Árvores e cavernas
Não são poucas as vezes que eu, assim como Elias, desejo sentar embaixo de uma árvore e ali adormecer. Existe momentos em que os pés se cansam, em que o mundo se levanta e somos tomados pelo medo; queremos permanecer ali, embaixo dela, se possível para sempre.
De repente, toca o despertador; nos deparamos com o choque da realidade; temos que comparecer àquela reunião inadiável; está na hora do trabalho; o filho adoece e precisamos providenciar a compra do remédio; nos sentimos sem forças para levantar. Então, no momento exato, o Criador vem e nos fornece o alimento necessário para enfrentarmos o dia. É como se ele mesmo organizasse a nossa agenda, com uma série de compromissos, nos impelindo a prosseguir; é como se Ele nos dissesse: ‘Coragem! Toma o seu café e vá!’.
Quantas vezes um sorriso esconde a tristeza na alma; quantas vezes você aconselha um amigo com o peito em frangalhos; quantas vezes sua intenção é boa, mas tudo sai errado; quantas vezes você consegue matar os ursos e os leões do seu dia, e na volta para casa você avista novamente aquela árvore e deseja então se despir de tudo, jogar no chão sua bolsa pesada, e ser simplesmente você: um ser frágil desejando abrigar-se, esconder-se, isolar-se repousar; hibernar, sem que nada e nem ninguém lhe incomode.
Você planeja aquele encontro em família, compra o que há de melhor, prepara o alimento. Seu cabelo preso, o rosto lavado sem maquiagem, aquela roupa de andar em casa; você não teve tempo para si, porque priorizou os outros. A casa estava limpa, a comida e a sobremesa prontas; tudo parecia perfeito; você pôs amor em tudo isso, mas ninguém percebeu. A massa desandou; o almoço familiar terminou em discussões. E avistamos a árvore; ela animosamente nos atrai, e nos diz: ‘Vem!’.
Então, de repente bem cedo o bebê chora querendo mamar; o telefone toca e a sua mãe precisa de ajuda; é segunda-feira, dia de passar o lixeiro. No fundo a gente queria era permanecer dormindo debaixo da árvore. Acomodação? Nem sempre.
E o Criador põe uma farta mesa de café matinal, e mais uma vez nos diz: ‘Alimente-se e vá!’.
Muitas vezes necessitamos mais do que uma árvore para nos servir de abrigo; tem dias que o que desejamos mesmo é de uma caverna para ‘sumirmos do mapa’; um lugar distante, onde ninguém possa nos encontrar; onde a gente possa esbravejar e chorar sem sermos vistos ou julgados. Têm dias em que os ursos e os leões diários é que desejam nos matar; têm dias que os ventos são fortíssimos, e nós, em busca de proteção, buscamos o fundo da caverna. Nesses períodos, somente o café da manhã não é o suficiente para nos sustentar, seria preciso uma refeição reforçada. Até que a gente escuta a voz do Criador nos dizendo para chegarmos até a entrada da caverna e observarmos que, no lugar do furacão que, sedento, almejava nos tragar, a atmosfera mudou: uma brisa doce e suave toma conta do ambiente, nos convidando e nos impulsionando a seguir nossa jornada.
Alguém disse que seria fácil, que não existiriam os percalços?
Somos humanos, vulneráveis, frágeis, pó, e muitas vezes a nossa vontade é a de ceder aos chamados das árvores e cabanas, assim como fez Elias; e muitas vezes necessitamos mesmo desse tempo; mas o Criador, percebendo quão profundo está o nosso sono, amorosamente nos desperta, nos alimenta e nos encoraja, até que a nossa missão na Terra seja completamente cumprida.
Claudia Lundgren
tiaclaudia05@hotmail.com
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Natural de Teresópolis (RJ), é poetisa, escritora e Educadora Infantil. É Acadêmica da ACILBRAS, da AIL e da FEBACLA; é Acadêmica Correspondente da Academia Caxambuense de Letras e da Academia de Letras de Teófilo Otoni, e Membro Efetivo da Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas (SBPA). Também pertence à ALB e a ABC, ambas virtuais. Recebeu Menção Honrosa no I Concurso de Poesia Junina e obteve o 9º lugar no XXXIV Concurso de Poesia Brasil dos Reis, (Ateneu Angrense de Letras e Artes). Foi homenageada com a Comenda Acadêmica Láurea Qualidade Ouro, a mais alta comenda da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes e com o Prêmio Cidade São Pedro de Aldeia de Literatura. Participou de dezenas de Antologias Poéticas. No início de 2019 lançou seu primeiro livro solo, ‘Alma de Poeta’ (Editora Areia Dourada), que recebeu o Troféu Monteiro Lobato como o melhor livro de poesia, no evento ‘Melhores do ano 2019’ (LITERARTE), e recentemente, lançou seu segundo , ‘Simplesmente Poemas’, com o selo AIL.