Paulo Siuves: Crônica ‘No silêncio da insônia’
São nas horas insones que os pensamentos ganham vida própria, dançando em meio às estrelas e sussurrando mistérios ao vento. As preocupações do dia se metamorfoseiam em reflexões profundas, e os anseios, em versos desenhados nas sombras do quarto.
Nessas horas íntimas e silenciosas, sinto-me conectado a uma presença divina, tendo o Criador presente em cada estrela do céu noturno, em cada sombra que se move ao meu redor. É nesse momento que minha alma se abre em prece, em uma oração sem palavras, apenas sentimentos e inquietações.
Peço ao Senhor do Universo que acalme as tempestades internas, que clareie os caminhos obscuros e que me inspire a seguir em frente com coragem e fé. Suplico por bênçãos sobre os meus entes queridos, para que sejam prósperos e protegidos em suas jornadas.
Na quietude da noite, encontro-me face a face com meus próprios medos e inseguranças, mas também com a força da fé que me permite enfrentá-los e superá-los. É exatamente, nesse momento, que eu pudesse mergulhar nas profundezas do meu ser e resgatar a sabedoria ancestral que repousa em minha alma.
A insônia torna-se uma aliada, uma dádiva disfarçada, que me permite entrar em comunhão com meu eu mais profundo e com meu Pai Divino. É um momento para me despir de máscaras e pretensões, para ser verdadeiro comigo mesmo, pois a noite não julga nem mascara a essência.
Nas asas da insônia, elevo meus pensamentos em gratidão pelo dia que se foi e pelos dias que virão. Agradeço pelas lições aprendidas, pelos sorrisos compartilhados e pelas lágrimas que me fazem perceber que sou humano. E rogo por serenidade para enfrentar o que a vida me reserva, sabendo que cada desafio é uma oportunidade de crescimento.
É, nessa dança entre o sono e a vigília, entre a sombra e a luz, entrego-me à insônia como a um mestre sábio, que me conduz pelas estradas ocultas da alma e me revela filosofias e segredos que apenas os olhos do coração podem enxergar.
Que cada noite insone seja uma prece, uma poesia da alma que ecoa no silêncio do Universo. E que, ao amanhecer, eu esteja pronto para receber o dia com gratidão, renovado pela circunspecção e pela sabedoria que a insônia sussurra em meus ouvidos.
E assim, com a alma lavada em inspiração, desfaço-me em sonhos, rendendo-me à espera do novo dia que se anuncia, sabendo que, em cada noite de insônia, o Criador sussurra o Seu amor em meu coração.
Que assim seja.
Paulo Siuves
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Natural de Contagem/MG, é escritor, poeta, músico e guarda municipal, atuando na Banda de Música da Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte como Flautista. É graduado em Estudos Literários pela Faculdade de Letras (FALE) da UFMG. Publicou os livros ‘O Oráculo de Greg Hobsbawn’ (2011), pela editora CBJE, e ‘Soneto e Canções’ (2020), pela Ramos Editora. Além desses, publicou contos e poemas em mais de cinquenta antologias no Brasil e no exterior.