Ella Dominici: ‘Poema Alento da morada materna’


às 06:22 PM
A morada materna não tem paredes — tem pulsos.
Não se entra por portas, mas por respiros.
Lá, o tempo é um leite que ainda nutre,
e cada ausência se amacia na palma de uma presença antiga.
Quem ali repousa não se esquece mais de si.
Pois se reencontra no calor do primeiro nome,
aquele nome que só as águas profundas sabem dizer.
A terra que embala esse abrigo não é seca nem firme —
é úmida de eternidade, fértil de presságios.
Dela brotam memórias com cheiro de jasmim e chão molhado,
palavras não ditas que ainda assim embalam o ser
como se fosse sempre criança, ainda que velho de dores.
E quando o mundo lá fora grita, fere, apressa —
é para dentro que o filho retorna.
Como quem se encosta no colo do sagrado,
com o ouvido colado à pele do universo,
ouvindo o coração que o gestou.
Há silêncio nessa casa —
mas é um silêncio que canta.
Ali, o grotesco se curva diante do mistério
e o sublime dança com os pés sujos de barro,
como quem celebra a única verdade:
o amor que não cobra presença, porque é presença.
Aquele que não fala de si, mas pulsa em tudo.
Ella Dominici
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Natural de São Paulo (SP), é endodontista por profissão e formada no curso superior de Língua e literatura francesa. Uma profissional que optou por uma ciência da área da saúde, mas que desde a infância se mostrava questionadora e talentosa na Arte da Escrita, suscitando da parte de um mestre visionário a afirmação de ela ser uma escritora nata, que deveria valorizar o dom que recebera. Atendendo ao conselho recebido, na maturidade Ella cumpre o vaticínio e lança o primeiro livro solo de poemas (Mar Germinal), rompendo com a escrita meramente contemplativa, abraçando fragmentos, incertezas e dualidades para escancarar oportunidades a si como ao outro. Dribla o autoritário tempo, flagra mazelas psicológicas em minúsculas e múltiplas impressões exteriores e internas. É membro da AMCL – Academia Mundial de Cultura e Acadêmica Internacional da FEBACLA. Coautora de várias antologias. Publica na Revista Internacional The Bard e se inscreveu no 8º Festival de Poetas de Lisboa, participando da antologia promovida pelo evento


Ella, seus dedos no teclado são pincéis; as palavras, as tintas; a tela do computador, a tela e o cavalete. E sua sensibilidade, a apoteose da emoção!
Gratidão ao querido e ilustre amigo editor Sérgio Diniz, pelo esmero em nossas publicações!
Saúde e felicidades à sua mamãe!
Belíssimo poema! Rico em imagens e fugindo totalmente do lugar-comum desse tipo de celebração. Parabéns! Poema para se guardar.
Gratidão por seu olhar, Poeta Tanussi !
Ella, seus dedos no teclado são pincéis; as palavras, as tintas; a tela do computador, a tela e o cavalete. E sua sensibilidade, a apoteose da emoção!
Que lindo comentário, gratidão!