Ella Dominici: ‘Abuso da alma feminina’
Poema oferecido ao murmúrio em desespero feminino
trouxeste-me ao topo da árvore
subo tronco trepo galhos
da copa vejo engasgos dos frutos
os pássaros-fêmeas gorjeiam refluxo
da acidez que regurgita no gargalo
fez murchos os frutos, deu mofo
nos muitos colhidos avulsos
os restos são tufos de teia, redutos
das veias sulcadas de insultos
por brutos machos mascando fumo,
doses de Uísques,bières ou a capitular charutos
são muitos milhares, maridos, amantes, quaisquer
“Comme une vision , d’un déjà vu “
Ressurreição da alma feminina:
Àquelas que suportam abusos
mulher que se anula, a afronta lhe assombra
passarinho-fêmea-ferida-falta-lhe-força
sucumbe calada e lhe falha a forte fala
no choro, na arte, na escrita, demanda
socorro em perigo a aflita sanciona gemido
da alma adentrando o presságio de um fim
“Fim sim de um arquétipo feminino
Construído pela machista sociedade
Figurativização do papel de fragilidade.”
do topo da árvore desço
não posso te dar meu amor
senão no presentemente
onde te aconchego
mulher, os teus frutos são tenros de caldos
aprazíveis ao mundo que sempre te quis
não tenho a te dar senão meu poema
levante do chão onde restas tartufo
perfumado tartufo bianco
conheça o valor em tua conquista,
na autoestima não desistas
és diva és divina, terrena e fêmea
matriz amada, eterno chafariz
de muitas águas
Ella Dominici
Contatos com a autora
- Soneto do mel - 18 de novembro de 2024
- Morenos fios - 11 de novembro de 2024
- Seres secos - 28 de outubro de 2024
Natural de São Paulo (SP), é endodontista por profissão e formada no curso superior de Língua e literatura francesa. Uma profissional que optou por uma ciência da área da saúde, mas que desde a infância se mostrava questionadora e talentosa na Arte da Escrita, suscitando da parte de um mestre visionário a afirmação de ela ser uma escritora nata, que deveria valorizar o dom que recebera. Atendendo ao conselho recebido, na maturidade Ella cumpre o vaticínio e lança o primeiro livro solo de poemas (Mar Germinal), rompendo com a escrita meramente contemplativa, abraçando fragmentos, incertezas e dualidades para escancarar oportunidades a si como ao outro. Dribla o autoritário tempo, flagra mazelas psicológicas em minúsculas e múltiplas impressões exteriores e internas. É membro da AMCL – Academia Mundial de Cultura e Acadêmica Internacional da FEBACLA. Coautora de várias antologias. Publica na Revista Internacional The Bard e se inscreveu no 8º Festival de Poetas de Lisboa, participando da antologia promovida pelo evento