Ella Dominici: Poema ‘Alma maior que homem’
o dia em que tudo do humano
é menor que o homem
a alma desarma o eu
o ventre já não é seu
o pensamento
descola da saga
de nada se embriaga
insustentável o corpo
peso, tamanho, contorno
o arcabouço surge fragilizado
o supérfluo é sopro
conteúdo valor transbordante
ideal já fala baixo
razões ressonam pelo outro
a qualquer instante deborda
em forma de livres momentos
no alcance possível do inatingível
desejos são rosas parcas
vontades já diminutas
flores-valores desabrocham
consciência do amor traz marcas
caridades infinitas
em sorrisos resolutos
de se oferecer condoer doar
a leveza do ser é pluma
consistente macia cheirosa
a toda criatura
alma que habita o homem
é pura e inspira
virtudes que superam as brumas
do humano
o invisível se tange com a alma
na canção que sempre se quis ouvir
sonoridade infinita da paz
Tal lírios do campo…
olhai os lírios do campo, como eles crescem
não trabalham nem fiam
nem o mais rico e mais sábio,
o que tem mais bens
hábeis poderes,
podem superar o desafio
de se vestir e ornamentar seu campo,
assim, tão gentilmente singelem
somos lírios brancos no campo da poesia
lírio é ao poeta delírio
bem cuidados resvalando no outro
paixão leve em amor-sintonia
haja vento umidade sol suave
aos sensíveis lírios da vida
que profetizam harmonia
na providência de cada dia
em cada flor sinto o beijo perfumado
são crianças cirandando cachos voam
lado a lado vento entoa celestes canções
ânimo louro esvoaçante é calmante
gotas de orvalho que tecem grinalda num lírio
entregam a jóia da coroa aos filhos irmanados
Lírios, corações da paz!
Ella Dominici
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Natural de São Paulo (SP), é endodontista por profissão e formada no curso superior de Língua e literatura francesa. Uma profissional que optou por uma ciência da área da saúde, mas que desde a infância se mostrava questionadora e talentosa na Arte da Escrita, suscitando da parte de um mestre visionário a afirmação de ela ser uma escritora nata, que deveria valorizar o dom que recebera. Atendendo ao conselho recebido, na maturidade Ella cumpre o vaticínio e lança o primeiro livro solo de poemas (Mar Germinal), rompendo com a escrita meramente contemplativa, abraçando fragmentos, incertezas e dualidades para escancarar oportunidades a si como ao outro. Dribla o autoritário tempo, flagra mazelas psicológicas em minúsculas e múltiplas impressões exteriores e internas. É membro da AMCL – Academia Mundial de Cultura e Acadêmica Internacional da FEBACLA. Coautora de várias antologias. Publica na Revista Internacional The Bard e se inscreveu no 8º Festival de Poetas de Lisboa, participando da antologia promovida pelo evento