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Angelo Lourival Ricchetti: Partes I e II de um livro que conta a história de uma família desde 1400 até 2023. Ficção com base em documentos e narrativas de pessoas rais

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angelo-a-08-de-agosto-de-2016-1NOTA DO EDITOR: é com grande satisfação que apresento um novo clunista do nosso jornal. É o ANGELO LOURIVAL RICCHETTI, nascido em São Manuel/SP. Começou como office boy da Mesbla, trabalhou como Técnico da Reforma do Estado no Governo Paulista de 1975 até 2000 e como Assessor Técnico de Gabinete da Casa Civil de São Paulo, de 2000 até 2010.  Participou da primeira escola livre em cinema criada por Assis Chateaubriand em 1958. Concluiu o curso de graduação em Administração Pública em 1974, pela Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo SP. Cursou a disciplina Dramaturgia com bolsa da Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Estado de São Paulo no ano de 1998. Atualmente coordena o Cine Clube de Itapetininga e o Grupo de Estudos sobre a Complexidade, ambos do Instituto Julio Prestes, de Itapetininga. É membro da Academia Itapetiningana de Letras e coordena o projeto ‘Literatura Viva’– Oficinas para escritores iniciantes, projeto realizado em parceria com a Secretaria de Cultura e Turismo de Itapetininga e a Academia Itapetiningana de Letras. É também membro dos clubes de leitura ‘Leia Mulheres’ e ‘Clube do Livro’. Está publicando o seu quarto livro: ‘Da arte de se criar pontes’, um romance sobre uma família desde 1400 a 2023, obra de ficção. É membro do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga.

Do que se trata esta obra de ficção? Ela foi escrita com base em dados e informações de muitas pessoas e dados colhidos em páginas da Internet. Narra a vida de uma família desde 1400 até o ano de 2023, conforme os dados foram sendo encontrados e aproveitados para a escrita de ficção, bem como acontecimentos possíveis ou imaginados em algumas cidades.

Link de acesso: https://www.facebook.com/artedesecriarpontes/

DA ARTE DE SE CRIAR PONTES – PARTES I e II

Obra de ficção com base em textos escritos por Uth com a ajuda da sua esposa Lucila de Campos Mello Ricchetti

Por Kainã Ricchetti e comentários de Lolou Ricchetti

(foto do Uth e Lucia)

– O que me reserva o destino? Perguntei a mim mesmo.

– Destino não existe! São suas ações que criam o seu viver e o da humanidade. Respondeu o meu lado oculto.

– Existem, porém, os acasos… E as necessidades… Respondo apreensivo.

 

Capítulo primeiro

– Vô Lolou, o que são esses textos nesses arquivos?

Ele me olha bem nos olhos e não responde.

Fica pensativo e depois me diz que são fatos e observações do meu bisavô, pai dele e não gostaria de falar disso.

Eu me chateio, por ser muito curioso.

Faço um trato com ele: se me deixar ler prometo que não conto para ninguém. Ele dá uma gargalhada:

– Duvido muito. Perceba que já tem muita coisa escrita no mundo todas as horas. Para que escrever mais? Estes textos são pessoais, dos meus pais que já morreram. Se for contar para alguém pense bem. Fale antes comigo.

Ele está mentindo, eu sei. Há textos, fotos, arquivos, músicas dele e não apenas do pai dele, todos esses arquivos digitais, sem ordem alguma no muito velho computador dele.

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Assim, por várias vezes, enquanto não volto para as aulas na Faculdade de Arquitetura na capital do Estado, São Paulo, eu me encontro com meu vô Lolou para ler os arquivos, ver as fotos e, de vez em quando, ele me revelar os segredos desses arquivos.

Com o consentimento dele vou gravando e copiando aqui no meu micro computador. Este equipamento grava voz e transforma em texto, mas sempre preciso revisar, pois algumas palavras falham.

Não sei por que comecei isso tudo. Deve ser mera curiosidade.

Mas tem uma coisa que é um absurdo! Estamos em 2023 e meu avô usa um computador antigo. Agora que a tecnologia de informação cabe em qualquer mini objeto, por meio de chips e programas, eu não entendo a paixão dele por essa velha máquina de 1990.

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Embora seja inverno, o dia está claro, agradável. Itapetininga sempre foi uma região mais fria do sudoeste do Estado de São Paulo. Como é uma cidade com certo encanto para os que nasceram aqui ou moram aqui, ganhou o apelido de “Itapelinda”.

Chego à casa de Lolou e está junto dele a minha prima Laura mostrando a sua última pintura. Fico admirando e reconheço que ela é uma excelente pintora. Primeiro ela pinta em tela e depois usa o meio digital para fazer lindas imagens a cores.

Nesta pintura ela retrata a cores muito vivas o rosto do vô Lolou, um senhor velho é verdade, de mais de oitenta anos, porém cheio de vida nesses olhinhos azuis na pele clara do rosto que tudo enxergam e nunca param. Meu avô é baixinho e meio gordinho. Sou fisicamente diferente dele, Moreno, magro, mais alto. Não encontrei muitos parentes nossos que fossem como ele é.

Laura está com 16 anos. Lembro-me dela quando ela era bem criança e as pessoas tinham o costume de perguntar:

– O que você vai ser quando crescer? Ela respondia, com orgulho:

– Eu já sou uma artista!

Depois sua mãe, minha tia Amanda, disse que artista só depois que morria ganhava dinheiro. Que largasse mão de se pensar como artista.

Por um tempo a Laura não quis mais se julgar artista. Mas depois compreendeu que alguns artistas ganhavam um bom dinheiro ainda em vida.

Deixo de olhar a tela do micro computador de Laura para apreciar a entrada no quarto do vô Lolou de Mariana, minha outra prima, muito linda, modelo fotográfico de várias agências internacionais, com esse rosto e esse corpo maravilhoso, e com apenas 20 anos. Ela vem avisar:

– Vô não se esqueça de que tem que estar às nove da noite na inauguração do novo Centro de Descondicionamento Alimentar!

Acho estranho isso. Pergunto a ela o que é isso.

– É um local da Prefeitura Municipal de Itapelinda e das Ongs (Organizações Não Governamentais) para que as pessoas troquem sua alimentação por outra mais saudável e também aprendam a se socializar mais.

– Mas a prefeitura não usa meios digitais para isso?

Lolou responde rapidamente:

– Mesmo sendo tudo digital ainda a presença física, e até por isso, ela é muito valiosa e apreciada.

Acho muito diferente de tudo que sei sobre prefeituras, em especial as do Estado de São Paulo, Brasil. Tento saber mais.

– Mas que projeto é esse? Somente para os velhos? Vovô está com problemas?

Lolou dá uma gargalhada enquanto Mariana explica.

– Todas as pessoas de todas as idades podem frequentar. Depois eu mostro para você isso. Você fica longe de Itapetininga, é isso que acontece, não sabe mais nada.

Mariana é uma das moças mais lindas que conheço. Ela me dá um beijo no rosto:

– Kainã tenho de sair. Vou experimentar as roupas e sapatos para o desfile de moda da semana quem vem.

Pergunto onde vai ser. Ela dá uma risadinha:

– Roma, para o papa!

Não sei se Mariana está brincando comigo. De fato ela tem apartamento lá.

Ela sai enquanto admiro a beleza do corpo dessa prima. Puxo conversa com Laura, aqui do meu lado.

– Sempre pintando?

– Você gostou da minha nova pintura?

– Gostei sim, Laura, é bem bonita. Ela sorri me dá um beijo na testa e também sai. Fico sozinho com o vô.

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Vovô Lolou me mostra vários arquivos de pessoas com sobrenome similar a Ricchetti que ele encontrou pela Internet.

– Estes são Riquetti nobres inclusive com brasões para os quais há links. Primeiro são as Maison (Casas), veja algumas:

Comte de Caraman, puis Comte Caraman et Baron de Caramant et Pair de France, puis Marquis de Caraman et Pair de France, puis Duc de Caraman et Pair de France, Victor Marie Joseph Louis de Riquet (1786-1837), Baron de Riquet et de l’Empire, Maurice Gabriel Joseph de Riquet (1765-1835), Comte de Caraman, Baron de Riquet et de l’Empire, François Joseph Philippe de Riquet (1771-1842), Prince de Chimay, Joseph Marie Guy Henri Philippe de Riquet (1836-1892), Prince de Chimay, Prince de Caraman, Grand d’Espagne, Ministre belge, Victor Riquetti (1715-1789), Marquis de Mirabeau, Economiste, Gabriel Honoré Riquetti (1749-1791), Marquis de Mirabeau, Homme politique, Boniface Riquetti (1754-1792), Marquis de Mirabeau, Homme politique et militaire.

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Vô Lolou me diz que é citado o Canal Du Midi, uma obra que deu o título de nobre ao autor. Esse canal, inaugurado em 1861, por meio de ligações entre vários rios e lagos, fez surgir uma estrada aquática entre o cento da França e os portos de mar. Representou a possibilidade de escoamento das safras pelos agricultores. Atualmente serve também com uma estada aquática para turismo.

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Lolou abre arquivos sobre a Itália e os da Famiglia Ricchetti e assemelhados, quanto ao sobrenome, que varia muito conforme as fontes, sendo o primeiro arquivo o de um Ricchetti de família judia:

“Joseph Shalit ben Eliezer Riqueti (Richetti) was a Jewish-Italian scholar born at Safed, and who lived in the second half of the 17th century at Verona, where he directed a Talmudical school. He was the author of Ḥokmat ha-Mishkan or Iggeret Meleket ha-Mishkan (Mantua, 1676), on the construction of the First Temple. He also published a map of Palestine which Zunz supposes to have been prepared as one of the illustrations of a Passover Haggadah.

Besides his own works Joseph edited Ḥibbur Ma’asiyyot (Venice, 1646), a collection of moral tales, and Gershon ben Asher’s Yiḥus ha-Ẓaddiḳim, to which he added notes of his own (Mantua, 1676). He is possibly the earliest author to mention the Midrash ha-Gadol, although it is not clear whether he was referring to the Yemenite work currently known by that title.”

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Ainda sobre a questão de serem os Ricchetti de origem judaica, ele mostra uma notícia:

“Elia Enrico Richetti Elia Enrico Richetti Rav Elia Enrico Richetti è nato a Milano il 6 giugno 1950. Dopo aver conseguito la Maturità classica presso le Scuole della Comunità Ebraica di Milano, si è iscritto alla facoltà di Lingue e Letterature Straniere presso l’Università degli Studi di Milano (mai completata) e, lavorando come ufficiante di culto presso la Sinagoga Centrale di Milano e funzionario dell’Ufficio Rabbinico, ha preparato in due anni, privatamente, l’esame di quarto anno del Collegio Rabbinico Italiano (Roma), e lo ha superato con la media del 9,5/10…”.

Ha pubblicato articoli su diversi giornali e periodici, ebraici e non ebraici, italiani; è autore di un saggio su “Le Mitzwòt al femminile” (1993), nonché di qualche breve studio su “La Rassegna Mensile di Israel”. Ha curato e cura l’edizione di formulari liturgici ebraici, ed ha in corso di stampa una sua traduzione annotata del trattato “Sanhedrìn” della Mishnà.

Appassionato cantore di liturgia ebraica, è esperto nei riti di diverse Comunità ebraiche in Italia, di alcune delle quali sta registrando e preservando i canti.

È attualmente Rabbino della Sinagoga di Via Eupili a Milano, e collabora con le case editrici che si occupano di editoria ebraica.

(cópia de notícia de jornal reproduzida da Internet em fevereiro de 2014)

Lolou diz mais:

– Este rabino foi o chefe da Comunidade dos rabinos na Itália em 2014, se não me engano.

E por falar de judeus também tinha um recorte de notícia dizendo sobre os túmulos dos judeus mortos pelos nazistas na Segunda Grande Guerra Mundial. Um deles, na Hungria, dizia “Família Ricchetti”, mas com a bagunça que ficou aqui no meu computador, eu não encontro.

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Enquanto ele mostra essas antiguidades eu não consigo esquecer o que a Mariana falou sobre um tal centro.

– Lolou me fale mais sobre esse tal de Centro. Depois você me mostra essas coisas velhas ai.

– Depois, depois… Primeiro vamos ver o passado, antes que eu morra e tudo isso suma!

Dou uma risada alta porque ele é velho, é verdade, mas se tem a impressão que é um ser imortal, pela saúde e comportamento.

– Mas você é imortal meu vovô!

– Sou imortal por ser sócio da Academia Itapetiningana de Letras. Sou imortal na memória, ao menos por curto tempo, de vocês que conhecem ou por alguma coisa que eu tivesse feito. Não fiz nada e então sou também bem mortal! E ele agora é ele que dá uma risada.

– Como diz a vó Júlia você vai viver mais de cem anos. Mas me diz uma coisa que não entendi. Os Ricchetti são judeus? São nobres? São ricos?

– Não sei bem sobre isso. Talvez fossem ricos por serem judeus. Mas com a vinda para o Brasil, ou mesmo na Itália, pode ser que tenham abandonado a religião e os costumes dos judeus. Pelo o que sei quase todos que conheço são católicos.

– E são ricos?

– Eu diria que todos foram ou são de classe média para média alta. Menos meu pai Uth que sempre foi pobre.

– Tem alguém, além daqueles nobres franceses, que são nobres?

– Minha avó paterna, Maria Giovanna D’Andrea, antes de casar, vivia no Palácio do Rei Humberto I. que sucedeu a Vitor Emanuele, porque sua mãe era ama de leite da filha dele. Quando se casou com um dito “plebeu” como o maestro Ricchetti, não teve mais os requisitos para ser nobre. Mas ela sempre agiu como se fosse nobre. Lembro-me de minha avó Maria Joana, como era chamada, indo até em casa levar alguma coisa que ela pegava na Casa Ricchetti e se deparar com minha mãe Lucila servindo polenta para os filhos. Com seu dialeto italiano e o português que mal aprendeu a falar, ela disse:

– “Questo” é para porcos comerem…

Mas agora chega de conversa e suposições. Vamos ver mais das “coisas” velhas que pesquisei na Internet. Mesmo sem as fontes que esqueci de ir anotando, eu acredito nessas informações.

Fazer o quê? Ele quer mostrar, que mostre então.

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– Veja agora um Ricchetti cientista:

Charles Robert Richet nasceu em 26 de agosto de 1850 e morreu em quatro de dezembro de 1935 em Paris. Aos 37 anos de idade foi nomeado lente catedrático de Filosofia da Faculdade de Medicina de Paris.

Conhecido como o fundador da Metapsíquica, desempenhou um papel fundamental no processo de desvendar o desconhecido mundo dos fenômenos anímicos. Em 1905, então presidente da Sociedade de Investigações Psíquicas – Londres propôs o nome de Metapsíquica a este conjunto de conhecimentos.

Richet definiu a Metapsíquica como a “ciência que tem por objeto fenômenos mecânicos ou psicológicos, devido a forças que parecem inteligentes, ou a poderes desconhecidos, latentes na inteligência humana”.

Richet como fisiologista de nome internacional, se destingiu por seus trabalhos no campo da soroterapia e pelo descobrimento da anafilaxia, que lhe renderam o prêmio Nobel de Medicina em1913.

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Minha vó Maria Julia entra no quarto já dando ordens:

– Todo mundo fora do quarto, vamos! Preciso dar uma boa arrumada aqui.

E nos empurra para fora do quarto. Saíamos para a frente da casa na pracinha para tomar um pouco desse sol de inverno.

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De volta ao quarto Lolou continua:

– Olhe essa raridade! Este antigo arquivo mostra os da família, os mais antigos que foram possíveis de se encontrar. Eu achei usando links pela Internet.

  1. Nicola l’Erario, died 26 October 1760 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy167.

He married 49. Margarita Stefanelli.

  1. Margarita Stefanelli, died Unknown.

Children of Nicola l’Erario and Margarita Stefanelli are:

i.Angelo l’Erario, born 1736; died 9 March 1816 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy168; married Teresa d’ Imperio; died Unknown.

ii.Anna l’Erario, born 1751 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy; died 24 July 1811 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy169

iii.Vincenzo l’Erario, born 1760 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy; died 29 August 1835 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy; married Serafina Ricchetti.

  1. Nicola Ricchetti, born 1718 in Castelluccio Valmaggiore Bovino Italy; died 10 April 1770 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy170. He was the son of 100. Domenico Ricchetti. He married 51. Caterina Giannini.
  2. Caterina Giannini, born 1736 in Celle Italy; died 28 December 1802 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy170.

Children of Nicola Ricchetti and Caterina Giannini are:

i.Angelo Ricchetti, born 1756 in Castelluccio Valmaggiore Bovino Italy; died 4 September 1840 in Castelluccio Valmaggiore Bovino Italy171; married Elisabetta Agriesti; born 1768 in Faeto Italy; died 27 February 1802 in Castelluccio Valmaggiore Bovino Italy172.

ii.Giovanna Ricchetti, born 1771 in Celle Italy; died 24 November 1817 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy173; married Leonardo Checchia; born 24 February 1765 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy174; died 29 January 1829 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy175.

iii.Serafina Ricchetti, born 1763 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy; died 9 July 1843 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy; married Vincenzo l’Erario.

iv.Rosa Ricchetti, born 20 March 1767 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy176; died Unknown; married (1) Pietro Checchia; born 1761 in Faeto Italy; died 18 November 1817 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy177; married (2) Giovanni Gatti 1835 in Castelluccio Valmaggiore Bovino Italy; born 18 May 1765 in Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy178; died Unknown. More About Rosa Ricchetti:Baptism: 20 March 1767, Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy178.

More About Giovanni Gatti:Baptism: 18 May 1865, Casteluccio Valmaggiore Bovino Italy178

v.Lucia Ricchetti, born 1764; died 8 December 1803 in Castelluccio Valmaggiore Bovino Italy179; married Michele Giannetta; born 1762; died 4 December 1831 in Castelluccio Valmaggiore Bovino Italy180.

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Peço licença para o vô Lolou, pois estou com sede. Na verdade não aguento mais ele me mostrar essas postagens antigas. O que ele pretendeu armazenando isso?

Vou até a cozinha, apanho um copo limpo chego perto da torneira e quando vou encher o copo, minha prima Laura me impede.

– Não tome essa água assim! E tira o meu copo da minha mão. Fico surpreso.

– Mas é água tratada pela Companhia Estadual de Águas! Por que não posso?

Laura leva meu copo até uma torneira de um pote, explicando:

– Esta água aqui, além de mais fresca, já não tem flúor.

Pela minha cara de não ter entendido nada, ela continua.

– “Como nosso vô sempre fala, a ‘burrocracia” trata todos como iguais e nós não somos. Acontece que o Governo do Estado segue uma lei que é preciso colocar flúor na água porque as crianças precisam dele para se livrar de cáries.

– E isso está correto. Qual é o problema?

– Acontece que quem sabe quanto de flúor deve ser adicionado é o dentista, ele ou ela, que atende a criança. O governo, considerando todo mundo igual, coloca um tanto por cento para cada um dos cidadãos e com isso intoxica as pessoas com o flúor que causa muitos problemas para a saúde e para a vida de cada um de nós.

Bebo a água sem flúor. Até que o gosto parece melhor. Ela continua.

– A nossa prefeitura nos instrui como tirar o flúor da água antes de fazer qualquer coisa com ela. E tem o atendimento pessoal de dentistas que dizem aos pais quanto de flúor deve ser adicionado a cada filho. Em Itapetininga foi lançado em 2003 um livro, Flúor e outros vilões da Humanidade, pelo médico. Artur Antonio Chagas Monteiro.

Fico pensado que prefeito é esse! Que gente é essa de Itapelinda que não reconheço mais! Cada vez mais há algo que preciso compreender sobre a cidade, o prefeito, os outros…

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Volto para o quarto de estudo do Lolou para fazer mais perguntas sobre o prefeito, mas ele nem me deixa falar. Entusiasmado com os “tesouros” que achou na Internet sobre os velhos Ricchetti, Riquet, Richetti, Riquetti, logo recomeça:

– Há também um arquivo sobre outro Richetti, cuja descendência não está clara, ou seja, quem foram seus pais e parentes.

Pasquale Richetti, nascido em 1866, foi criado por uma família de Cesiomagiore e se chamava o pai adotivo Beniarmino Bortoluz! Pasqualie ficou com esta família até ir para o exército.

Depois se casou e imigrou para o Rio Grande do Sul, no Brasil, um pouco antes de 1887. Dele surgiu uma família imensa em terras gaúchas e posteriormente em Santa Catarina e Paraná.

Vovô Lolou fala que conheceu muitos membros dessa família, mas que vai contar depois sobre isso.

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Meu vô sai do quarto a chamado do meu pai Leon que quer falar com ele sobre sua preocupação por ser carteiro. Eu sei disso, pois pai Leon já comentara comigo que as correspondências raramente são escritas para serem entregues. Cada vez mais se usam os meios digitais para isso. Parece que a profissão de carteiro, como tantas outras, vai desaparecer. E meu pai, procura ouvir pessoas para ver como deve agir no caso de ficar desempregado.

É minha vez de fuçar os arquivos.

Encontro também uma referência no arquivo de senhora que imigrou para o Estado de Minas Gerais;

Arquivo Público Mineiro – APM

SA-862 – RICHETTI – Chefe da família: RICHETTI Felicitá – 35 anos

Livro: SA-862 pag.: 149v – Data: 05/04/1892 (Data de entrada na Hospedaria) – Nacionalidade: Italiana

Dependentes: RICHETTI Giovanna – 10 anos – filha, RICHETTI Annunziata – 8 anos – filha, RICHETTI Emilio – 5 anos – filho, RICHETTI Antonio – 3 anos – filho.

Embarcação: Aquitaine – Microfilme: Rolo 01- http://

Meu vô escreveu um comentário de que conheceu uma jovem Richetti pelo Orkut, antiga rede virtual de relacionamentos, natural do Estado de Minas Gerais, descendente de Felicitá. Mas, como muitos outros Ricchetti, não quis dar mais informações.

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Vou abrindo outros arquivos de texto e de foto, inclusive alguns que me parecem serem da intimidade dele. Minha curiosidade é tanta que mal percebo meu vô voltando. Rapidamente fecho os arquivos. Lolou senta ao meu lado e me indica um texto proveniente de um e-mail sobre um outro Angelo Ricchetti:

Ciao Angelo. Come tè, io mi chiamo Angelo Ricchetti nato a Troia (FG) il 07-12-1955, e anche mio nonno si chiamava Angelo Ricchetti figlio di Giuseppe Ricchetti. Mio nonno e nato a Castelluccio Valmaggiore, in Provincia Di Foggia nel 1881. Quasi tutti i Ricchetti che vivono in Provincia di Foggia prendono origine da Castelluccio Valmaggiore. Se vedi su Google Maps la distanza di San Bartolomeo in Galdo (BN) e Castellluccio Valmaggiore (FG) e di più o meno 50 – 60 km. Io con la mia famiglia, vivo a Troia (FG) a 15 km da Castelluccio Valmaggiore. Forse e possibile che ci sia un legame con i nostri antenati. Un Sincero Saluto

Vedi Angelo, allego una mappa stradale.

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Ao final do arquivo vô Lolou escreveu: Angelo Ricchetti, falecido em acidente de carro em 10 de março de 2015, na estrada que leva a Troia. Seu companheiro de infortúnio foi Mario Ragazzi. Na minha infância eu tinha como amigos dois meninos da Família Ragazzi. Coincidência?

Ele me conta:

– Este acidente me faz lembrar de outro em São Manuel quando eu estava lá de férias da Faculdade. Foi com meu primo Ulysses, filho de minha tia Helena Alves Ricchetti. Minha prima, Maria Helena, já casada, veio de carro de Marília, onde morava até a entrada de São Manuel sem saber que seu irmão, que ela estimava muito, havia morrido. Diziam apenas ter sofrido um acidente de carro. Até hoje eu ainda escuto os gritos alucinantes dela em meus sonhos ao ver o irmão no caixão sem metade do rosto.

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Vô Lolou diz que o seu avô paterno se chamava Angelo Ricchetti, filho de Lorenzo Ricchetti e Angela Turso, batisado na Paróquia de Castelluccio Valmaggiore, em 02/08/1866 e sua avó era Maria Giovanna D’Andrea, filha de Matteo D’Andrea e Isabella Reino, batisada na Paróquia de San Bartolomeio in Galdo, em 14/03/1869. Eles se casaram na Paróquia de San Bartolomeo in Galdo, em 18/02/1889.

Pergunto se os avós dele eram imigrantes. Ele me olha por um tempo para depois dizer:

– Você precisa estudar mais, Kainã. Pelo visto não sabe nada da força do capitalismo, da industrialização, do efeito no mundo, na Europa, na Itália e no Brasil dessa mudança que houve do sistema feudal para o capitalismo.

Eu fico aturdido. O que será que deixei de estudar? E o que isso que ele falou tem com os arquivos dele?

Meu avô dá uma gargalhada!

– Por que está rindo? Você me assusta, sabe?

– Estou me divertindo com sua cara de quem está bem por fora de assuntos importantes para se compreender a vida das pessoas hoje em dia. Vou explicar, não precisa ficar chateado com minha risada.

Fico quieto. Quem sabe eu começo a entender o que esse velhinho está querendo de mim que não deve ser apenas arrumar os arquivos digitais dele.

– Os meus antepassados italianos viveram momentos de vida tanto na fase do feudalismo como na fase posterior, do capitalismo, da industrialização. Deixa-me encontrar aqui nos meus arquivos um texto ótimo que explica bem.

Ele procura e encontra. Diz para eu ler. Eu leio:

O século XIX foi marcado por uma intensa expulsão demográfica na Europa. O alto crescimento da população, ao lado do acelerado processo de industrialização, afetaram diretamente as oportunidades de emprego naquele continente.

A transição entre um modelo de produção feudal para um sistema capitalista afetou diretamente as condições sociais no continente europeu. As terras ficaram concentradas nas mãos de poucos proprietários, havia altas taxas de impostos sobre a propriedade, fazendo o pequeno proprietário se endividar com empréstimos.

Na segunda metade do século XIX, a Península Itálica estava dividida em vários reinos, que eram Estados independentes. Alguns destes reinos eram, inclusive, governados de forma autoritária por famílias reais da Áustria e da França. A Igreja Católica também tinha grande poder político em algumas regiões.

Neste contexto, não havia unificação de leis, moeda, língua e sistema político. Portanto, ainda não havia um país com nome de Itália com poder centralizado.

O Risorgimento (em português: Ressurgimento) é o movimento na história italiana que buscou entre 1815 e 1870 unificar o país, que era uma coleção de pequenos Estados, submetidos a potências estrangeiras.

wikipedia.org/

– Pronto. Já li. Mas o que isso tem de importante?

Ele dá um murro na mesinha do computador e me olha com raiva;

– Tudo que estou mostrando é sobre a Família Ricchetti, italianos então tem de entender o pano de fundo, o que está por trás das histórias de vida destes nossos antepassados. Ninguém vive isolado do seu contexto, da sua realidade humana. Quando o capitalismo começa a ganhar força por meio de revolução burguesa, começa também a destruir o modo de vida que existe. Tudo vai mudando por bem ou por mal. Leia mais um pouco e aprenda!

Durante o século XIX, a expansão do capitalismo e dos ideais políticos liberais alcançou diversas partes da Europa promovendo um tempo de grandes transformações. Na Península Itálica, essas mudanças ganharam força quando a grande burguesia nacional se mostrou interessada em unificar os territórios com o objetivo de ampliar seus mercados e lucros. No entanto, a região era dividida em vários estados absolutistas ou tinha parte seus territórios dominados por outras nações.

No Brasil, a Inglaterra interessada no assalariamento dos empregados, necessidade primeira para o capital, forçou o término da escravidão dos negros africanos. O governo, precisando substituir a mão de obra escrava, facilita a vinda dos imigrantes da Italia, tanto os que perderam suas terras, como os artesãos urbanos, resultado do avanço do capitalismo tanto na Europa como na América, de modo geral.

Mundo Educação/

Leio e busco entender essas frases certamente escritas por algum estudioso. Leio mais um trecho.

A partir da década de 1870, foram impulsionados pelas transformações socioeconômicas em curso no Norte da península itálica, que afetaram, sobretudo, a propriedade da terra. Um aspecto peculiar à imigração em massa italiana é que ela começou a ocorrer pouco após a unificação da Itália (1861), razão pela qual uma identidade nacional desses imigrantes se forjou, em grande medida, no Brasil.

Wikipédia, a enciclopédia livre.

Acho que começo a compreender esse tal “pano de fundo” que o Lolou falou.

– Então quer dizer que nossos antepassados viviam lá nos seus locais muito bem, mas com essa pressão externa começaram a passar fome e tiveram que sair para outros lugares. É isso?

– Viva! Está começando a pensar, meu sobrinho Kainã! Tem uma frase interessante registrada em algum local do meu computador que é quando um italiano, sabe-se lá quem, pergunta para o Ministro de Estado da Itália por que precisa deixar a terra pátria. Achei! Leia.

“Que entendeis por uma Nação, Senhor Ministro? É a massa dos infelizes? Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos pão branco. Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho. Criamos animais, mas não comemos a carne. Apesar disso, vós nos aconselhais a não abandonarmos a nossa Pátria? Mas é uma Pátria a terra onde não se consegue viver do próprio trabalho?”

WEBER Cidadania Italiana/

Então se precisa criar uma nova pátria aqui no Brasil e outros lugares do mundo. Entendeu?

– Entendi vô Lolou. Entendi também que seu avô, meu bisa, então resolvi imigrar para o Brasil.

– Errado!

Ele fica bravo e de novo esmurra a mesinha coitada que não tem nada a ver com a raiva dele com um neto ruim de entender as coisas.

– Seu avô veio de vapor, navio, de primeira classe, com passagem comprada. Ele tinha dinheiro, era de uma família burguesa já. Enquanto os outros viajavam nos porões do navio, passando mal, frio, fome, alguns morrendo. Eram pobres, alguns pequenos agricultores arruinados pela expansão dos latifúndios, outros pequenos negociantes, artífices, o governo do Brasil pagando a passagem deles. Enquanto a Italia se tornava nação ela expulsava mais da metade dos que lá vivam para lugares como o Brasil, proibido que estavam de ter mão de obra escrava, por causa da Inglaterra industrializada, com trabalhadores assalariados. Mas agora já estou repetindo o que você já leu.

– Tudo bem, vô, é um reforço para minha aprendizagem.

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(continua)

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Helio Rubens
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