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A febre reborn

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PSICANÁLISE E COTIDIANO

Bruna Rosalem: Artigo ‘A febre reborn’

Bruna Rosalem
Bruna Rosalem
Bebês reborn
Imagem criada por IA do Bing – 15 de maio de 2025,
às 23:45 PM

“A vida é uma grande ilusão! Só sei que ela está com a razão!”
Vinícius de Moraes

Consultas médicas, guarda compartilhada, encontros de mães de bebês reborn para compartilhar experiências de maternagem, festas de aniversário, vídeos ‘instagramáveis’ contando a rotina de cuidados dessas mães um tanto diferentes que optaram por comprar seus filhos numa loja. À primeira vista, parece ser algo relacionado a colecionismo, como carros ou personagens de filmes, séries, videogames, entre outros, porém o que estamos acompanhando, principalmente nas redes sociais, é uma expressiva mudança de comportamento no relacionamento das pessoas com estes objetos.

É possível que esta prática esteja indo além de simples colecionismo ou passatempo, gerando estranhamentos e certas polêmicas. Não é de hoje que os bebês hiper-realistas existem, porém, tempos atrás, ter um boneco ou boneca deste tipo era mais voltado ao público infantil, além do custo alto, o item não era de tão fácil acesso.

Atualmente, mulheres são as principais consumidoras dos bebês que passam a cuidar da criança como se fosse um verdadeiro filho: trocam fralda, dão banho, o alimentam com as mamadeiras cuidadosamente preparadas, organizam um quarto especial com roupas, acessórios, brinquedos, cama, o levam à consulta médica para checar sua saúde, pesagem. Também há passeios pelas ruas, levam o bebê ao parque, ao supermercado, enfim, criam uma rotina diária semelhante a de uma criança humana, viva, de verdade.

A questão disso tudo é: até que ponto um inofensivo passatempo pode extrapolar para uma prática
defendida como realidade?

O interessante é pensar o quão solitária é a relação entre a mãe e o bebê de silicone, que incapaz de
emitir qualquer tipo de som, nem um mero gemido, ou um movimento sequer, jaz num silêncio profundo.

Sem contar com aquele olhar paralisado, morto, sem vida, opaco. Imagine esta situação em um quarto
decorado, o quão ensurdecedor pode ser a ausência de um choro, de um mexer de pernas e braços, de um brincar com móbiles e ursos de pelúcia. A mulher que embala a criança é a única voz ativa da relação. A mesma que faz perguntas ao bebê, responde.

Neste meandro, há questões pertinentes a serem levantadas: os bebês falsamente enrugados seriam
bonecos de apoio para questões emocionais destas mulheres ou são alavancas midiáticas para chamar a
atenção das pessoas como mais uma mera prática ‘viralizável’, dentre tantas que já existem, com o
objetivo de lucrar e se tornar uma figura famosa? Seria o mais do mesmo ou realmente um movimento de mulheres que buscam novas roupagens para a maternidade? Ou para o que é ser mãe?

A discussão tem tomado vários espaços na sociedade e recentemente vereadores do Rio de Janeiro
aprovaram um projeto de lei que institui o ‘Dia da Cegonha Reborn’, que segue aguardando sanção da
prefeitura. Já em Minas Gerais, cogita-se um projeto de lei proibindo o atendimento de bebês reborn no
sistema único de saúde, o SUS.

Nas ruas, a polêmica continua quando as mães dos bebês de silicone decidem passear com suas
crias em carrinhos ou segurando-os no colo. Muitas mulheres alegam serem chamadas de loucas ou
desocupadas. Outras, gostam mesmo é da atenção que recebem e aproveitam para divulgar a ‘arte reborn’.

Fato é que, uma coisa é cuidar do bebê como algo prazeroso que remete a um lazer, uma forma de
distração, de passar o tempo, ou ainda, o próprio ato de colecionar os bonecos que têm preços elevados, pois são confeccionados sob encomenda, feitos um a um pelas chamadas ‘cegonhas’, as artesãs responsáveis pela fabricação. Outra coisa diametralmente diferente é acreditar que o bebê é real, com demandas de cuidados reais, assim como um ser vivo. Seria então o caso da família buscar ajuda profissional quando a relação ultrapassa o ‘faz de conta’.

Antes de formar opinião e nos alarmar com as notícias, cabe escutar e analisar cada caso. Afinal,
fantasiar é algo bem saudável e faz parte de nossa capacidade imaginativa. Já, ir, além disso, poderia ser
um sinal de alerta.

De todo modo, são realidades muito diferentes que nos evoca à reflexão para a escuta destes novos
sintomas e maneiras de ser e estar no mundo contemporâneo. Estranho ou não, fica aberto o convite ao
debate.


Bruna Rosalem

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