objeto de incentivo fiscal, oficialmente chancelada.
As manifestações artísticas são ricas em diversidade, e respeitadas, mas não gozam de plena liberdade. Naturalistas e nudistas não são bandidos, mas não podem desfilar pelados interior afora.
Praias de nudismo e eventos localizados permitem a prática de nudismo, vedada em locais de uso do cidadão comum. Ocorre, na verdade, uma censura, muitas vezes consequência de tipificação penal.
A sociedade é, predominantemente, conservadora e religiosa, e tal realidade não pode passar despercebida aos olhos dos que, pelas mais diversas vias, tentam afrontá-la, conscientes ou não. O respeito à diversidade envolve também o respeito e o reconhecimento de valores secularmente incrustados na população.
Existem cenas que chocam, deseducam e causam indignação, motivo da instituição de faixas etárias, para acesso a tais manifestações, sejam teatrais ou não. A censura, não política, exercida com civilidade e transparência, é uma defesa da sociedade, na preservação de seus valores.
Qualquer de nós pode fazer o que bem entender, desde que em locais e horários convenientes. No Brasil, a intolerância frequenta todos os espectros do pensamento e manifestação humanas.
Existem pessoas que, absurdamente, declararam guerra a Nossa Senhora, mas não se atrevem a macular a imagem, em público. Embora diversificadas, as religiões operam em ambientes e horários próprios.
Muitos artistas e radicais inovadores manifestam, em público, o que omitem no cenário familiar. Quadros que retratam cenas de pedofilia, zoofilia e ofensas à fé alheia, frequentam, festejados, salões e mostras de arte, mas raramente são vistos na sala da casa do autor.
Amantes de sons ensurdecedores não costumam reproduzi-los no ambiente familiar, preferindo incomodar ouvidos e sonos alheios. Existe algum cinismo na aparente irresignação, frente a alguma repreensão social.
A arte é livre, tão livre quanto as opiniões discordantes. Ninguém pode ser obrigado a concordar e presenciar manifestações com as quais não concorda.
A diversidade requer tolerância e respeito, de ambos os lados. Nossa sociedade continuará, por séculos, conservadora e religiosa, e tem sido, até estranhamente, tolerante e respeitosa.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.