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Élcio Mário Pinto: 'Língua falada'

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“Blá, blá, blá, blá…” (no sentido de chatice e constrangimento)

 

Falar de um jeito simples não quer dizer falar sem respeitar as regras.

Nossa Língua Portuguesa é rica, riquíssima, diria Ariano Suassuna citando Miguel de Cervantes.

Se nos dá muito trabalho entendermos a Língua falada e corretamente escrita dentro das regras estabelecidas e aceitas, entendidas como norma culta, então, não faz o menor sentido, depois desse trabalho todo, com dedicação e leitura, fazer uma escrita contrária ao que ensina a escola em muitos anos de estudo.

Retomando a fala, já que na escrita, apesar de todos os erros e absurdos cometidos, as pessoas se preocupam um pouco mais, quando se fala parece que não existe preocupação alguma.

E por falar nessa despreocupação com a norma culta da nossa Língua, pensei nos filmes.

Quando são traduzidos, é verdade, algumas coisas podem ficar diferentes, especialmente, quando não há semelhança entre a fala original e a fala traduzida.

Acontece que os costumes e os hábitos podem ser muito diferentes! Também as brincadeiras, as piadas, as citações de pessoas e lugares, enfim, uma infinidade de coisas, até opostas, ao que acontece no ambiente original do filme em relação ao nosso ambiente, Brasil.

Isto não quer dizer que se é superior, melhor, inferior ou pior aqui ou lá, nada disso. Quer dizer que são situações diferentes, nada mais.

Mas, quando dizemos da nossa Língua falada, as diferenças entre elas, especialmente inglesa e portuguesa do Brasil, não se deveria usar estas expressões:

“pegar ele”

“ver ela”

“amar ele”

“filmar ela” e outras construções consideradas erradas pela nossa norma culta.

Se temos uma língua falada tão bonita, e temos, por que fazer esse tipo de construção?

Pode-se responder que o povo fala assim e as pessoas gostam que sejam dessa forma. Ora, os meios de comunicação não deveriam, também, valorizar a Língua falada e ensinar nosso povo a fazer construções linguísticas de acordo com o que rege a fala formal, oficial e corretamente aceita?

Confesso que me sinto incomodado com os diálogos nos filmes: fazem construções fracas, ruins, pobres de sentido e cheios de vícios, que em comum têm uma total falta de consideração pela Língua que deveriam defender.

Se posso dizer: avisá-lo, por que dizer – “avisar ele”?

Se posso dizer: tê-la, por que dizer – “ter ela”?

Se posso dizer: pegá-lo, por que dizer – “pegar ele”?

Se posso construir diálogo que faça sentido e com vocabulário enriquecido, por que falar poucas palavras que nada explicam e apresentam uma construção feia da própria Língua?

Fico pensando se em outros países também acontece essa desconsideração.

Em tudo o que disse até aqui, sequer tratei do gerundismo.

Num dia desses, eu e Adriana, minha esposa, fizemos por capricho e zombaria, a construção de uma frase com 6 palavras que nada concluíam. Seria mais ou menos assim:

Vamos estar procurando tentar fazer valer…”

Por favor, que ninguém repita esta ofensa à nossa rica e bela Língua, falada e escrita. O exemplo destacado, como disse, é para zombar do absurdo imposto ao nosso belo e rico modo de falar.

E agora, desejo que o cotidiano do informal não contamine professores que devem primar pela Língua formal, porque se a escola entrar nessa onda de “ver ela”, não restará esperança para a nossa Língua Portuguesa do Brasil.

ÉLCIO MÁRIO PINTO

30/07/2018

Sergio Diniz da Costa
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