Automedicação para curar gripe de verão
Estou há aproximadamente dois meses sem escrever uma crônica ou um conto, um poema qualquer, uma linha de haikai que seja. Resultado? Tornei-me um tipo de afirmação do que diz a professora Viviane Mosé: adoeci. Uma gripe tão forte como não sentida por mim a muito tempo. Corpo ruim, coriza abundante, cabeça dolorida, peito ardendo, um mal estar perturbador e uma vontade de escrever incontrolável. Envolvido em eventos de grande porte, não encontrei um tempo para criar um texto, uma poesia, ou algo que pudesse publicar e me orgulhar do que dei ao meu público. Talvez porque sejam tão poucas pessoas que nem repararam que não escrevi algo numa entressafra tão longa.
A poesia açudou dentro de mim, e eu adoeci. Acabrunhei-me por estar com essas palavras presas dentro de mim, e preciso urgentemente libertá-las, colocar à luz. Para curar-me dessa gripe e aumentar minha resistência física, meu sistema autoimune poético. Não preciso ir para a academia de esportes, posso ir para a academia de danças, para um bar com música ao vivo e deixar meu corpo relaxar ao som da música, transformar essas palavras, que estão presas em meu peito, em suor e deixar escorrer pelo meu corpo. Dançar e escrever, e desprenhar minhas palavras, e poetizar, e romancear, e curar meu corpo.
Talvez eu dance colado ao corpo de minha amada, numa dança mais ‘caliente’ e transporte meu cansaço para outro nível, fazendo minhas palavras doentes se tornarem palavras saúde. Causar em mim uma catarse, transformando os traumas reprimidos pela ansiedade dos eventos por vir, em uma purgação orgástica. Palavra sexo é melhor que palavra dor-de-cabeça, que é melhor que palavra doença, que é melhor que palavra catarro, que é melhor que palavra constipação. Usarei a receita da professora para me curar e tornar meu corpo saudável. Enfim, libertarei minhas palavras presas e me auto medicarei com o ‘poema sexo’, pois é melhor poetizar que se remediar.
Paulo Siuves
paulosiuves@yahoo.com.br
Revisão gramatical por Gabriela Scarpelli
gabriela.faria.letras@hotmail.com
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Natural de Contagem/MG, é escritor, poeta, músico e guarda municipal, atuando na Banda de Música da Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte como Flautista. É graduado em Estudos Literários pela Faculdade de Letras (FALE) da UFMG. Publicou os livros ‘O Oráculo de Greg Hobsbawn’ (2011), pela editora CBJE, e ‘Soneto e Canções’ (2020), pela Ramos Editora. Além desses, publicou contos e poemas em mais de cinquenta antologias no Brasil e no exterior.