José Ngola Carlos: ‘A mania de sermos todos doutores!


“A mania de nos chamarmos doutores e doutoras sem o sermos é um luxo barato,”
Em Angola, a realidade acadêmica que vivo, conheço e que, portanto, tenho direito de dizer uma palavra, o título Doutor ganhou uma tal proliferação que, não tarda, a sua utilização se tornará prolixa, enfadonha e/ou fastidiosa. Em meio a ter que chamar a todo mundo de Doutor, uns, nem mesmo medem as palavras e, saem a dizer: ´Dotor´ e ´Doctor´ como se de Português também se tratasse.
Este artigo, como é possível inferir, é uma crítica à esta mania de quem quer a todos agradar, deixando de reconhecer a real condição da pessoa com quem fala, atribuindo-a nomes que lisonjeiam e inflamam o ego de quem nada fez para merecer a honra que se deve ao título.
Na academia existem graduações, e estas graduações ou níveis, encontram-se dispostos de forma hierárquica. A nossa legislação, a angolana, prevê, dentre outros, os seguintes níveis:
- Técnico Médio
- Licenciado/a
- Mestre e
- Doutor/a
Como é possível ver, todos eles não são doutores. O título de Doutor é a mais alta consagração atribuída àqueles e àquelas que, com muito esforço, dedicação, comprometimento e amor ao saber, terminam com êxito o programa de doutoramento por uma universidade. Ser doutor não é um título gratuito, requer competências e responsabilidades.
Este artigo, além de ser uma crítica à iniciativa de chamar gratuitamente a todo mundo de Doutor, o que tende a banalizar o próprio título e, consequentemente, desmerecer quem o conseguiu com muitos sacrifícios que envolvem tempo, esforço, dinheiro, desgaste emocional, etc., aproveita-se aqui fazer uma homenagem calorosa a todos que de fato o são, seja por se ter cursado um programa de doutoramento ou mediante a atribuição por causas honoríficas. Está de parabéns, Doutor! Está de parabéns, Doutora!
Já agora, você que é Técnico Médio, saiba que você não é Doutor. O Licenciado e a Licenciada não são doutores. O Mestre não é Doutor e não há desonra nisto. Podemos ser técnicos médios assumidos com honra porque dominamos a especialidade na qual nos formamos. Podemos ser licenciados e mestres com orgulho de sê-lo porque adquirimos as competências durante a formação que nos identificam como tais. Não há vergonha em não sermos doutores. Vergonhoso é chamar a quem não é doutor, doutor, só para inflá-lo o ego. Vergonhoso é aceitar ser chamado doutor sem sê-lo!
A mania de nos chamarmos doutores e doutoras sem o sermos é um luxo barato que, apenas inflama de forma muito barata o ego de quem não o é e, aos poucos, vai banalizando o título e as pessoas que com muita honra o conseguiram e o merecem!
José Ngola Carlos
Malanje, 24 de Outubro de 2025
Como citar este artigo:
Carlos, J. N. (2025:10). A Mania de Sermos Todos Doutores! Brasil: Jornal Cultural – ROL.
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Natural de Luanda (Angola) e morando atualmente em Malanje (Angola), mais conhecido no meio literário como Kamuenho Ngululia, é Doutorando em Educação na especialidade de Avaliação de Centros e Professores pela Universidade Internacional Ibero-americana (UNINI), Mestre em Educação na especialidade de Organização e Gestão de Centros Educacionais pela Universidade Europeia do Atlântico (UNEATLÂNTICO), Licenciado em Língua e Literaturas em Língua Inglesa pela Universidade António Agostinho Neto (UAN) e Professor de Língua Inglesa no Liceu 42 – 4 de Janeiro, Malanje.


Concordo plenamente com seu argumento, mas agradeceria que olhasse também para os médicos. Eles naturalmente são chamados de Doutores. O tem a dizer?