novembro 22, 2024
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O leitor participa: Cristina Siqueira: 'Poema sem nome'

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Cristina Siqueira

Poema sem nome

Espio pela fresta
Da janela sem horizonte
E mesmo que a escancare
Por ela não verei
Onde os fatos tramam espanto
Onde se perdeu o encanto da poesia
Vejo a árvore da minha rua
Que está ali todos os dias
Agora espera o outono
Para desfolhar-se
Cumprindo a sina prometida
Mas não consigo ver
Por mais que o olhar se estique
Onde está a semente da desumanidade
praga ruim por todos os lados
Até onde irá o ser humano agonizante em sua decadente
materialidade ?
Não somos feitos de plástico
Metal , concreto e discos rígidos
O coração pulsa
O sangue ferve no impulso ao futuro

Na toca do Metrô
O bunker improvisado
Seres acuados
A senhora que chora
Os alheios cães na coleira
As gaiolas de pássaros e gatos
Pela fresta da janela
Penetro em almas alheias
E o medo em seus olhos
Me leva a refleti-los nos meus
Sou o estudante sem destino
Com a mochila nas costas
Sou a mão daquele pai
Conduzindo a inocência da criança
Sou a mãe que o leite secou
Sou o filho que se obriga a pegar em armas
E vi o carro esmagado pelo tanque de guerra em tempo real
Na capital Kiev o silêncio assombra

Ainda outro dia
Abria esta mesma janela
O coração ao ver a árvore da rua
Rezava sem reza
Obediente ao sentimento
De um futuro imenso
Fruto da vitalidade dos povos
A seara do bem colhendo flores
A poesia viva

Mas hoje a tristeza invade
este mundo desumano
Os campos vazios
O princípio brota
da semente predadora
É horrível o que vejo
O poder nas mãos de homens obtusos , indomáveis e cruéis
Tempo do homem utilitário
Massa de números e só
A morte apaga
o ser se torna estatística

A guerra que está no ar
Invade cidades
matou jovens em Cobra
num ato de covardia
Fios manipulados
Por líderes mascarados
Que tapam a cara da verdade
E gozam com a mentira
Do que parece ser
Há muito mais por trás da cena

Pela fresta da janela
Vejo o desprezo pela vida
A humanidade perdendo a felicidade
Que sempre esteve ao alcance das mãos
E quase ninguém vê!

Tem os que pedem sangue
A ira que alimentam
Pulveriza tóxica
Se auto sustentam do caos
Almas entregues ao Feio
Mesmo não estando em combate
Criam a guerra

Atrás de cada tirano
Sempre dois e opositores
Usam o destino dos que querem paz
Arromba-se um portal
Passe livre para o escuro
Arquitetam o pior
Ataques cibernéticos
Dedo indicador no botão da morte
Cada um prefere a si
Antes da humanidade inteira
Brutal é a batalha do espírito
Brutal é a batalha dos homens
Escrita nas trevas e na luz
A regra é de ferro

E creio na semente
Da alma unificadora
Na beleza do espírito do povo
Que há de reagir
com as armas brancas da luz
Com a diplomacia e o diálogo
Imensa é a força vital da humanidade desperta
Quero vê-la brilhar

E penso :
que a nossa terra seja limpa
Oxigenada
Nua e original como o princípio
Que surja uma palavra nova
Salvadora
Com significado amplo
Paz , Poesia , Música ,
Amor , Liberdade , Ciência , Arte
Que seja incensado o homem de alma leve e nobre
Que o pensamento construtivo
seja por nossas crianças
O Amor sentido de outra maneira
Que não seja raso e utilitário
E a alma da vida comungue com todos os homens

Pela fresta da janela
Passa a angústia mundial
Vagueia sem destino

– O que esperar ?
– Creio em Milagres e no poder da fé raciocinada

Rompendo a fronteira da dualidade que se cria na duvida
Na ausência da fé
Na voragem de trevas e caos
Um novo mundo se anuncia
Em nada semelhante ao já visto

Me desculpem , sou poeta
E vejo um novo céu aqui na terra
Após a passagem pelo Purgatório e pelo Inferno

Abro a janela de par em par
Mesmo sem horizonte
Há almas fortes
Vidas tranquilas pelo que são
Simples e reais
Salvas do desespero completo
Quero luz 🌟

E oro 🙏

 

 

 

 

 

 

 

Sergio Diniz da Costa
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