O dia da mulher
Por anos a fio foi divulgada como verdadeira uma tradição inventada para justificar o Dia Internacional das Mulheres, comemorado em 8 de março. Essa história, amplamente divulgada por sindicatos e outros movimentos sociais, alegava que a data referia-se a uma greve de mulheres tecelãs e que teve consequências graves quando o patrão decidiu incendiar a fábrica na tentativa de demover as operárias do motim de ocupação daquele lugar.
Hoje quase não se ouve mais falar dessas versões. Uma pesquisa mais acurada aponta o início da comemoração da data a partir do início do século XX. Mas a ideia já estava gestada no século XIX, dentro do contexto de lutas emancipacionistas das mulheres. Afinal, as mulheres foram as mais prejudicadas com o surgimento da sociedade industrial, uma vez que trabalhavam as mesmas exaustivas horas que os homens, mas recebiam, em média, metade do salário. Ademais, muitas das mulheres que eram mães ainda se viam obrigadas a cumprir as tarefas domésticas e a cuidar dos filhos. Obviamente que as mulheres reconhecerão a exacerbação da exploração a que estavam submetidas.
Além disso, as mulheres operárias eram assediadas em locais de trabalho, não podiam votar e nem se eleitas, não tinham voz e nem vez. Os cargos de comando nas empresas jamais eram dados a mulheres. Sua competência era sempre colocada a prova.
O dia, porém, era instituído de acordo com a realidade de cada país. No Brasil, na década de 1920, os congressistas propuseram criar a data do Dia da Mulher, o qual, por proposta feita senador Marcílio de Lacerda, deveria ser o “Dia da Mãe Brasileira”, desvirtuando completamente o objetivo da comemoração (CORREIO DA MANHÃ, 27 jul 1920, p. 2). A data proposta seria dia 15 de agosto.
O movimento internacional socialista imprimiu esse dia como o da luta das mulheres pela sua emancipação. E, assim, começou-se a comemorar esse dia que foi oficializado na década de 1970 pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Carlos Carvalho Cavalheiro
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Natural de São Paulo (SP, atualmente reside em Sorocaba. É professor de História da rede pública municipal de Porto Feliz (SP). Licenciado em História e em Pedagogia, Bacharel em Teologia e Mestre em Educação (UFSCar, campus Sorocaba). Historiador, escritor, poeta, documentarista e pesquisador de cultura popular paulista. Autor de mais de duas dezenas de livros, dentre os quais se destacam: ‘Folclore em Sorocaba’, ‘Salvadora!’, ‘Scenas da Escravidão, ‘Memória Operária’, ‘André no Céu’, ‘Entre o Sereno e os Teares’ e ‘Vadios e Imorais’. Em fevereiro de 2019, recebeu as seguintes honrarias: Título de Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça e Medalha Notório Saber Cultural, outorgados pela FEBACLA – Federação dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes e o Título Defensor Perpétuo do Patrimônio e da Memória de Sorocaba, outorgado pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos. É idealizador e organizador da FLAUS – Feira do Livro dos Autores Sorocabanos