Sob nova direção
No primeiro texto do ano trouxemos provocações e reflexões sobre o conflito e a forma como o enfrentamos, indicando a mediação como uma forma diferenciada para resolvê-lo. Agora, ampliamos nossa visão, rompendo com crenças limitantes e olhando para o futuro em busca de soluções adequadas às experiências conflitivas, porém, para que isso seja possível e viável, é fundamental ampliar nossos conceitos, sentindo e olhando, literalmente, os conflitos, com outros olhos.
Somos seres sensíveis, principalmente, às nossas dores e, diante do que entendemos ser uma agressão ao que queremos ou acreditamos, a reação, em regra, é agressiva e, a agressão gera um bloqueio da criatividade, obrigando-nos a ficar na defensiva ou partir para o ataque; raramente enxergamos o diálogo como opção.
Por que acontece tal reação? Porque a percepção do conflito é totalmente destrutiva, assim, a ação e/ou a reação vêm carregadas de emoções negativas: respiração ofegante, taquicardia, tensão muscular e transpiração.
Há bloqueio da escuta efetiva: cada um escuta, somente, o que quer e o silêncio é apenas para contra-atacar, ou seja, não se está, verdadeiramente, ouvindo. A fala fica dispersiva, e mesmo quando há foco, o assunto é repetitivo, desprovido de possibilidades de interação.
Todo o comportamento é permeado pela hostilidade, em gestos e palavras, culminando em descuido verbal (ofensas) e acessos de raiva, gerando uma espiral de sensações negativas, descontroladas. Resultado? Relacionamentos pessoais e profissionais rompidos, frustrações e um saldo social negativo: agressividade e violência permeando os contatos e impossibilitando a convivência harmoniosa.
Não se trata de negar o conflito, que é inerente ao ser humano, objetiva e subjetivamente, mas de buscar formas para administrá-lo ou superá-lo, valorizando o diálogo e a reciprocidade num exercício permanente de convivência saudável e pacífica, em que a colaboração e a cooperação prevaleçam.
Inegável que é um desafio hercúleo, principalmente, porque crescemos ouvindo e defendendo posicionamentos radicais, acreditando em máximas como “dou um boi para não entrar numa briga e uma boiada para não sair”, confirmando o quanto a ideia-ação-reação de ampliar a situação conflituosa é corriqueira e justifica posicionamentos agressivos e violentos, até mesmo desproporcionais.
Nosso objetivo, ao tratar do tema, em dosagens pequenas, mas de forma contínua, é oferecer reflexões permanentes, criando um repertório que permita mudanças, ainda que sutis e pontuais, na maneira como você percebe, sente, vê e reage diante do conflito. Aceita? Vamos em frente!
Adriana Rocha
adriana@lexmediare.com.br
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Advogada. Escritora. Pedagoga. Produtora pedagógica de conteúdo digital. Tutora em EAD. Mediadora judicial e privada. Instrutora em mediação pelo Conselho Nacional de Justiça. Presidenta da Comissão de Mediação da OAB de Itapetininga. Facilitadora em Justiça Restaurativa (Núcleo de Itapetininga). Facilitadora do Grupo de Trabalho de Câmaras Privadas da Comissão Especial de Soluções Consensuais de Conflitos da OAB/SP.