novembro 21, 2024
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Artigo de Celso Lungaretti: 'Quando a derrota é terrivel demais, à maioria abala e traumatiza. A alguns, vira do avesso.'

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JOGA PEDRA NO DIRCEU! JOGA BOSTA NO DIRCEU! ELE É FEITO PRA APANHAR! ELE É BOM DE CUSPIR!
Celso Lungaretti, no blogue Náufrago da Utopia

A constatação de que o Zé Dirceu, afinal, não esteve envolvido com esquemas de corrupção apenas em nome de um porvir melhor para a humanidade, locupletando-se também, fez desabar sobre ele uma rejeição acachapante.

Até o Juca Kfouri o fulminou, no espaço que geralmente utiliza para detonar os ratos da cartolagem futebolística. Clovis Rossi o comparou ao Maluf. O Zé Simão fez piada com sua desgraça, “pichuleco Gold”. O PT o abandonou às feras, evitando inclusive citar seu nome.

Não fiquei nem um pouco surpreso, seja com os esqueletos que saíram do armário do Zé, seja com a atitude dos bons companheiros, de reprovação velada ou execração explícita. [Regra de ouro: é melhor juntar-se logo aos estilingues do que correr o risco de tornar-se também vidraça…]

A opção revolucionária nunca embotou minha perspicácia de jornalista ou, mesmo, meu senso comum. Desde o mensalão já dava para se perceber claramente que algum proveito pessoal ele tirara do imenso poder que detinha. Se o desejável for a moralidade no sentido estrito do termo, tráfico de influência é tão recriminável quanto receber uma mesada do demo.

Nada escrevi sobre isto, contudo. E não por ter telhado de vidro e temer um efeito bumerangue, pois nunca cedi às tentações do capitalismo. Grana e poder jamais foram cantos de sereia para mim.

Não foi o marxismo que me fez detestar as injustiças e a desigualdade social, foi por detestar a sociedade na qual vivia que acabei me tornando marxista. Nunca invejei os burgueses e seus privilégios. Queria é que os seres humanos, libertos da canga do trabalho alienado, tivessem existências gratificantes e solidárias. Queria ser um entre todos numa sociedade humanizada.

Por que poupei o Zé Dirceu, então?

Porque nunca esqueci quantos estavam ao nosso lado em 1968 e quão poucos continuaram ao nosso lado em 1969.

Porque era necessária muito idealismo, coragem e firmeza de caráter para lutar-se contra a ditadura depois do AI-5.

Porque a derrota final foi terrível demais e um impacto desses dificilmente é bem absorvido. À maioria, abala e traumatiza. A alguns, vira do avesso.

[O Vandré entrou em parafuso, o Dirceu se tornou um espertalhão e a Dilma, uma tecnoburocrata que engole até o neoliberalismo porque, tecnica e burocraticamente, lhe parece ser a melhor solução para fazer as coisas andarem sob o capitalismo, com cuja sobrevivência parasitária e catastrófica já se conformou.

99% dos companheiros agora dirão que o Dirceu fez pior. Mas, nunca desculparei a Dilma por nos ter igualado aos amorais que, na hora da necessidade, agarram sofregamente a primeira boia que lhe aparecer pela frente, mandando às urtigas tudo que haviam dito e jurado no passado.

Éramos cavaleiros da esperança, ela nos fez ser vistos como tão merecedores de desconfiança quanto quaisquer outros políticos. Da sua maneira atrapalhada, causou dano incomensurável à imagem dos revolucionários.]

Posso ser um sentimental, mas me machuca ver o que o Vandré se tornou, como o Dirceu vem sendo degradado e quão longe a Dilma está indo na destruição da sua biografia. Gostaria imensamente que tivessem saído de cena com dignidade. E penso que as ressalvas que lhes fazemos no presente não anulam sua grandeza no passado.

Brecht disse tudo:

“Infelizmente, nós, 

que queríamos preparar o caminho para a amizade, 

não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos. 

Mas vocês, quando chegar o tempo

em que o homem seja amigo do homem, 

pensem em nós

com um pouco de compreensão.”

*****************************************

 
TIRA O BODE DA SALA, DILMA!!!
Celso Lungaretti, no blogue Náufrago da Utopia

A melhor antevisão do que nos espera no restante do mês do cachorro louco é a do dirigente dos sem-teto, Guilherme Boulos, neste artigo aqui:

Agosto será um mês decisivo, em que as ruas colocarão em jogo projetos distintos para o Brasil.

De um lado, a ‘nova direita’ convocou mobilizações para o dia 16, com apoio declarado do PSDB, da Rede Globo e da maior parte da mídia. (…) Querem aproveitar o avanço da Lava Jato e a corrosão do apoio ao governo para emplacar o impeachment de Dilma.

…Do outro lado, em 20 de agosto, movimentos sociais de todo o Brasil estão organizando mobilizações para apresentar outras saídas para a crise. MTST, MST, CUT, CTB, Intersindical, UNE, setores da Igreja Católica, movimentos negros e de juventude estarão nas ruas defendendo direitos sociais, enfrentando o ajuste fiscal do governo Dilma, mas enfrentando também a ofensiva da direita golpista e as manobras de Cunha.

Torcer, eu torcerei para o time do dia 20, obviamente.

Mas, sinto na espinha o mesmo calafrio de quando, pouco antes da partida contra a Alemanha na última Copa do Mundo, soube que o Felipão escalara o atacante Bernard ao invés de um meiocampista defensivo.

A tal nova direita entrará em campo unida em torno do objetivo claro e definido de derrubar Dilma.

A constelação de forças progressivas tentará, ao mesmo tempo, defender o mandato da Dilma e derrubar a política econômica da Dilma.

O povão não vai entender a sutileza. E os que têm prevalecido ultimamente nas ruas concentrarão fogo, enquanto os que têm se mostrado mais fracos vão lutar em duas frentes. Conclusão óbvia: será enorme a chance de sofrermos outro 7×1.

A menos que a presidenta desate o nó o quanto antes, exonerando Joaquim Levy e anunciando que o governo desistirá da política econômica neoliberal e vai reassumir as bandeiras tradicionais do PT. Aquelas sob as quais ela se reelegeu.

Ainda dá tempo, desde que a Dilma se compenetre de quão decisiva será a batalha das ruas. Se a nova direita der mais uma demonstração de força e as forças progressistas de fraqueza, o impeachment se tornará praticamente inevitável.

Tira o bode da sala, Dilma!!!

Helio Rubens
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