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A fantasia humana no surrealismo de David Lynch

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Marcus Hemerly

‘Uma história real: a fantasia humana no surrealismo de
David Lynch’

Marcus Hemerly
Marcus Hemerly
flyer da coluna Cinema em Tela:  'Uma história real: a fantasia humana no surrealismo de David Lynch'
Flyer da coluna Cinema em Tela: ‘Uma história real: a fantasia humana no surrealismo de David Lynch’

“Todos os filmes são sobre mundos estranhos que você não pode entrar a não ser que você os construa e filme-os. É isso que considero o mais importante em relação aos filmes.
Eu apenas gosto de entrar em mundos estranhos”. (David Lynch)

No filme ‘Uma história real’, (1999), título pouco conhecido do diretor David Lynch, aclamado por suas obras surrealistas em viés, não raro, mais excêntrico, e pelo clássico seriado Twin Peaks, conhecemos a história de Alvin Straight (Richard Farnsworth). Sexagenário de saúde frágil, a despeito de sua obstinação ferrenha, que vive com sua filha Rose (Sissy Spacek), em Laurens, Iowa. Logo no início do filme, percebemos as dificuldades diárias que o núcleo familiar enfrenta, em que pese sua comovente sensibilidade e harmonia, inclusive em relação à comunidade. Querido pelos amigos e vizinhos, é um típico old school man, que aceita com resiliência seu destino iminente.

A partir da notícia de que seu irmão com quem não falava há vários, havia sofrido um derrame, o debilitado idoso decide partir para um reencontro fraternal, de forma ao mesmo tempo impulsiva e resoluta. Como não possui condições de dirigir um carro, decide cruzar uma longa viagem entre estados, deslocando-se em um cortador de grama motorizado. A ideia que parece num primeiro momento tão surreal como os filmes comumente dirigidos por Lynch, revela-se um feito a curtos e vagarosos passos, mas com determinação de gigante. No caminho, Alvin contrapõe as vicissitudes mais simples e as mais incisivas, conversa com outras pessoas da terceira idade e jovens em busca de ensinamentos. A partir de sua experiência, pratica boas ações e, algumas vezes, é destinatário delas, seja por um novo modo de olhar o mundo, seja pela reafirmação de suas imutáveis mazelas.

Uma interpretação forte, qualificada como uma das melhores da carreira de Farnsworth, já doente à época, inclusive, em estado terminal, ele se mataria poucos meses após completar a finalização do filme. Entre um trecho e outro de sua jornada, Alvin interage com diferentes tipos de pessoas, ao passo que uma família se compadece com sua perseverança e oferece-lhe ajuda; no entanto, como que numa missão autoimposta, segue caminho em seu veículo rudimentar, talvez, inconscientemente buscando expiação, não apenas de seu relacionamento turbulento com o irmão, agora enfermo, mas consigo próprio diante de decisões miradas em retrospecto.

Próximo ao final da película, em uma sensível cena num bar, apesar de o valente protagonista não mais consumir álcool, o veterano de guerra partilha um  momento traumático de suas incursões militares a um desconhecido, novamente, sinalizando, ou nos propiciando, uma visão de que mesmo seguindo em frente, a vida lhe foi dura, e ainda o é. O comovente desfecho, minimalista, aliás, como todo o filme, evoca na sensibilidade e empatia com o espectador – afinal, trata-se da história de um homem comum – os traços de uma produção forte e representante da forma mais pura de cinema. 

Desde clássicos contemporâneos como ‘O Homem Elefante’, ‘Veludo Azul’, ‘Duna’ e ‘Império dos Sonhos’, populares na filmografia de David Lynch, recentemente falecido, com ‘Um História Real’, (The Straight Story), de fato baseado em um caso verídico ocorrido em 1994, deparamo-nos com a versatilidade de um grande realizador, que brinda os fãs da sétima arte com um singelo e ao mesmo tempo poderoso road movie. 

O drama humano parece, e reiteramos, apenas parece, perdido em meio ao surrealismo característica do diretor, em sua grande maioria incutido nas tramas policiais ou neo noir. No entanto, esse ‘olhar’  está sempre presente; para quem tem olhos para ver e sentimentos para apreciar.

Marcus Hemerly

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