Pedro Israel Novaes de Almeida
Todo brasileiro deveria experimentar a vereança, verdadeiro mestrado em natureza humana e brasilidade.
As pessoas, ricas ou pobres, estudadas ou semianalfabetas, não costumam ser livres. Existem sérios obstáculos, sociais e econômicos, inibidores da condição de não alinhado a grupos ou correntes políticas.
A primeira e infeliz constatação do vereador iniciante é que as discussões em plenário não são destinadas a convencimentos ou debate de ideias. A maioria comparece à sessão com posicionamento já firmado e imutável.
Reuniões anteriores, em presença de detentores de cargos executivos e velhas raposas políticas, promovem a filiação de vereadores a determinados posicionamentos e ideias. Como em tais reuniões não existem vozes dissonantes, os posicionamentos e ideias parecem lógicos e justos, e, sobretudo, confortáveis, por majoritários.
Tais reuniões conseguem o milagre de fazer com que vereadores, honestos na vida pessoal, acabem protegendo, em plenário, corrupções, ineficiências e malfeitos. O sentimento encorajador de pertencer a um grupo, em alguns casos quadrilha, costuma vir acompanhado da sensação de poder, na indicação de comissionados e pleitos de obras e providências públicas.
Em alguns municípios, existe a tentativa de promover a reunião entre todos os vereadores, no gabinete do prefeito, para análise de projetos que serão encaminhados ao legislativo. Tal reunião desprestigia e apequena a Câmara.
Firmada a domesticada a base de sustentação política, as Câmaras repetem, a cada sessão, o desfilar quase imutável de votos, contrários ou favoráveis.
Por vezes, as maiorias chegam ao absurdo de negar a aprovação de requerimentos de informações a respeito de gastos públicos. Em tais casos, o vereador pode valer-se da condição de munícipe, e solicitar informações diretamente à prefeitura, ou valer-se da própria Justiça, pois seu poder fiscalizador não depende da concordância do plenário.
É irritante ver vereadores mudarem o discurso em anos eleitorais, após 3 anos de fiel obediência ao Executivo, tentando transparecer uma imagem de independência, que jamais tiveram. Na vereança, o cidadão constata que não existem partidos organizados, pois é forçado à atuação solitária, sem respaldo jurídico ou administrativo.
A população costuma recorrer a vereadores, buscando providências típicas do poder Executivo, como obras e reparos. No imaginário popular, vereadores são seres poderosos. Enquanto o vereador situacionista consegue o favor de conseguir que seja tapado um buraco no asfalto, o oposicionista consegue capitalizar as insatisfações das dezenas de outros, não tapados.
Assim como os vereadores, deputados e senadores também formam legiões, favoráveis ou contrárias aos governos, e as discussões em plenário também não mudam opiniões. Os grandes debates políticos e administrativos são realizados fora do ambiente legislativo, amesquinhado pela dicotomia contra ou a favor. Um ou outro político pensante e honesto é aplaudido na tribuna, e sempre derrotado nas votações.
Não será agindo como atletas de times adversários que conseguiremos extirpar a corrupção, a ineficiência e os desmandos de nossa vida pública.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.