A única que ficou
E lá estava ela. Inacreditável! Há anos todos já haviam partido! Afinal, quem iria permanecer naquele fim de mundo? Ainda mais depois da grande enchente, da epidemia e do acidente nuclear. “Almas abandonadas”. Sim. Este era o nome da, agora, cidade fantasma. Também, com esse nome, não era esperado destino muito diverso.
Entretanto, “Almas Abandonadas” já fora uma cidade com almas vivas, digamos. Uma cidade pequena, mas com atividades de serviços e comércio, como qualquer outra, salvo o fato de ter, a 10 km de distância, uma usina nuclear dos anos 70. Fora isso, cidade comum, do interior, como tantas brasileiras.
Mas, como dizia… Ela ainda estava lá. Recusou-se a deixar o município quando da grande enchente provocada pelo transbordamento do Rio “Cruzes” e da epidemia que se alastrou rapidamente na região e, embora com apenas algumas centenas de companheiros, permaneceu.
Todavia, de forma repentina, adveio o terrível acidente nuclear. Nesta ocasião, quem sobreviveu, deixou de vez “Almas Abandonadas”, partindo para outras cidades e até outros estados.
Ah… Mas ela, não. Teimosa, ficou. Não aceitava despedir-se de cidade tão querida. Acreditava que ainda havia chances de recuperação. E ali permaneceu, sozinha.
Até que os anos passaram, a natureza retornou plena, os animais já estavam se reproduzindo e o ar foi purificando. Enfim, parecia que a vida se impunha no meio das construções agora degradadas.
Nunca precisou de muito para sobreviver então, ia se arranjando como dava. Também estava acostumada a permanecer, quando todos já haviam partido, não seria diferente desta vez. E assim ficou.
Até que o improvável aconteceu: um dia, um casal de idosos, saudoso da cidade onde passou a vida toda e onde criara filhos e netos, resolveu voltar e tentar sobreviver naquele lugar desolado.
Ao chegarem, os anciãos foram surpreendidos por uma pequena criança, que lhes entregou flores. Ao perguntarem o nome da menina, ela simplesmente respondeu: “Esperança”.
Patrícia Alvarenga
patydany@hotmail.com
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Natural do Rio de Janeiro/RJ, é escritora e poeta. Trabalha como Analista (área processual) do Ministério Público do estado do Rio de Janeiro. É Bacharel em Letras (UFRJ) e Direito (Uerj), pós-graduada em Educação (UFRJ). Dra.h.c. e Pesquisadora em Literatura. É autora do livro de poemas ‘Tatuagens da Alma – Entre Versos e Reflexões’, editora AIL, publicado neste ano, que foi escolhido como semifinalista do concurso ‘Livro do Ano 2021’, pela Literarte (o resultado do certame ainda não foi divulgado até a presente data). Participou do projeto ‘Parede dos Imortais’, na Casa dos Poetas, em Petrópolis-RJ, através da Associação Internacional de Escritores e Artistas. É coautora de, aproximadamente, 25 coletâneas. Detentora de prêmios literários, títulos e comendas, é também Embaixadora da Paz da Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos – OMDDH.
Membra vitalícia de seis academias literárias: ACILBRAS, FEBACLA, AIML, AIL, ALSPA (fundadora) e AILAP (fundadora). É ativista cultural nas redes sociais e participa de inúmeros saraus literários. Redes sociais:
Instagram: @patriciapoeticamente. Facebook: Patrícia Alvarenga