A máxima que cada um é responsável pelo que cativa naufraga neste século. A velocidade das coisas e das emoções é acelerada. O avanço da tecnologia propõe uma “diminuição” do tempo e do espaço.
Nem todos os lugares e nem todas as pessoas participam deste processo contemporâneo de forma homogênea, porém praticamente tudo é afetado por esta aceleração. Como diria o geógrafo Milton Santos (1999, 2000) a tecnoesfera se materializa em alguns territórios do globo, que são privilegiados e “escolhidos”; enquanto que a psicoesfera parece tomar conta do mundo.
A proposta de Milton abrange o espaço geográfico mais geral e mais próximo do ser. Os sistemas de objetos técnicos criados (produzidos) são a base e o veículo da velocidade acelerada (e propositadamente lenta quando de interesse) dos sistemas de ações (potentes e impotentes).
A lentidão em si não tem mais condições para se sustentar no período atual intitulado por Milton de técnico, científico e informacional, ela se torna uma resistência teórica (inerte) e prática, é deixada de lado e colocada como um equívoco.
A consciência deste fato inédito que é sempre parcial e a necessidade de estar e ao mesmo tempo de não estar no reino dos objetos acelerados propicia a possibilidade de rompimento da supremacia (e auge) da alienação renovada advertida por Karl Marx (1964, 1974).
As ações e as emoções sofrem uma vertigem. Elas em questões de segundos, minutos, horas e dias vão do mais profundo ao mais supérfluo do dramático, do trágico e/ou do cômico. Assim como se fala e experimenta-se do mais intimo e inimaginável estando face a face e/ou não (via meios tecnológicos), fala-se e experimenta-se o mais óbvio e por isso mesmo surpreendente do superficial e raso do humano. As décadas são ainda válidas para o planejamento do capital.
O meio é cada vez mais artificial e as relações tendem a artificialidade, esse talvez seja o paradoxo do tempo presente. A radicalidade da técnica que quer ser hegemônica e apenas democrática para um punhado de gente gera uma contra radicalidade, ou outra forma de barbárie.
O descartável e o inútil da memória acirram os conflitos, diluem as solidariedades e impõem o limiar da guerra (da “ruptura”) localizada, regionalizada que acontece nos lugares e nas próprias pessoas. Todavia a guerra é universal (total, parcial e variável) sendo, se fazendo como fim e “eterno” recomeço (ciclo, retrocesso e avanço) agora com maior rapidez. Muito menos estabilidade e muito mais instabilidade. O desequilíbrio em doses altamente elevadas todo o tempo parece não fazer bem ao território, ao corpo e a alma.
Ricardo Hirata Ferreira
Doutor em Geografia Humana, FFLCH, USP.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.