Dia do Historiador
Dia 19 de agosto é o dia nacional do Historiador. Diz-se que a data foi instituída pela Lei nº 12.130, de 17 de dezembro de 2009, em homenagem a Joaquim Nabuco, historiador brasileiro e destacado abolicionista. Ao consultar algum almanaque, verificar-se-á que também é dia mundial da fotografia, dia mundial humanitário, dia nacional do ciclista e dia do ator de teatro.
Enfim, dia 19 de agosto é um dia para se comemorar a vida. Sem história, não há vida e vice-versa. Sem o valor humanitário, a vida se perde. Sem a arte e o esporte, a vida perde o seu gosto. Sem a fotografia, a vida perde o registro de importantes momentos.
Apesar da data comemorativa ao dia do Historiador ter sido instituída em 2009, somente este ano é que se regulamentou a profissão. Uma luta que atravessou décadas e que sempre teve como empecilho o receio do poder da história sobre a consciência das pessoas. A História permite o desenvolvimento do olhar crítico sobre a sociedade, atingindo aos pilares que a sustentam, seja a religião, a economia ou a política. Na era dos “fake News”, a História se coloca como uma tábua de salvação (não a única), ao permitir que a criticidade aguçada do leitor possa permitir a seleção daquilo que pode ser fato e daquilo que certamente é um boato.
Não é sem propósito, portanto, a frase atribuída a Peter Burke que diz: “A função do historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer”. Outro eminente historiador, Eric Hobsbawn, fez afirmação semelhante ao dizer que a função do historiador é “lembrar aquilo que os outros esquecem, ou querem esquecer”.
Talvez seja este o motivo pelo qual a regulamentação da profissão de historiador no Brasil tenha demorado tanto para ocorrer. A Lei Nº 14.038, de 17 de agosto de 2020, que trata dessa regulamentação foi assinada pelo presidente Bolsonaro, não sem alguma resistência. O presidente havia vetado o Projeto de Lei (que é do senador Paulo Paim, do PT, e que tramitava no Congresso desde 2012), mas o veto foi rejeitado pelos parlamentares.
Por essa lei, são considerados historiadores portadores de diploma de curso superior em História, expedido por instituição regular de ensino; portadores de diploma de curso superior em História, expedido por instituição estrangeira e revalidado no Brasil, de acordo com a legislação; portadores de diploma de mestrado ou doutorado em História, expedido por instituição regular de ensino ou por instituição estrangeira e revalidado no Brasil, de acordo com a legislação; portadores de diploma de mestrado ou doutorado obtido em programa de pós-graduação reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES que tenha linha de pesquisa dedicada à História; profissionais diplomados em outras áreas que tenham exercido, comprovadamente, há mais de 5 (cinco) anos, a profissão de Historiador, a contar da data da promulgação desta Lei.
Assim, tanto os professores de História quanto aos que se dedicam à pesquisa histórica são considerados, por lei, como historiadores. O conhecimento do passado sempre nos fascinou. Ainda hoje as crianças se encantam com álbuns de família, os adultos criam páginas de memória na internet, os jornais – especialmente do interior – dedicam espaços para relembrar fatos do passado. Gostamos das histórias contadas pelos mais idosos e apreciamos os objetos de outras épocas.
A isso chamamos de memória. Essas lembranças que ora são nostálgicas, ora são inspiradoras, mas que sempre nos tocam de maneira especial. A análise e a interpretação desses vestígios do passado, sempre relacionados com o presente, é o trabalho do historiador. Por isso, enquanto a memória nos permite conhecer o passado apenas, a História nos traz a perspectiva do quanto aquele passado se faz presente em nossas vidas, influenciando-as ou mesmo servindo de impulso para ações transformadoras da realidade.
Por isso, como muito bem definiu outro historiador, Marc Bloch nos alerta que “O passado não se modifica, mas o conhecimento do passado se aperfeiçoa” e que “a incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado”. E o que mais precisamos nos dias de hoje é compreendermos o presente. Salve o historiador.
Carlos Carvalho Cavalheiro
19.08.2020
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Natural de São Paulo (SP, atualmente reside em Sorocaba. É professor de História da rede pública municipal de Porto Feliz (SP). Licenciado em História e em Pedagogia, Bacharel em Teologia e Mestre em Educação (UFSCar, campus Sorocaba). Historiador, escritor, poeta, documentarista e pesquisador de cultura popular paulista. Autor de mais de duas dezenas de livros, dentre os quais se destacam: ‘Folclore em Sorocaba’, ‘Salvadora!’, ‘Scenas da Escravidão, ‘Memória Operária’, ‘André no Céu’, ‘Entre o Sereno e os Teares’ e ‘Vadios e Imorais’. Em fevereiro de 2019, recebeu as seguintes honrarias: Título de Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça e Medalha Notório Saber Cultural, outorgados pela FEBACLA – Federação dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes e o Título Defensor Perpétuo do Patrimônio e da Memória de Sorocaba, outorgado pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos. É idealizador e organizador da FLAUS – Feira do Livro dos Autores Sorocabanos