Gastosas*
“Ana Maria passou a noite na companhia de um jovem que conhecera na noite anterior. Já entre amigas e referindo-se ao quanto conseguiu de seu petisco, defende-se:
– Lhe parti memu 40 pintos. Também nu pudia só mi durmi de favor! Sabe o quanto custa uma noite sem durmí!!
As amigas riram-se e, em seguida, Kyalanda responde: – Abateste o sordado com sucesso, mi irmã! Umas remadas, uns trocos para acalmar o espírito.
Sulayne e Tomásia, em uníssono, responderam: – REMÔ GASTÔ, GASTÔ REMÔ!
As quatro palavras soaram tão alto que chamaram a atenção de todos os presentes no bar, Joaquim, o barman do estabelecimento, aproxima-se a rir e pergunta à Ana Maria: – Assim memu estás feliz por causa da massa? Assim memu já é salário? Assim memu tás na moda?
O quê é que tens a ver com isso? Já serviste as bebidas. Vai só, moço, trabalha! – Interrompeu a Ana Maria.
- Nu é pru mali ué. Qui ti papô nu é o Orlando, dos óculos bem grande? Todo mundo aqui no bar já sabe. Nu tá nada li doer. Aquele kumbu ganhou no Angofoot. Apostô, ficha entrô, ganhô 150 pintos, foi se mimá contigo. Aquele wi memu bem podre te limpô?
– Perdeste mbora rede, minha Wi. Desceste assim?! – Concluiu a Kyalanda.
Sulayne defende: Não é bem assim. Manda lixá. Papoite ou kandengue, o que vale é kuno e massa. O kumbu não tem marcas da origem. Na hora do vamos vê, ninguém quer saber se é do povo, se é do kapolítico ou se é do Angofoot. Kyalanda, assim tás a simular comportamento pra quem? Nosso lema é remô, gastô; gastô, remô. Kunu e massa é que tá a batê. Jejum é na igreja. Freiras tão no com vento. Aqui fora, esfregar é esfregar.
Orlando, bafejado pela sorte, já tinha de novo ganho cinquenta pintos. Agora tinha tudo na mira a Kyalanda. O plano era fechar o cerco da staff das Best Kama, famosas pelo slogan. Kyalanda tina a fama de ser a mais seletiva, cara e exigente.
Já fizera muitas vítimas. Até policiais nada conseguiam. Entravam no centro de abate, ela acariciava-os, massageava-os, eles adormeciam e só acordavam no dia seguinte. Era uma verdadeira papa massa de caras. Orlando se propunha a inverter a o cenário em pleno 8 de Julho de 2022, as 11horas.
Continua…”
José Bembo Manuel
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Natural de Luanda (Angola), é licenciado em Ensino da Língua Portuguesa pela Escola Superior Pedagógica do Bengo (Angola) e docente Assistente Estagiário afeto ao Departamento de Letras Modernas da Escola Superior Pedagógica do Bengo. Membro do Conselho Editorial e Revisor Linguístico da ESP-Bengo Editora desde 2018 e revisor da RAEU – Revista Angolana de Extensão Universitária. Com as artes no sangue, é ator do Grupo Twana Teatro há 14 anos. Revisou a obra ‘Língua Portuguesa: subsídios para o seu ensino em Angola’, da autoria de Márcio Undolo (1ª edição, Editora ECO7, janeiro de 2019. Co-organizou o ‘Manual de Auxílio às Famílias de Crianças com Necessidades Educativas Especiais’ (1ª Edição, ESP-Bengo Editora, 2018).