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Élcio Mário Pinto: 'A luz de Liz'

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Em homenagem à menina ELLIS GOUVEIA, filha de Elton e Eulina, de Taperoá – PB

Entre os egípcios da antiguidade contava-se que o grande Farol de Alexandria, uma das sete maravilhas do mundo, não começou iluminando os barcos que estavam distantes da terra. É bem verdade que pela luz vista de alto mar, sabia-se o quanto um barco poderia aproximar-se. Conhecia-se também a respeito da profundidade de cada ponto da água à medida que se aproximava da praia.

A cidade de Alexandre – era assim que se dizia de Alexandria – construiu o imenso farol com 135 metros de altura. Mas em seu início, não se pensava em fazer o que foi descoberto um tempo depois.

Foi assim que tudo aconteceu…

Quando os romanos aproximavam-se da cidade pelo Mar Mediterrâneo, que eles chamavam de “Mare Nostrum” – em latim quer dizer Nosso Mar, isto é, mar dos romanos que por ele navegavam e dominavam todo o mundo conhecido – certa vez, distante da cidade, o comandante do barco, para avisar aos egípcios que o exército dominante estava chegando, mandou que os soldados romanos fizessem uma fogueira.

É claro que o barco era bem grande, o suficiente para que se pudesse ter fogo alto sem perigo algum.

Deste modo, os egípcios ficaram sabendo que os romanos estavam chegando e com eles, a temida cobrança dos impostos pelos grãos de trigo que os barcos levariam a Roma.

– Papai… – disse a menina ao general egípcio.

– Sim, filha, o que deseja?

– Os romanos estão chegando?

– Estão, como sabe?

– Está todo mundo correndo pelas ruas. Tem tanta gente gritando e escondendo as crianças. Eles são tão perigosos assim?

– Qualquer um que faça sem pensar na dor alheia é perigoso! Mas, no caso dos romanos, desta vez não. Eles vêm de Roma para buscar trigo.

– Por quê?

– Porque são eles que dominam o mundo todo e por isso, o Egito deve pagar o imposto sobre os grãos.

– Como assim, papai?

– Nós plantamos e colhemos o trigo. Temos que separar uma parte para pagar o imposto que Roma exige. Se não pagarmos, aí sim, tudo fica muito perigoso para todos nós, inclusive, para as crianças.

– É só com o trigo que pagamos esse imposto?

– Não, não é. Também pagamos imposto por tudo aquilo que produzimos ou que nossos navios trazem do Extremo Oriente.

– E se os romanos não soubessem de tudo o que chega?

– Aí, sobraria mais para o nosso povo.

– Então, eu tenho uma ideia.

– Qual?

– Sabe da fogueira no barco romano?

– Sei.

– Se eles fizeram fogo para nos avisar, também podemos fazer fogo para avisar nossos navios que estão longe.

– Continue filha…

– Aí, eu pensei que podíamos usar o grande Farol com uma fogueira dentro dele para avisar nossos navios, caso os romanos estejam chegando. Assim, eles ficariam bem longe e depois que os romanos se fossem, eles chegariam.

– O seu plano é muito bom, mas quando se trata dos romanos, qualquer coisa pode ser perigosa!

– Qual seria o problema?

– Os castigos, filha, os castigos, as punições, as prisões e as torturas.

– Como assim, papai?

– Se descobrirem que temos produtos sem entregarmos a parte que eles vêm buscar, todos correremos risco. Você me entende?

– Eu entendo, mas a parte deles no trigo será entregue, não será?

– Sim, será!

– Então, se descobrirem, diremos que as coisas chegaram naquele momento. Inventaremos uma história e daremos um jeito.

– Mesmo assim, é perigoso e arriscado.

– Eles querem a parte de Roma, não querem?

– Sim, querem! E, estão vindo, sempre!

– Vamos entregar o que querem e ficaremos com o que eles não sabem que temos. Se souberem, inventaremos desculpas e entregaremos. Também podemos aumentar a quantidade do que nossos navios trazem e assim, entregaremos aos romanos a parte que eles sabem que temos, mas não daquela que eles não sabem.

– Filha, você é uma generalíssima!

– O que é isso, papai?

– Eu sou um general, então, uma mulher seria generala, mas para elogiá-la por suas ideias e por sua esperteza, digo generalíssima, isto é, uma generala muito, muito inteligente e importante!

– Obrigada, papai!

– Quero saber mais sobre o fogo no farol.

– É a segunda parte das minhas ideias.

– Então, me conte!

– Lá no grande Farol tem um espaço para uma fogueira, não tem?

– Tem sim!

– É por isso que podemos fazer fogo lá em cima, do mesmo jeito que os romanos fizeram fogo no barco. Mas, com uma diferença.

– Qual?

– Dependendo da cor do fogo será o aviso, o recado ou aquilo que queremos que os comandantes de nossos navios saibam.

– Cor, filha?

– Sim, papai, cor do fogo.

– Mas como mudar a cor se todos sabemos que o fogo só tem uma?

– Lá na escola já aprendemos que a cor do fogo depende da temperatura.

– Como assim?

– Quando o fogo não está tão quente, ele é vermelho.

– Todo fogo é quente, filha, não tem fogo mais ou menos quente.

– Tem sim, papai. O senhor pode fazer uma experiência para descobrir com os vidreiros.

– Com quem?

– Com os vidreiros.

– Ah, sim, claro! Aqueles que fazem vidro.

– Eles fazem o fogo ter uma luz na cor violeta, o que é muito, muito quente mesmo!

– Como é que você sabe de tudo isso?

– Aprendi na escola.

– E o que mais você sabe sobre o fogo?

– Se o fogo não está tão quente e nem tão frio como no caso da cor vermelha, então, a temperatura faz uma luz amarela.

– Quer dizer que o fogo amarelo é o que fica entre as duas outras cores?

– Isso mesmo! O senhor entendeu direitinho.

– Veja só, um general aprendendo com uma menina de 10 anos. Só no Egito para acontecer uma coisa assim!

– E então, o que o senhor acha?

– Do quê?

– Ora, papai! Vamos mudar a cor do fogo para avisar aos comandantes dos nossos navios sobre os romanos.

– Bem, primeiro, sua ideia de colocar fogo no topo do grande Farol é ótima! Vou agora mesmo falar com o faraó. Agora, sobre a cor do fogo, preciso pensar.

E assim, Alexandria, no Egito, depois que construiu seu Farol gigante, passou a contar com navegação segura para seus navios graças à luz de fogueira sempre acesa.

Em homenagem à menina que ensinou ao general, seu pai, a luz do grande Farol foi chamada de LIZ, pelos egípcios. Os romanos, quando descobriram, não castigaram o povo da menina “generalíssima” e deram ao brilho do Farol o nome de LUX, que quer dizer LUZ. Mas, os egípcios mantiveram o nome da menina para a claridade: LIZ.

Quanto às cores da luz, nunca se soube se os egípcios ou outro povo tentou realizar o que LIZ sugeriu ao seu pai.

O que ela sabia naqueles tempos do grande Egito, descobriu-se séculos mais tarde!

 

ÉLCIO MÁRIO PINTO – elcioescritor@gmail.com

08/09/2018

Sergio Diniz da Costa
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