“Levava o inimigo morto nas costas,/ Sem remorsos e sem orgulho./ Os transeuntes pareciam não se importar,/ Cumprimentavam-no tirando os chapéus,/ – Bom dia, Jurandir./ – Bom dia, Seu Nino./ – Bom dia, Jurandir./ – Bom dia, Seu Zezo./ E seguia Jurandir com seu morto (…)”
TRANSIÇÕES
Levava o inimigo morto nas costas,
Sem remorsos e sem orgulho.
Os transeuntes pareciam não se importar,
Cumprimentavam-no tirando os chapéus,
– Bom dia, Jurandir.
– Bom dia, Seu Nino.
– Bom dia, Jurandir.
– Bom dia, Seu Zezo.
E seguia Jurandir com seu morto,
Haveria de cavar cova rasa, sem grande esforço,
Que virasse carniça pra urubu,
“Morreu porque quis o estorvado. Teimoso de uma mula!”
Mas, no final do caminho, havia um menino de braços abertos e riso corado.
E o menino era ele, Jurandir de Paula Solto.
Era ele menino.
Bonito como uma pera,
Forte e rijo.
Queres o morto? Perguntou Jurandir a si menino.
Não, o morto é teu.
Jurandir, homem, olhou-o confuso, admirado, admirando-o.
Jurandir, menino, olhou-o, pragmático, indiferente.
E partiu, dizendo, enquanto se distanciava de si homem,
O morto oto oto oto… é teu eu eu eu…
O morto oto oto oto… é teu eu eu eu…
O morto oto oto… é teu, eu eu…
O morto oto… é teu, eu…
O morto é teu.
O morto teu…
O morto eu…
O morto…
Eu…
Eu?
Tereza Du’Zai – terezaduzai@gmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024