Renata Barcellos
‘Reflexões sobre a definição de Literatura’


A literatura (do latim littera, que significa ‘letra’) é uma das manifestações artísticas do ser humano, assim como a música, a dança, o teatro, a escultura, dentre outras. Ela é objeto de estudo de vários pesquisadores e teóricos no sentido de definir o que pode representar. E, nas últimas semanas, está no centro das discussões por causa de considerações divergentes sobre o que abrange esta área do conhecimento.
A princípio, é um termo abrangente. Muitos entendem tudo sendo literatura. Dessa forma, como classificar os textos diversos: literário e não-literário? Há de se mencionar o impasse de conceitos norteadores da literatura: os termos ficção e invenção. Ficção refere-se a narrativas, obras artísticas ou criações da imaginação humana, que não são baseadas em factos reais ou na realidade. Pode manifestar-se em diversos meios, como livros, filmes, séries de televisão, peças de teatro e videojogos. Exemplos comuns incluem a ficção científica (ao explorar conceitos científicos e tecnológicos) e outros géneros como o romance, o suspense e a fantasia. Vale dizer que a literatura é composta de ficção.
Se, por um lado, o romance é invenção (para Calvino: inventar em literatura é redescobrir palavras e histórias deixadas de lado pela memória coletiva e individual); por outro lado, a poesia é fingimento: “o poeta é um fingidor” (o verso inicial do poema ‘Autopsicografia’ de Fernando Pessoa). Nesse sentido, ‘literar’ é dar asas a imaginação. Permitir que a imaginação aflore para belos textos redigir.
A partir dos dicionários e dos estudos de diversos pesquisadores, há várias definições do que pode ser esta manifestação artística. Mas, ainda assim, permanece no âmago das discussões o conceito de ‘literário’. E percebe-se definir como um conceito técnico e objetivo seria impossível em virtude da complexidade da literatura.
Os textos literários possuem uma função muito importante para o ser humano, de forma que provocam sensações e produzem efeitos estéticos os quais nos fazem entender melhor nós mesmos, nossas ações, bem como a sociedade na qual vivemos. Ela possui um importante papel social e cultural envolvido no contexto no qual foi elaborada, posto que abarca diversos aspectos de determinada sociedade, dos homens e de suas ações. Portanto, provoca sensações e reflexões no leitor.
Como se pode constatar que conceituar ‘literatura’ compreende uma tarefa árdua e de definições subjetivas, visto que não há consenso entre as correntes literárias e os críticos que se propõem a conceituá-la. Algumas muito divergentes entre si, assim, surgindo dissonâncias quanto a conceituação. Vejamos abaixo algumas definições:
“A Literatura é mimese, é a arte que imita pela palavra” (Aristóteles-IV a. C).
“A literatura é a expressão da sociedade, assim como a palavra é a expressão do homem” (Louis de Bonald, XIX).
“Os poetas sentem as palavras ou frases como coisas e não sinais, e sua obra como um fim e não como meio, como uma arma de combate” (Sartre-XX).
“Literatura é uma questão centralizada em aspectos textuais e de linguagem, minimizando fatores extratextuais” (Souza, 2005).
“Literatura é um sistema composto pela tríade: obra, autor, leitor de dada época histórica” (Candido, 2006).
“Literatura é a expressão de conteúdos ficcionais, por meio da escrita” (Moisés, 2007);
Para os Formalistas Jackobson e Tinianov, a Literatura é a linguagem que chama sobre si mesma. Apesar da visão formalista se prender a forma e a estrutura e não ao conteúdo, esse conceito é bem atual. Para os Formalistas, a literatura estava nas facetas usadas pelo autor na montagem da obra. Com o passar do tempo, outras percepções como a da literatura como forma e conteúdo.
Vale destacar a percepção de Boff: “Cada um ler com os olhos que tem”. Por isso, a Literatura é o que representa para cada um, um fio condutor entre autor, texto e leitor. O fazer literário é proporcionar ao leitor, ao navegar pelas páginas, experimentar espantosa e prazerosamente a viagem pelas entrelinhas nos textos.
Sendo assim, de acordo com Maria do Socorro Pereira de Almeida (professora da CESVASF), a Literatura é “a vida e a energia das letras colocadas lado a lado, é ela que dá alma ao corpo do texto. Ela não é força que domina, mas a energia que anima, é o grito que chama, evoca, é a fonte do saber que nunca termina”.
A arte literária representa recriações da realidade produzidas de maneira artística, ou seja, que possui um valor estético, donde o autor utiliza das palavras em seu sentido conotativo (figurado) para oferecer maior expressividade, subjetividade e sentimentos ao texto.
Conforme o esquema proposto por Aristóteles, os gêneros literários eram divididos em:
Gênero Lírico (“palavra cantada”): possui um caráter sentimental com presença do eu lírico, por exemplo: poesias, odes e sonetos.
Gênero Épico (“palavra narrada”): possui um caráter narrativo, ou seja, envolve narrador, personagens, tempo e espaço, como: romances, contos e novelas.
Gênero Dramático (“palavra representada”): possui um caráter teatral, ou seja, são textos para serem encenados. Exemplo: tragédia, comédia e farsa.
Concluímos com a definição de alguns estudiosos:
Claudio Daniel (poeta, romancista, crítico literário e professor de literatura. Nasceu em 1962, na cidade de São Paulo (SP). Cursou o mestrado e o doutorado em Literatura Portuguesa na Universidade de São Paulo (USP). Realizou o pós-doutoramento em Teoria Literária pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi diretor adjunto da Casa das Rosas, Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, curador de Literatura no Centro Cultural São Paulo, colunista da revista CULT e editor da Grou Cultura e Arte.
Atualmente, Claudio Daniel ministra aulas online de criação literária no Laboratório de Criação Poética. Publicou diversos livros de poesia, ensaio e ficção, entre eles Cadernos bestiais: breviário da tragédia brasileira, Portão 7, Marabô Obatalá, Sete olhos & outros poemas e Dialeto açafrão (sob a lua de Gaza):
“Ezra Pound dizia que literatura é linguagem carregada de significado, e que grande literatura é linguagem carregada de significado até o máximo grau. Isso significa que a literatura tem duas camadas de leitura, uma referencial, a outra estética. A literatura brasileira atual, como assinalou a grande professora Aurora Bernardini, subordinou o estético ao referencial, por uma questāo de mercado e de marketing. Deixou de fazer arte para produzir mercadorias, que fazem sucesso na mídia e nas feiras literárias, mas fracassam enquanto arte. Felizmente, temos ainda grandes escritores vivos, como Raduan Nassar, Milton Hatoum, Ignácio de Loyola Brandāo e poucos mais”.
EURICO NACHIOCOLA CARMONA (Mestrando em Literaturas em Língua Portuguesa, colunista no Jornal O Pais, desde 2020, membro do Movimento Litteragris e do Círculo de Estudos Literários e Linguísticos Litteragris. Docente na Escola Superior Pedagógica do Bié e Editor-chefe na Ondaka Yetu Editora):
“A literatura é um campo de abordagem filosófica, onde a imaginação do artista vai além do óbvio, ele destrói, constrói e reconstrói mundos de sentidos, que sugerem diferentes perspectivas aplicáveis na sociedade, política, cultura e na religião”.
E para você, leitor, o que é esta manifestação artística?
Renata Barcellos
- Educação fim de linha - 2 de dezembro de 2025
- Textos literários no Enem 2025 - 24 de novembro de 2025
- Projeto Com a palavra o autor - 14 de novembro de 2025
Natural do Rio de Janeiro (RJ), é pós-doutora em Língua Portuguesa e em Literatura Brasileira pela UFRJ e professora da Educação Básica à Superior. É membro de diversos sodalícios: APALA, ALAP, AJEB RJ, SCLB MA, AMT, AOL, ABRASCI, ABRAMIL, Pen Clube; membro correspondente do Instituto Geográfico de Maranhão, da Academia Maranhense de Letras e da Academia Vianense de Letras. Membro dos grupos de pesquisa GELMA e do Formas e Poética do Contemporâneo – ForPOC (CNPq/ UFMA/ CCEL). Âncora do Programa Pauta Nossa na Mundial News e fundadora do Barcellartes. Escreve matérias e entrevistas para o saite Facetubes, para o Jornal Terra da Gente e A voz do Escriba e para revistas como 7 Literário News, LiterArte SP, Revista Sarau e Voo livre.

