novembro 22, 2024
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Celso Lungaretti: 'DESERDADOS DA GLOBALIZAÇÃO EM MARCHA: O PIOR AINDA ESTÁ PARA VIR!'

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Celso Lungaretti: ‘TRIUNFO DE TRUMP DEVEU-SE À SEDUÇÃO PELO NACIONALISMO POPULISTA’ (extrato)

Por Demétrio Magnoli

 

O brexit não seria aprovado sem os votos das regiões industriais deprimidas de Midlands, antiga fortaleza eleitoral do Partido Trabalhista. Nos EUA agora, como no Reino Unido meses atrás, o homem esquecido segue o demagogo nativista que clama contra o estrangeiro –isto é, o imigrante mexicano ou o exportador chinês.

Uma chaga purulenta infecta a globalização. Hoje, nos EUA, os 1% mais ricos concentram 21% da renda total, perto dos 24% de 1929 e mais que o dobro dos 9% de 1975. A renda média dos 40% mais pobres caiu 8% em relação a 2006. A recuperação econômica significou estagnação ou retrocesso para muitos.

A tóxica mensagem do trumpismo foi ouvida pelos deserdados da globalização e da inovação tecnológica. Uma massa silenciosa de perdedores falou pelo voto, apertando os dedos nas teclas do racismo, da xenofobia, da aversão ao Islã e, sobretudo, da vingança contra a elite globalista

“Nada está escrito na pedra”, rejubilou-se Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional, candidata que lidera as sondagens para a eleição presidencial francesa de abril. Ela congratulou Trump, uma alma irmã, dizendo que o 9/11 abre caminho para dissolver o poder da elite política e midiática.

brexit antecipou o Dia de Trump, que anuncia o triunfo da FN, explicou, encaixando os eventos numa sequência inteligível… 

“O mundo deles entra em colapso; o nosso está em construção”, comemorou Florian Philippot, chefe estrategista de Le Pen.

Mas quem são eles, cujo mundo desaba? Eles são os políticos de centro-esquerda e centro-direita, os empresários das novas tecnologias, os financistas sem fronteiras, os profissionais qualificados –mas, também, os imigrantes, os refugiados, os muçulmanos, os judeus, as pessoas de cor ou religião diferente. Make America Great Again (…) dirige-se contra o cosmopolitismo e quer restaurar as certezas antigas, reconstruir uma imaginária idade de ouro.

Por Lungaretti 

O PROLETARIADO: ONTEM MOCINHO, HOJE BANDIDO…

No seu artigo semanal, desta vez excelente (eu o resumi aqui e a íntegra pode ser acessada aqui), o jornalista, sociólogo e geólogo Demétrio Magnoli pisou num calo muito dolorido da esquerda: o engajamento do sujeito revolucionário inicial do marxismo, o proletariado industrial, nas atuais cruzadas do retrocesso, apoiando as piores causas, conforme se constata no papel importante que desempenhou para a aprovação do Brexit e a eleição de Donald Trump.

[Isto para não falarmos no péssimo desempenho dos candidatos do Partido dos Trabalhadores nos municípios industriais da Grande São Paulo, quais sejam Mauá, Guarulhos, Osasco, Santo André e São Bernardo: após os recentes pleitos municipais, nenhum deles conta mais com prefeito petista.]

O aprofundamento deste tema requereria um texto muito mais longo e uma abordagem bem mais teórica do que é aceitável num blogue, mas sintetizarei o que considero mais importante:

  • Marx e Engels, no Manifesto Comunista de 1848, de certa forma anteviram a superação do capitalismo pelo socialismo segundo o modelo da superação do feudalismo pelo capitalismo, sem atentarem suficientemente para que, nele, a classe dominada (a burguesia) tinha clareza bem maior de seu papel histórico e de onde queria chegar;
  • as expectativas de ambos pareceram se confirmar quando o proletariado industrial reagiu incisivamente à exploração desmedida que sofria por parte do capitalismo selvagem;

  • mas isto só ocorreu enquanto os proletários não tinham mesmo nada a perder, exceto os seus grilhões;
  • lá pelo final do século 19, contudo, a etapa draconiana da construção da infra-estrutura básica para o desenvolvimento capitalista estava concluída e os patrões passaram a reduzir, gota a gota, as massacrantes jornadas de trabalho, a remunerarem um pouco melhor a mão-de-obra, a garantirem alguns direitos básicos dos trabalhadores. etc.;
  • com isto cooptaram os funcionários mais qualificados, que passaram a constituir uma espécie de aristocracia operária e a seguirem lideranças reformistas como as de Eduard Bernstein e Karl Kautsky, para quem o capitalismo não precisava ser superado mas, tão-somente, aperfeiçoado e humanizado;
  • a crescente acomodação dos operários dos países avançados foi respondida por teorizações como a de que o proletariado (ao contrário da burguesia, quando dominada) era incapaz de atingir por si só a consciência de classe, necessitando ser a ela conduzido por uma vanguarda que fosse politizando suas lutas, de início meramente reivindicatórias; 
  • o vanguardismo inerente a tal visão, identificada principalmente com a figura de Lênin, foi alvo de uma crítica premonitória de Trotsky, que depois dela recuaria (“Primeiro o partido substituirá o proletariado, depois o Comitê Central substituirá o partido e, finalmente, um tirano substituirá o Comitê Central”);
  • de qualquer forma, os operários (e outros assalariados) dos países capitalistas mais prósperos foram mesmo assim seduzidos por seu crescente poder aquisitivo sob o capitalismo e pelas maravilhas do consumismo, com o que as revoluções se transferiram para palcos inadequados segundo os próprios conceitos marxistas, quais sejam as nações periféricas e/ou com desenvolvimento econômico tardio, onde sofreram distorções tais que se tornaram presas fáceis de restaurações capitalistas;

  • agora, no entanto, a evolução tecnológica permite dispensarem cada vez mais a força de trabalho humana, além de ser mais vantajoso para o grande capital produzir um sem-número de itens na Ásia (principalmente), o que explica o fechamento de tantas indústrias nos EUA e Europa;
  • desesperados com o desemprego ou redução substancial de seus ganhos, os trabalhadores respectivos estão prontos para seguirem pregações rancorosas, inconsequentes e com imenso potencial de dano… exatamente como fizeram outros trabalhadores desatinados na década de 1920, ao escolherem Hitler e Mussolini como salvadores de suas pátrias.

O futuro que hoje se vislumbra é dos mais sombrios: a grande depressão econômica que, mais dia, menos dia, eclodirá, desta vez em escala mundial; catástrofes ambientais de todo tipo, cujas consequências só conheceremos quando estivermos em pleno olho do furacão (o Japão, p. ex., poderia ter sido palco de morticínio terrível em 2011, caso não fosse contido o vazamento radiativo subsequente a um terremoto e um tsunami); e, talvez, uma recaída na xenofobia populista extremada.

É hora de relermos Norman O. Brown, que via o capitalismo como corporificação do instinto de morte, alertando para a possibilidade de que, em sua marcha para o fim, ele arraste consigo a humanidade. 

AQUECIMENTO GLOBAL JÁ CASTIGA O BRASIL. ATÉ QUANDO O IGNORAREMOS?

Helio Rubens
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