DOCUMENTÁRIO SOBRE A PRISÃO DE CAETANO VELOSO LEMBRA UM INFERNO PELO QUAL EU PASSEI 3 MESES DEPOIS
Marcado para 2 a 12 de setembro próximos, o 77º Festival de Veneza apresentará em sua mostra não-competitiva (ou seja, sem concorrer ao Leão de Ouro e demais prêmios da seleção oficial) o documentário brasileiro Narciso em Férias, sobre a prisão de Caetano Veloso e Gilberto Gil duas semanas após a assinatura do Ato Institucional nº 5 e os 54 dias em que permaneceram encarcerados na PE da Vila Militar (RJ).
“Eu tinha de comer ali no chão mesmo. Isso durou uma semana, mas pareceu uma eternidade. Eu comecei a achar que a vida era aquilo ali. Só aquilo. E que a lembrança do apartamento, dos shows, da vida lá fora era uma espécie de sonho que eu tinha tido“.
Foi durante o cativeiro que ele viu as fotos inéditas do nosso planeta, tiradas do espaço e publicadas pela revista Manchete, que o inspiraram para compor Terra dez anos mais tarde.
E a lembrança das risadas da irmã mais nova lhe serviam de consolo, daí ter composto lá mesmo a pungente Irene.
Três meses depois foi a minha vez de passar por aquele quartel, talvez até na mesma solitária (eram três).
Irritava-me muito a jactância de um sargento, que fazia questão de repetir a toda hora que Caetano e Gil haviam chorado quando tiveram suas jubas raspadas a zero, ao passo que os militantes pelo menos mantinham uma compostura básica, na avaliação machista dele.
Não era esse o tipo de reconhecimento que eu queria do inimigo. E percebia muito bem que aquilo era demais para um civil, mesmo não tendo ele de passar pelas sessões de tortura a que nós éramos submetidos.
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