O velho normal
Há cerca de dois anos, com o início da pandemia de Covid-19 – que já ceifou a vida de seis milhões de pessoas em todo o planeta – a humanidade chegou a acreditar que os valores sociais seriam revistos e passaríamos a enaltecer a empatia, a solidariedade e a fraternidade entre os homens, em detrimento das tradicionais e das supérfluas concepções de vaidade, acumulação de bens materiais e poder. Ledo engano.
Em março de 2022, percebemos que nada mudou na sociedade. O mundo continua fragmentado, lutando-se, como sempre, por poder e dinheiro. Há poucos dias, a Rússia invadiu um país soberano e democrático, causando a fuga em massa de 1,5 milhão de refugiados ucranianos para nações vizinhas. O ser humano não mudou e não mudará. É da natureza de parte da espécie ter sido feita com “erros de construção”, como o colunista Gustavo Cabral, da seção ´Viver Bem`, do sítio eletrônico ´UOL`, publicou em 07/03/2022, data em que escrevo o presente artigo.
Outrossim, a violência contra mulheres, crianças e idosos, tragicamente, aumentou bastante nesse período, eis que essa parcela da população, historicamente mais vulnerável, viu-se presa com seus agressores. O agravamento do confinamento a que já vinha sendo submetida só exasperou a dificuldade de acesso à rede de proteções, como o apoio de familiares e amigos.
Por outro lado, a desigualdade aprofundou-se, revelando que o desemprego, a inflação, a miséria, a fome e a própria morte causada pelo terrível vírus atingiram, de forma mais acentuada, as camadas mais pobres da sociedade.
As pessoas continuam sofrendo com doenças mentais, como depressão e ansiedade, utilizam-se de redes sociais para manter contato apenas virtual com seus conhecidos, prosseguem egoístas, vaidosas, orgulhosas, consumistas, enfim, medíocres. Nunca a humanidade foi tão ´humana`.
Por fim, finalizo esta simples reflexão com uma frase bastante engenhosa do escritor italiano Lampedusa: “Algo deve mudar para que tudo continue como está”.
Patrícia Alvarenga
patydany@hotmail.com
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Natural do Rio de Janeiro/RJ, é escritora e poeta. Trabalha como Analista (área processual) do Ministério Público do estado do Rio de Janeiro. É Bacharel em Letras (UFRJ) e Direito (Uerj), pós-graduada em Educação (UFRJ). Dra.h.c. e Pesquisadora em Literatura. É autora do livro de poemas ‘Tatuagens da Alma – Entre Versos e Reflexões’, editora AIL, publicado neste ano, que foi escolhido como semifinalista do concurso ‘Livro do Ano 2021’, pela Literarte (o resultado do certame ainda não foi divulgado até a presente data). Participou do projeto ‘Parede dos Imortais’, na Casa dos Poetas, em Petrópolis-RJ, através da Associação Internacional de Escritores e Artistas. É coautora de, aproximadamente, 25 coletâneas. Detentora de prêmios literários, títulos e comendas, é também Embaixadora da Paz da Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos – OMDDH.
Membra vitalícia de seis academias literárias: ACILBRAS, FEBACLA, AIML, AIL, ALSPA (fundadora) e AILAP (fundadora). É ativista cultural nas redes sociais e participa de inúmeros saraus literários. Redes sociais:
Instagram: @patriciapoeticamente. Facebook: Patrícia Alvarenga