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Sonyah Moreira: 'O ócio criativo'

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Sonyah Moreira: ‘O ócio criativo’

 

Quando nos referimos à palavra ‘ócio’, que imagem nos vem à mente? Preguiça, certamente!A propósito, segundo definição léxica, o termo ócio tem por sinônimos ‘desocupação’ e ‘inação’.

Mas será que essa é a imagem que sempre povoou o imaginário da humanidade? A História nos diz o contrário; na Antiguidade, mais especificamente na Grécia, o ócio era cultuado por grandes pensadores.

Entre os antigos gregos, o trabalho, numa visão totalmente oposta à do mundo atual, era tido como a expressão da miséria humana e, desta forma, desprezado. Para Aristóteles e Platão o trabalho estava ligado com o campo da necessidade, como, por exemplo, alimentar-se e cobrir-se.

Já em relação à sociedade pós-industrial, o cientista e sociólogo italiano Domenico De Masi, em seu aclamado livro ‘O Ócio Criativo’, introduz um conceito revolucionário em relação ao trabalho, enaltecendo-o, porém promovendo uma estruturação das atividades humanas, por meio da combinação equilibrada de trabalho, estudo e lazer.

Não restam dúvidas sobre o pensamento de De Masi. Aliás, ainda segundo o dicionário, como outros sinônimos de ócio temos ‘descanso’, repouso’. E, num sentido figurado, ‘trabalho leve, agradável.

E é em momentos agradáveis, descontraídos, ou numa linguagem dos jovens: ‘numa boa!’ que surgemas grandes ideias.

O fato é que, no mundo da altíssima velocidade das atividades humanas, estamos no limiar de agirmos caracteristicamente como autômatos, robôs, simples máquinas!

Já faz muito tempo que deixamos de parar e observar os detalhes que dizem respeito à natureza que nos cerca e, em especial, a outros seres humanos.

Cada dia que passa torna-se imperioso e urgente nos colocarmosno lugar dos nossos semelhantes; ouvirmos o que os outros falam e, mais do que isso, perceber, empaticamente, o que sentem!É inadiável voltarmos a divagar em pensamentos, florear um pouco, sonhar! E, por que não, como também dizem os jovens, até mesmo‘viajar na maionese’!

Faça um teste, caro leitor, sentado no banco de uma praça, ou aguardando o atendimento em um consultórioeaproveite o ócio para praticar… A ociosidade!

Comece a observar ao seu redor, analisar, prestar atenção aos detalhesaparentemente mais insignificantes e você se surpreenderá com as ideias que surgirão; eperceber coisas que antes nunca havia percebido, simplesmente vendo-as por outro ângulo.

Será que não está faltando um pouco de ociosidade em nossas vidas? Correr menos, conversar mais, observar mais, tempo para perceber as pessoas à nossa volta, cada uma delas com seus dramas, suas alegrias, suas histórias.

Essa falta de pensar ociosamente está nos tornando robôse, consequentemente, sem sentimentos, indiferentes aos problemas alheios. Meras máquinas, trabalhando desumanamente.

E aqui, é impossível deixarmos de lembrar o clássico de Hollywood ‘TEMPOS MODERNOS’, de 1936, no qual Charles Chaplininterpreta um funcionário da indústria moderna apertando parafusos em uma esteira rolante até que, metaforicamente, é engolido por ela.

Observando bem a cena, percebemos que ele não raciocina mais, não percebe a velocidade da máquina, apenas aperta automaticamente os parafusos. Será que esse gênio chamado Chaplin estava profetizando o futuro?

O dia a dia nos leva à afirmativa. Perceba amigo leitor, como as pessoas ouvem apenas uma parte do que você fala; perceba como elas estão ficando cada dia mais alienadas. Parece que não processam as informações devidamente. E um exemplo prático corrobora esta conclusão: quantas vezes um funcionário de um caixa de supermercado pergunta a você: ‘débito ou crédito’?

Hoje, em vez de apertarmos parafusos, digitamos, teclamos… Automaticamente!

Paremos, portanto, e nos entreguemos ao ócio criativo; ao ócio que nos faz racionarclaramente, levemente… E, acima de tudo, que faz com que nos sintamos verdadeiramente humanos, pois, como bem nos lembrou o mesmo Chaplin, no final de outro memorável filme*: “O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza… Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas!’

* O Grande Ditador

Sônyah Moreirasonyah.moreira@gmail.com

Helio Rubens
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