O mistério da velha
Esta história foi minha mãe quem me contou. Disse-me ela que, num bairro onde morou de aluguel, em Rio Branco, havia um casal com uns costumes muito estranhos.
A mulher muito alta, de aparência excêntrica: pernas muito finas, cabelo grande e muito ralo, vestida com roupas que mais pareciam trapos. O homem de estatura baixa, cabelos arruivados e mal cortados, sempre com cheiro de coisa ruim vindo das axilas. Ambos moravam juntos e poucas vezes saiam de casa. Eles eram alvo de curiosidade dos vizinhos que prestavam atenção em tudo que faziam.
Haviam boatos que eram parentes, mas não se sabia ao certo, tanto era a distância em que se mantinham das pessoas do lugar. As únicas palavras que as pessoas do bairro Quinze ouviam deles era um bom dia ou uma boa noite.
De vez em quando se ouvia um alarido vindo da casa do casal, junto com gritos e grunhidos estranhos de bicho, que não dava para saber de qual animal se tratava, semelhante a barulho de porcos.
Numa noite de lua cheia, o casal saiu de casa e logo um vizinho curioso o acompanhou.
– Irei, finalmente, descobrir o mistério do par estranho! – pensou o vizinho.
Lá pelas tantas da madrugada, depois do casal parar numa taberna e tomar uma meiota, voltou para casa mais bêbado que um gambá. De repente, um deles começou a grunhir que nem porco. A mulher, num susto, transformou-se numa porca grande e gorda e se danou a correr atrás do parceiro que corria mais que a porca, batendo o pé na bunda. Assim chegou ele primeiro em casa e, esbaforido, entrou, fechando a porta atrás de si, mais veloz que um raio.
A bicha ficou arrodeando a casa, na tentativa de entrar por alguma fresta até o amanhecer do dia. Quando cansou, deitou na soleira da porta e dormiu, desvirando-se em mulher, imediatamente.
O vizinho, que estava escondido atrás de uma árvore e acompanhava tudo, esbugalhou os olhos pensando ter tido uma alucinação e saiu correndo, quase voando, no rumo de casa.
Segundo minha mãe, um senhor muito antigo do lugar contara, pedindo segredo, que o casal era mãe e filho e que a mulher havia sido castigada com um feitiço por ter-se relacionado com o próprio filho.
Verdade ou não, contos do povo…
Maze Oliver
Membro fundador da SLA
Membro da AJEB – AC
Imortal da AAL
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Maze Oliver é escritora, blogueira e ativista cultural. Acreana de Rio Branco – Acre. Orientadora Educacional pós graduada pela Universidade Federal do Acre (UFAC). Psicanalista Clínica (CEHIFE). Primeira Presidente e Padroeira da Sociedade Literária Acreana (SLA), membra da Academia Nauta de Letras (ANL), Academia Internacional da União Cultural, Academia Acreana de Letras (AAL), Academia de Letras de São Pedro da Aldeia (ALSPA). Membra de outras associações, academias e vários grupos literários. Doutora H.C. em Literatura pela FEBACLA e Dama Comendadora na Soberana Ordem da COROA DE GOTLAND, entre outros títulos. Possui sete livros publicados, todos no Clube de Autores, na internet. É colaboradora do Internet Jornal e Jornal Cultural ROL, moderadora da Revista Virtual / Blog da SLA. Mais detalhes biográficos em sua página pessoal na Web – Blog da Maze.