Celio Pezza: Crônica # 350 – Samadhi – parte 1
Samadhi pode ser traduzido como contemplação ou meditação profunda.
No yoga é a última etapa, quando se atinge a compreensão da existência e a comunhão com o universo.
Ele é muito importante agora, face aos problemas de nossa época.
Não temos ideia de quem somos, porque estamos nesse mundo e para onde vamos.
Vivemos no medo e no caos.
Esquecemos do Samadhi e nossa existência está focada no ego. Esse ego constrói formas nas quais você sempre precisa de mais alguma coisa; mais dinheiro, mais poder, mais amor, mais paz, mais de tudo.
Isso tudo faz parte da construção do ego, pois ela é só o impulso de repetir. Dessa forma, a maior parte dos humanos é como um rebanho de gado, que vive e morre em uma subjugação passiva, dentro de uma matriz de ilusões. Nós já nascemos dentro de uma estrutura biológica condicionada, sem auto despertar da consciência. Crescemos com uma máscara e desempenhamos papéis ao longo da vida; quando você desperta, você não acredita que é a máscara que está usando.
A mente pode estar ligada a uma armadilha para o consciente, uma prisão, mas, na verdade, não é que você esteja em uma prisão e sim que você é a prisão. Essa prisão é uma ilusão e se você se identifica com a ilusão, você está preso. Quando você luta contra a ilusão, você assume que ela é real e, portanto, você continua dormindo e lutando contra um sonho.
Samadhi é o despertar desse sonho, dessa prisão, dessa construção do ego. Despertar não é sair da matriz e sim não se identificar com ela, pois ela não existe.
O filósofo francês René Descartes ficou famoso pela frase “Penso, logo existo”. Essa frase aprisiona o mundo ocidental e ajuda na sua queda.
Já Buda, na cultura oriental, foi além da mente e do pensar. Ele foi buscar a verdade na meditação profunda, bem além da mente.
No filme Matrix existe uma civilização inserida em um programa de computador que cria nos humanos a ilusão de um mundo de sonhos e você vive dentro dele, só produzindo energia para as máquinas que criaram o programa.
A diferença é que as máquinas somos nós! Nós criamos desejos que nunca acabam pois não podem ser satisfeitos. Nós passamos a vida nessa prisão, construindo algo para amanhã e depois morremos. Quando você está na frente de um espelho, nunca vai mudar a imagem, pois ela é você. Você é a fonte. Se você não mudar, nada mudará.
Muitos dizem que para manter o mundo em paz precisamos combater os nossos inimigos, mas as lutas para a paz criam mais de tudo aquilo que queremos combater.
No mundo atual temos guerras contra o terrorismo, contra as doenças, contra a fome, contra tudo. Na verdade, qualquer guerra é contra nós mesmos, pois todas são de nossa criação.
Nós queremos o ar limpo mas continuamos a poluir e respirar venenos; nós procuramos pela cura do câncer, mas não mudamos os hábitos alimentares e continuamos a comer comida envenenada.
O mundo interno é onde essa revolução deve acontecer e somente quando sentirmos o mundo interno podemos vir para o externo.
Até lá, nada do que fizermos vai mudar o caos criado pela mente. Guerra e paz vão continuar juntas e nesse mundo de ilusões, uma não pode viver sem a outra, da mesma forma que a luz não vive sem a escuridão.
Qualquer solução que venha da mente e do ego, é dirigida pela ideia de que existe um problema e a solução se torna um problema cada vez maior.
Apesar dos melhores esforços o câncer e as guerras estão aumentando.
O que está errado na nossa abordagem?
Célio Pezza / Abril, 2017 Continua na parte 2
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.